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A voz do eleitor ausente
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Doutor em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), atualmente professor e coordenador do Curso de Bacharelado em Ciência Política da Universidade Federal do Piauí (UFPI), onde coordena, ainda, o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Partidos Políticos (GEPPOL). Em 2018, foi guest scholar no Kellogg Institute for International Studies da Universidade de Notre Dame

A voz do eleitor ausente

Vítor Sandes, Cientista político, professor adjunto da Universidade Federal do Piauí (UFPI) (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Vítor Sandes, Cientista político, professor adjunto da Universidade Federal do Piauí (UFPI)

Nestas eleições, a democracia, do ponto de vista da participação eleitoral, mostrou-se ligeiramente enfraquecida devido ao comportamento do eleitor que optou por não comparecer às urnas. Houve um aumento expressivo da abstenção. No primeiro turno das eleições deste ano, a taxa de abstenção foi de 21,7%, ligeiramente inferior a 2020, que registrou 23,1% no contexto da pandemia de covid-19. Contudo, a abstenção de 2024 foi significativamente superior à das eleições de 2016 (17,6%) e de 2012 (16,4%).

A abstenção deste ano, contudo, variou entre as regiões do País. No Nordeste, por exemplo, foi a menor entre todas, com 16,5%, seguida pelo Norte, com 18,6%; Sul, com 22,9%; Centro-Oeste, com 23,7%; e Sudeste, com 24,9%. Sabe-se que a abstenção é elevada entre eleitores com mais de 70 anos, para os quais o voto é facultativo. Observou-se, porém, que ela também foi expressiva entre eleitores de 20 a 34 anos, além de ser mais alta entre homens do que entre mulheres - um padrão já registrado nas eleições de 2020.

No segundo turno, em que o incentivo para votar diminui, já que apenas o cargo de prefeito está em disputa e não o de vereador, a abstenção chegou a quase 30%. Esse fenômeno também variou entre capitais. Em Fortaleza, a abstenção foi de 15,8%, enquanto, em São Paulo, alcançou 31,5%.

Para ilustrar o impacto da abstenção nos resultados, vale observar que a diferença entre Leitão (PT) e Fernandes (PL) foi de menos de 11 mil votos, valor 25 vezes menor que o total de eleitores ausentes em Fortaleza, que chegou a 280.329. Em São Paulo, a diferença entre Nunes (MDB) e Boulos (Psol) foi um pouco superior a um milhão de votos, enquanto a abstenção foi quase três vezes maior: 2.940.360 ausentes. A competitividade eleitoral pode ter influenciado os índices de abstenção: enquanto em Fortaleza a disputa acirrada motivou eleitores a votar, em São Paulo a percepção de um resultado previsível pode ter desestimulado o comparecimento.

O aumento da abstenção é, no entanto, multifatorial. É fundamental que o TSE identifique suas causas e crie incentivos ao comparecimento, para que o ato de votar não se torne uma mera formalidade, promovendo o desinteresse dos eleitores. A democracia se sustenta pela participação ativa e pelo engajamento contínuo, sobretudo nos momentos eleitorais. 

 

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