
Zenilce Vieira Bruno é psicoterapeuta de adolescente, adulto e casal, especialista em educação sexual e membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. Escritora, é autora dos livros
Zenilce Vieira Bruno é psicoterapeuta de adolescente, adulto e casal, especialista em educação sexual e membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. Escritora, é autora dos livros
Há um sabor implícito no ato de escrever sobre o prazer, embora seja difícil comunicá-lo em sua essência e vivência. Cada pessoa vive tão singularmente essa experiência, que se torna arriscado falar dela por ser um tema para o qual não há verdades a proclamar, modelos a oferecer, caminhos a apontar ou dados estatísticos indicadores de acertos.
Estamos diante de um discurso sem certezas, dramaticamente subjetivo, vivido peculiarmente na epiderme e na internalidade de cada um. Defendo o prazer como dimensão capaz de viabilizar bem-estar físico, emocional, existencial e o reconheço como um direito inalienável, mas que a cultura tenta sonegar e difamar.
O tema do prazer é pensado desde a antiguidade grega. Platão o considerava não o primeiro, mas o quinto dos bens, porque a natureza do homem é racional e deve suprimir o sensível, submetendo o corpo à alma. Esta deve libertar-se do corpo como um cárcere. Entretanto, Aristóteles defende-o como um bem supremo, considerando-o substancial a nossa espécie.
O homem é uma unidade corpo-alma e a felicidade é seu fim. É a partir de Freud que o prazer é compreendido como um bem, como uma ordenação, um alvo, como destinação humana, consequentemente como um direito a ser conquistado.
Vivemos estranhos paradoxos. Somos profundamente capazes do prazer, da felicidade, mas tememos vivenciá-los. Desejamos e receamos tais experiências. "O paradoxo não é meu, sou eu", diz Fernando Pessoa. É estranho que tenhamos medo do prazer, internalizado o constrangimento de sermos felizes.
Henri Bérgson refere-se a três medos básicos existentes na limitada condição humana: o medo ontológico de morrer, o medo existencial de fracassar e o medo psicológico de enlouquecer. O medo freqüente do prazer não corresponderá ao medo da perda da razão, portanto, ao medo de enlouquecer?
A experiência prazerosa que aqui evoco, requer abandono, entrega e disponibilidade existencial. A oferta de si ao desejo do outro e a reciprocidade desse gestual amoroso supõem a confiança básica em si e no outro.
Lamentavelmente essa é uma atitude dificultada em nossa sociedade pelo exercício da desconfiança, da descrença, da entrega condicional, da dívida relacional, da dúvida do encontro. Segundo a filosofia tântrica, essa forma de prazer não pode ser alcançada em meio a apressadas trocas. Ela carece de intimidade e entrega para expressar-se em plenitude.
Seria ingênua qualquer oferta de modelos nos quais se possa espelhar a experiência prazerosa. O que proponho é antes uma reflexão encorajadora da busca humana do direito de vivê-la, porque, para muitas pessoas, o prazer continua sendo impedido. Ele ocorre em meio à singularidade histórica de cada pessoa, em meio às inscrições feitas no corpo e no imaginário de cada um. Supõe criatividade, espontaneidade, exige harmonia, resulta em beleza e equilíbrio.
O prazer é gerado, inventado, descoberto em cada gesto, em cada devir humano. Mas também é impedido pelas contingências histórico-educacionais peculiares a cada indivíduo. Por isso não se pode pensar num padrão geral a ser proposto para as pessoas. O que se postula é o direito ao prazer, não a obrigação padronizada de experimentá-lo.
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