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Dr. Jivago e os irmãos Osmar e Oscar Xerife
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Jornalista, compositor, escritor, humorista, cantor e pesquisador da cultura popular. Escreveu várias composições em parceria com Falcão. É autor do livro

Tarcísio Matos arte e cultura

Dr. Jivago e os irmãos Osmar e Oscar Xerife

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Tipo Crônica

Morador do Cauípe, em Caucaia ("no beiço do rio" o barraco dele), o primo Zé Legal era jardineiro de um famoso juiz em Fortaleza. Corria o ano de 1965. Notavelmente curioso e alegremente palrador, absorto, ouvia do patrão — eminente cinéfilo — as maravilhas das produções hollywoodianas. Doutor Jivago era o filme mais apreciado. Só no Diogo, viu três vezes a película que narra a vida do médico e poeta russo e seu amor por Lara.

- Deve ser muito ótimo demais o filme! — entusiasmava-se o Zé, aguando e bodejando.

- Se é!!! Um monstro esse Omar Sharif!

- Quem, doutor? — perguntou Zé.

- Omar Sharif, o grande ator egípcio! Um espetáculo!

Passou o tempo, e o nome daquele que fora indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante por Lawrence da Arábia não largava o juízo de Zé Legal. Foi quando, no finalzinho de 65, nasceram-lhe filhos gêmeos. A mulher, Eli, ainda não tinha com que nomeá-los no batizado. O fiel jardineiro, dos diálogos instrutivos com o amigo juiz aficionado da sétima arte, teve uma ideia cinematográfica:

- O mais cabeludinho é o Oscar! O branquinho, das urêa grande, é o Osmar Xerife!

Um velório sem de cujus

E o velho João Caboge, mais pra lá do que pra cá, chama o primogênito para uma conversa e lança uma profecia. Pegando já na destra de São Pedro, verberou para Joãozinho:

- Filho meu! Tu serás chamado a 100 enterros, d'ora por diante - contando com o meu. Desses, o centésimo será o teu.

O jovem, com tenros 19 anos então - nada apegado a velórios, enterros e congêneres - nem bateu a pestana para as lúgubres predições paternas. Tão só, naquele instante, lamentou o quase passamento do pai, crendo que aquele seria o primeiro e último a que iria. Ocorre que os tais 100 enterros - faltou o velho Caboge explicar - seriam de pessoas quaisquer que morreriam, entre familiares e amigos, quer fosse ele ou não às exéquias. O jovem foi avisado em sonho, pelo pai finado, como era o leriado em verdade. Até que as preocupações com a morte lhe alcançam. Sentado na sala com a mãe, aos 22 anos agora, fez a contagem:

- Do ano passado pra cá morreram madrinha Lucinha, vovô Abel, Tonho Cabôco...

- ... Cumade Jardilina, Osório Cabeção, a beata Chiquita...

- Vixe, mãe! Para! Da morte de pai pra cá já foram-se 21...

- Falta muito ainda, filho — 79! Vá viver! Cace um trabalho, tenha uns cinco meninos...

Aos 42 anos, pleno de saúde e em forma, a contagem das mortes de que falara o genitor chega a 100. Joãozinho não quer partir, claro, nem se encontra doente a ponto de bater a caçoleta. Como acreditava piamente nas "adivinhações" do pai, fez um santinho e mandou entregar, em mão, a cada familiar e amigo, num raio de 10 quilômetros de casa:

"Não façam prece por minha alma que, de saudosa, não tem nada!

João Caboge Filho

5/10/1983

Não/morri/ainda

Fico por aqui, papai dessa vez errou. Não esqueço de quem amo na terra".

Saudade dos tempos da Emulsão Scott

Jair Moraes repassa uma informação urgente, de responsabilidade do amigo zabumbeiro Michael Jackson - um gênio das coisas: vitaminas, na casa de Michael, são agora cadastradas de acordo com a letra da fruta.

- Abacate e abacaxi, ricos em vitamina A; banana, rica em vitamina B; caju, vitamina C; macaúba, vitamina M... E por aí vai - rico em vitamina V.

Foto do Tarcísio Matos

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