Zenilce Vieira Bruno é psicoterapeuta de adolescente, adulto e casal, especialista em educação sexual e membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. Escritora, é autora dos livros
Zenilce Vieira Bruno é psicoterapeuta de adolescente, adulto e casal, especialista em educação sexual e membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. Escritora, é autora dos livros
Nas festas de fim de ano, somos convocados a "ser felizes", a providenciar um bem-estar, uma alegria, mesmo que provisória. Há uma expectativa da cultura, em nós mesmos e nos outros, para que reine felicidade à nossa volta, numa espécie de rito festivo. Antropológico por um lado, o rito da felicidade a mais no fim de ano, compõe o modo humano e social de promover alegrias, mas em geral, esse rito é apropriado pelo sistema para nos fazer consumir.
Quando isso ocorre, o rito termina por tornar-se aparência, porque se esvazia do sentido humano da solidariedade, da amizade, e se transforma numa gincana consumista, que faz feliz, sobretudo, aos donos das mercadorias. Não se é feliz ou se fica feliz, simplesmente porque chegou o Natal e o Ano Novo. A felicidade que perseguimos no fim do ano, independe de calendário, de bens de consumo ou de jovialidade à mostra. Felicidade é uma construção humana, paciente, uma arte do existir.
Somos condicionados culturalmente a conceber felicidade como algo que vem de fora, que pode advir do 13º salário, das compras que fazemos, dos presentes que damos e recebemos, das festas que promovemos. Tudo isso, até pode ser motivo de felicidade, se as ações forem permeadas de um sentido humano e relacional. O presente deve ser alegria a mais, não para preencher vazios em nós.
O simbolismo cristão do Natal sugere a solidariedade humana, a amizade entre as pessoas, mas o capitalismo maneja nosso imaginário para fazer valer sua oportunidade de vender e lucrar. O tempo festivo por vezes atiça nossas angústias, ao confrontar a condição pessoal interna com o agito da alegria externa. Vivemos todos experiências de dor, de sofrimento de vazio. É preciso não enganar esses sentimentos com compras, busca de beleza física ou outras aquisições. Somos também nossos sentimentos inquietos. Eles fazem parte da nossa humanidade. Em geral, é mais fácil comprar algo para enganá-los do que entendê-los.
Que outras alegrias podem compor esta época de festas? Talvez devêssemos agradecer mais à vida que está em nós e à nossa volta. Talvez devêssemos bendizê-la, amá-la. A vida é o grande dom que temos em nossas mãos. Talvez devêssemos amar mais o tempo em que vivemos. Desacertos, a humanidade sempre viveu, e nosso tempo não é pior que outrora.
Foi sempre entre abismos e esperanças que crescemos historicamente. Podemos sonhar com uma humanidade mais cordial, e isso acontecerá quando começarmos a ser mais amáveis uns com os outros, sobretudo os outros mais próximos de nós.
A amizade pode ser o caminho de amorosidade necessária ao bem-estar das relações. Podemos nos reencantar com outras coisas, que são simples e belas: deixar-se atingir pela emoção da música, da palavra, do poema, da paisagem. Podemos sim, autorizar a emoção da coisa simples que há na vida e no viver.
Que nossos natais e anos novos sejam de festas e alegrias internas e externas para todos. Que sejamos escultores de uma humanidade mais feliz e mais humana.
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