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Comer e cozinhar são atos políticos
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Antropóloga, pesquisadora de culturas alimentares, doutoranda UFBA e Coordenadora de Cultura Alimentar e Pesquisa da Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco

Vanessa Moreira gastronomia

Comer e cozinhar são atos políticos

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Tipo Opinião
Câmara Cascudo já dizia: comer é 
um ato político, social e de valor afetivo. (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Câmara Cascudo já dizia: comer é um ato político, social e de valor afetivo.

Pensar sobre o que se come e o que se cozinha é um exercício de perceber ações consideradas naturais - para sobreviver - em atos políticos, que consideram os efeitos e as consequências das escolhas em relação à homogeneização da alimentação, à preservação das culturas alimentares, à saúde, à sustentabilidade do meio ambiente, à economia local. Mesmo quem não tem a chance de escolher o que comer e o que cozinhar, já tem definido o que pode ser alimento. No Ceará não é comum usar insetos, além da tanajura em algumas regiões, nas preparações da nossa rotina alimentar, porque não os reconhecemos como comida.

As escolhas referentes às práticas alimentares exigem que sejamos acionados por muitas instâncias, como acesso à informação (que no Brasil não acontece formalmente no contexto escolar), acesso à renda, acesso aos espaços de compras, acesso à publicidade, acesso ao debate de regulamentação e legislação, que imprimem nos produtos e preparações alimentícias sua força. As escolhas alimentares certamente não são de responsabilidade unicamente do indivíduo, apesar da grande indústria do alimento se desfazer de toda a responsabilidade do consumo alimentar.

Como pode a industrialização do alimento, capaz de suprir a necessidade mundial, crescer juntamente com a fome e a obesidade? Certa que é preciso de pessoas politizadas e políticas públicas para desfazer essa lógica. O estado do Ceará, estigmatizado pela fome, tem se posicionado pioneiramente no Brasil como referência em política pública para fomento da cultura alimentar e da alimentação adequada e saudável, a partir das ações da Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco, ligada à Secretaria de Cultura do Governo do Estado, que tem a missão de formar atores políticos que irão reverberar o conceito de cultura alimentar, ferramenta de luta pela segurança e soberania alimentar, gastronomia social e sustentabilidade, em um mundo que favorece o crescimento de uma alimentação ultraprocessada. Aqui,também há o Mercado Alimenta CE, o Programa Ceará sem Fome e o
primeiro mestrado de Gastronomia do Brasil, fomentando pesquisas e ações para a manutenção de saberes e ofícios tradicionais e elementos da nossa sociobiodiversidade, além da erradicação da fome.

A nossa cultura alimentar não está dissociada de uma dinâmica social. Tudo está alinhado: como comemos, nos vestimos, nos comportamos, em quem votamos. Domingo é mais uma forma de sermos seres politizados, alinhando nossa forma de estar no mundo com as propostas que nossos candidatos propõem. Já pensou em como seu voto pode impactar nossa alimentação?

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