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Amorosidade, razão e emoção
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Zenilce Vieira Bruno é psicoterapeuta de adolescente, adulto e casal, especialista em educação sexual e membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. Escritora, é autora dos livros

Zenilce Bruno comportamento

Amorosidade, razão e emoção

somos todos responsáveis por nossos sentimentos em família. Uma vigilância sobre as impulsividades se faz necessária e quando os filhos são adultos, eles são igualmente responsáveis pelo bem-estar ou mal-estar em família
Esta foto tirada de um vídeo feito e distribuído pela mídia do Vaticano em 31 de março de 2023 mostra o Papa Francisco batizando um menino chamado Miguel Angel, enquanto visitava crianças na ala de oncologia do hospital Gemelli em Roma, o mesmo hospital onde o Papa foi internado em outra enfermaria em 29 de março por bronquite. O Vaticano disse em 31 de março que esperava que o Papa Francisco recebesse alta em 1º de abril de um hospital em Roma, após tratamento para bronquite. (Foto: VATICAN MEDIA / AFP)
Foto: VATICAN MEDIA / AFP Esta foto tirada de um vídeo feito e distribuído pela mídia do Vaticano em 31 de março de 2023 mostra o Papa Francisco batizando um menino chamado Miguel Angel, enquanto visitava crianças na ala de oncologia do hospital Gemelli em Roma, o mesmo hospital onde o Papa foi internado em outra enfermaria em 29 de março por bronquite. O Vaticano disse em 31 de março que esperava que o Papa Francisco recebesse alta em 1º de abril de um hospital em Roma, após tratamento para bronquite.

Ainda emocionada com a partida do Papa Francisco, tenho pensado muito em suas palavras. Lembro de uma vez ouvi-lo dizer que a base construtiva da família é a amorosidade cuidada, querida e apreciada como valor entre as pessoas. Penso que a mesma se constrói com palavras e ações, sentimentos e fazeres.

Diria que somos todos responsáveis por nossos sentimentos em família. Uma vigilância sobre as impulsividades se faz necessária e quando os filhos são adultos, eles são igualmente responsáveis pelo bem-estar ou mal-estar em família.

A casa, os pais e filhos são as maiores referências do ser humano quanto aos afetos vividos. Afetos positivos e negativos como o amor, amizade, cumplicidade, ciúme, rivalidade e ódio. Lugar por excelência da ambivalência afetiva, a família se tece entre amorosidades e animosidades. Mais precisamente, entre amor e ódio.

Talvez soe mal aos nossos ouvidos desejosos de mais amorosidades, dizer em voz alta que a família é também o lugar do afeto negativo, sofrido e destrutivo. Os fatos contemporâneos expostos pela mídia têm atestado sem pudor, que nessa cultura de superego frágil, são frequentes as atuações onde membros de uma família se maltratam, destroem-se, matam-se.

E o que caracteriza o ser humano? Cada coisa em seu lugar, cada coisa em sua medida. O lugar é o mundo e a medida é o homem e sua humanidade. Razão e emoção convivem e conviverão no ser humano, alternando-se, pondo marcas inevitáveis na ação humana. O mundo, que é construído a cada dia, vai assumindo características, feições que, ora a razão, ora a emoção imprime ao que fazemos, ao nosso estar neste mundo.

A razão é um bem, sem ela nos tornaríamos loucos, estúpidos, inconsequentes. A emoção, também dá ao fazer humano a tonalidade de humanidade, de encanto, amorosidade ou de perversão. Ambas são dimensões humanas importantes e seu benefício ou malefício dependem do uso que delas se fizer.

Nada mais insano do que o ato comandado pela razão perturbada ou pela emoção doentia. Combater o terror, por exemplo, com outras formas de terror parece ser tão insano quanto ser terrorista. A emoção é o elemento mais difícil de ser percebido com clareza. Os combatentes, que se anunciam em nome de Deus, da suposta democracia, da paz desejável, da justiça dos homens, não se dão conta do grau de emoção destrutiva que pode mover suas ações. O ódio, a vontade de revide, podem silenciosamente, comandar ações inconsequentes. É preciso desconfiar das razões nobres pelas quais se faz guerra.

Pode ser perigosa a expansão da emoção destituída da razão. Pode ser perigoso que, razão e emoção sejam colocadas a serviço do narcisismo. Ele é a exaltação de si mesmo, acima de tudo e de todos, e é a marca do mundo atual. É perigosa qualquer forma de narcisismo, seja ele patriótico ou pessoal. Porque o narcisismo, seu prazer, sua inconsequência, é também seu próprio castigo.

No final de contas, diz o mito, que Narciso apaixonado por si mesmo mergulhou no lago para abraçar a própria imagem, e morreu. Razão e emoção precisam estar a serviço do bem-estar coletivo, da harmonização da humanidade, da celebração da vida.

É tempo de Páscoa, que significa passagem. E exatamente nesta Páscoa, perdemos um grande representante do amor. Necessitamos processar sempre passagens na vida. Que ensaiemos, portanto, passar do estado de raiva, de ódio, de intolerância, para um estado de compreensão do humano, em suas falhas e encantamentos.

Somos todos maravilhosos e destrutivos. Capazes de amor e ódio. Cabe-nos dar o destino ao que somos. Cabe nos apropriarmos do que queremos ser e fazer. Perdoar é renunciar ao ódio e permitir que a vida continue.

Foto do Zenilce Bruno

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