
Zenilce Vieira Bruno é psicoterapeuta de adolescente, adulto e casal, especialista em educação sexual e membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. Escritora, é autora dos livros
Zenilce Vieira Bruno é psicoterapeuta de adolescente, adulto e casal, especialista em educação sexual e membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. Escritora, é autora dos livros
Há uma força interna, que nos move em direção ao prazer, ao outro, mais precisamente em busca de seu desejo, já que, o que mais desejamos é que ele nos deseje. Em geral, o desejo é confundido com necessidade, com instinto. Na verdade, ele procede do corpo, mas estende-se para além dele. Freud conceituou o desejo, numa posição intermediária, entre o somático e o psíquico e chamou essa ordem de "pulsional". É a pulsão que nos move na direção de atender o desejo. Na cultura, o desejo é constantemente remetido para o registro do imaginário.
A arte é cúmplice do desejo humano. Aí, a busca de satisfação é feita nos temas da literatura, na pintura, na poética, nas canções, nos sonhos, onde quase tudo gira em torno do desejo, do sexo e das frustrações. Através do imaginário erótico das produções, tanto sentimos prazer como confortamos a dor de amar, porque amar dói. Tudo isso porque a verdade mais interna do desejo, é que ele é desejo de ser desejado. Desejamos que o outro nos deseje. Não se trata de possuir, de agarrar, de aprisionar, mas de saber-se por ele desejado ou amado, é ser reconhecido em seu valor, nos diz Garcia Rosa.
Por isso, quando o outro não nos deseja, fica um vazio muito difícil de ser preenchido. Ante o mal-estar desse vazio, as pessoas podem tomar atitudes insanas. Alguns têm ciúmes doentios, passam a odiar o outro, tentam matá-lo, ou buscam múltiplas parcerias. Outros tentam obsessivamente manter relações sexuais, comprar, consumir.
Cada um de nós sabe, que essas coisas não preenchem o vazio do desejo do outro. Quando se faz recíproco o desejo entre duas pessoas, a relação se torna inebriante. Quando não, pode ser desesperador. Daí a tendência de reter o outro para que ele não se vá. A ânsia que temos de aprisionar o outro na relação, é expressão da incerteza que temos, de que ele, de fato nos deseja. Buscamos essa certeza, tentando controlá-lo como se fosse possível, com isso, controlar o desejo. Essa é a agonia da relação. Não podemos fazer um seguro do desejo do outro. Ele é um ser livre, e não pode nos desejar por compaixão, por obrigação ou por gratidão.
Descuidamos do simbólico, e de seu papel na expressão humana. Esse menosprezo pode provocar a diminuição do desejo, na medida em que promove também a morte da sedução. Algumas mulheres queixam-se que, com a obsessividade da penetração, não há tempo para a sedução, para brincadeira erótica e o homem "fica um saco". A sedução opera no terreno do simbólico, se estabelece como um ritual, um jogo onde parece que não quer, mas na verdade arde de desejo.
É um jogo onde se desafia o outro a desejar de volta. O que é despertado pela sedução é a fantasia, e é ela que eterniza o processo. Isso significa que a busca não quer terminar, que é bom permanecer desejando e buscando. A consecução do objeto, a posse do outro, representaria o fim da sedução, a morte do simbólico, a fragilização do desejo. A sexualidade obsessiva tende a buscar o fim, o êxito, o resultado da relação, não seu gozo. É por essa razão que se faz necessário algum espaço entre os amantes, para que a sedução continue sendo possível. Quando nasce a posse, o definitivo, morre o desejo.
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