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Desafios políticos pós-indiciamento
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Doutor em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), atualmente professor e coordenador do Curso de Bacharelado em Ciência Política da Universidade Federal do Piauí (UFPI), onde coordena, ainda, o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Partidos Políticos (GEPPOL). Em 2018, foi guest scholar no Kellogg Institute for International Studies da Universidade de Notre Dame

Desafios políticos pós-indiciamento

O caso demonstra o quanto a democracia brasileira ainda é suscetível a ataques de dentro do próprio sistema político. Movimentos, discursos e narrativas que visam fragilizar a democracia têm ocorrido com alguma frequência no Brasil
Tipo Opinião
Vitor Sandes, doutor em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) (Foto: Acervo Pessoal)
Foto: Acervo Pessoal Vitor Sandes, doutor em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Semana passada a política brasileira ganhou um novo capítulo: o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outras 36 pessoas, dentre elas, militares, ex-ministros e ex-assessores do então chefe do Executivo, por crimes relacionados à tentativa de golpe em 2022.

Uma leitura que se pode fazer do evento é a partir do funcionamento das instituições brasileiras, que, não somente têm se demonstrado resilientes, como têm evidenciado sua capacidade de investigar casos intricados como este, coletando e apresentando um conjunto de provas robustas. É preciso acompanhar os desdobramentos do caso e verificar em que medida as instituições serão capazes de resistir aos possíveis tensionamentos políticos à medida em que o caso ganhe novos contornos.

Por outro lado, o caso demonstra o quanto a democracia brasileira ainda é suscetível a ataques de dentro do próprio sistema político. Movimentos, discursos e narrativas que visam fragilizar a democracia têm ocorrido com alguma frequência no Brasil. Após o resultado do pleito presidencial de 2022, ocorreram bloqueios em estradas, acampamentos e uma sequências de ações que culminaram no 8 de janeiro. Os atores institucionais precisam aprender com os erros para que a democracia seja preservada a qualquer tempo.

Além disso, é importante acrescentar uma outra leitura sobre o caso: as consequências políticas para a direita brasileira. O episódio atingiu o núcleo duro do bolsonarismo, que tem sido uma das principais forças políticas do país desde 2018. A direita brasileira deve ponderar seus rumos, sobretudo considerando as eleições nacionais que ocorrerão em 2026. Se o caso avançar e gerar mais consequências jurídicas ao ex-presidente, é possível que alguns pré-candidatos à direita se alinhem mais aos valores bolsonaristas do que, propriamente, ao seu líder maior. Para Jair Bolsonaro, o desafio será manter sua militância política coesa e ativa para que o nome mais viável da direita em 2026 emerja a partir do seu grupo.

É preciso aguardar, no entanto, o andamento do processo, respeitando o direito à ampla defesa e ao contraditório, essenciais no Estado de Direito. Mas uma lição é clara: mesmo após décadas do fim da ditadura, o Brasil ainda lida com resquícios de autoritarismo, exigindo vigilância contínua para proteger a democracia.

 

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