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Iniciação sexual e vínculo amoroso
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Zenilce Vieira Bruno é psicoterapeuta de adolescente, adulto e casal, especialista em educação sexual e membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. Escritora, é autora dos livros

Zenilce Bruno comportamento

Iniciação sexual e vínculo amoroso

A sexualidade humana tem muito de invenção do espírito. Seu desenvolvimento tende a encaminhar o indivíduo para o desenvolvimento da intimidade, que não pode ser confundida com a ideia do escondido, de acesso clandestino à genitalidade. A expressão íntimo trata "do que está muito dentro, que atua no interior, que é muito cordial e afetuoso", diz Aurélio. Esse caminho é atropelado no adolescente pela ânsia de descobertas, mas pode e deve ser desenvolvido gradativamente. Podemos orientá-lo para a certeza de que se torna cada vez mais especial fazer sexo com intimidade. O namoro apenas dá início a esse processo, mas crescemos pela vida afora nessa experiência. A energia afetiva e amorosa, que precisa ser trocada, encontra na intimidade sua possibilidade maior. Educar para a intimidade é educar para a partilha que atua no interior de cada um. É ensinar a contactar com o eu, com o sentimento. Isso vai possibilitar a formação do vínculo amoroso entre parceiros. O amadurecimento humano se dá por meio desses vínculos.

O crescimento da intimidade implica equilíbrio, transparência, mutualidade, dom de si ao outro. Resulta em quebra de barreiras, num revelar-se recíproco que transcende o desnudamento do corpo. É diferente da manipulação e do jogo do poder, tão frequente entre parceiros. O amor não é competição, não é vitória, é descoberta na intimidade, é afinidade. Acordemos os jovens para os exercícios da felicidade na relação, não para o exercício do poder. Enquanto se medem forças, torna-se impossível a partilha do que é íntimo em nós. Considerando tantas peculiaridades do humano, fica evidente que a iniciação sexual precisa sair do âmbito das casas de massagens e dos prostíbulos, assim como com pessoas sem qualquer interesse amoroso. O resultado será experiências mais positivas e maior saúde emocional. Muitos pacientes relatam sofrimentos enfrentados, a partir de uma primeira relação em condições desfavoráveis e até traumatizantes, tornando uma lembrança lamentável de um momento de vida que poderia ser tão significativo. A iniciação sexual será construtiva quando se tornar uma experiência integrada à vida, e não um ritual de expectativas e ansiedades frente ao desempenho.

A transparência de pais e filhos tira o sexo vivido entre namorados do contexto da clandestinidade em que se exerce e oferece maior segurança para a saúde física e emocional de adolescentes. A legitimação serena por parte dos pais e da vivência prazerosa pode prevenir sofrimentos futuros. Pesquisas indicam que uma das causas principais da violência humana provém de uma falta de prazer corporal. Sob o signo do maravilhamento, o adolescente enxerga belo, grande, fantástico mesmo, escuta o discurso das estrelas, faz o gesto cósmico de apanhar a lua para oferecê-la ao ser amado, como quem oferta algo muito além de si mesmo. Envelhecemos quando não mais somos capazes desses gestos, razão por que alguns adultos irritam-se com essa mente enluarada dos adolescentes. n

 

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