
Antropóloga, pesquisadoras de culturas alimentares, doutoranda UFBA e Coordenadora de Cultura Alimentar e Pesquisa da Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco
Antropóloga, pesquisadoras de culturas alimentares, doutoranda UFBA e Coordenadora de Cultura Alimentar e Pesquisa da Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco
A partir da década de 1960, a Beira Mar começou a se tornar um pólo gastronômico, concentrando restaurantes como a Peixada do Expedito, a Peixada do Alfredo e a Peixada do Meio, especializados em pescados, característica da cultura alimentar do litoral cearense. Essa paisagem gastronômica fez parte da memória da cidade de Fortaleza, mas não é mais a mesma. Escutei pessoas saudosas sobre um tempo em que havia restaurantes espalhados pela cidade, como o Albertu's na Barra do Ceará e o clube BNB, que tinham uma boa peixada, convite para frequentar o lugar com o dia certo.
Restaurantes denominados de "Peixadas" geralmente tinham um cardápio à la carte com peixe à delícia, posta de peixe no molho de camarão, caldo de peixe, bolinha de peixe, entre muitas outras preparações clássicas e inovadoras, que não tiravam o protagonismo da peixada, a comida de uma panela só, feita de forma tradicional por pescadores embarcados. Tia Nilza, cozinheira reconhecida no Ceará, atenta que a posta de peixe cozida na "água grande" com batata, cebola, pimentão, leite de coco, cheiro verde e ovos feita pelos jangadeiros passou a fazer parte dos cardápios dos restaurantes.
O Ceará, terra da luz, tem os jangadeiros como parte importante na história da abolição da escravatura, devido a Greve dos Jangadeiros, em 1881, e na influência das nossas práticas alimentares. Conforme Mauro Gonçalves, responsável com sua família pela Peixada do Meio, "a peixada está para o jangadeiro, assim como a carne de sol está para o vaqueiro". Relembrou que até meados de 1990 compravam os pescados das embarcações artesanais que chegavam no Mucuripe, mas depois a demanda aumentou com o funcionamento de 3 turnos. A Peixada do Meio começou a abrir também nas madrugadas, recepcionando os clientes com o famoso e quente caldo de peixe.
Em Lima Campos, no Icó, a construção de um açude potencializou a piscicultura, promovendo as Peixadas de Lima Campos, tradicionais restaurantes que começaram com pratos feitos de tucunaré. Atualmente, servindo outras espécies, a peixada é formada de postas cozidas, filé frito e peixe inteiro frito, acompanhados de arroz branco, baião de dois, pirão e vinagrete. As Peixadas representam o sustento das famílias e a resiliência de um povo que transgrediu a seca com um símbolo da abundância de água.
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