As Eleições 2024 estão a todo vapor. Propostas, entrevistas, sabatinas, planos de governo, diferentes temas sendo discutidos. Neste pleito, alguns dispositivos tentam diminuir os casos de violência política de gênero, entidades orientam candidatas sobre o enfrentamento de desafios e leis tentam garantir mais representatividade nas câmaras municipais e prefeituras. Porém, basta ouvir/ver/ler um pouco as campanhas de alguns candidatos para perceber como o machismo estrutural é explicitamente demonstrado pelos candidatos no Ceará.
Não há uma mudança de pensamento ou conscientização sobre a importância de desconstruir discursos que insistem em manter as disparidades e, principalmente, o desrespeito à mulher. No cenário fortalezense, em que todos os candidatos ao Paço Municipal são homens, temos, no máximo, planos de governo que destacam Saúde, Violência Doméstica e Empreendedorismo.
Temas importantes, sem dúvida, mas também mais fáceis de serem anunciados em números, ampliações
e programas.
É nas ações, na forma de falar, nos comícios, e até no jeito de cumprimentar que vemos o quão despreparados ainda são os pretendentes a cargo de vereador ou chefe do Executivo de municípios cearenses. Trago exemplos.
Não esquecerei a entrevista em que um prefeito, quando questionado sobre ataques misóginos contra uma vice-governadora, pareceu não entender nenhuma das minhas palavras. Desconversou, fugiu do tema e ficou por isso.
No Conjunto Ceará, em Fortaleza, durante um comício, mulheres jovens estavam de saia curta e meias no estilo "estudante" dançando em cima de um minitrio elétrico. Ao fundo, o jingle da campanha de um candidato a vereador. A estratégia, de acordo com cabos eleitorais, é que homens sejam atraídos para o comitê de campanha.
Na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), houve candidato que, ao falar do contraturno escolar, como forma de distanciar jovens da violência, destacou que "o menino vai se sentir atraído, de ir lá ver a menina bonita". O comentário foi acompanhado de uma virada de olhos desta jornalista e de um sorriso dissimulado por parte do entrevistado. O mesmo, ao se despedir, não se contentou com um aperto de mão e forçou um abraço com uma mulher que ele nunca viu na vida.
No Interior, houve deputado federal que chegou a dizer, em ato público de apoio a uma candidatura local, que uma gestora havia "rodado bolsinha". Esse parlamentar foi visto, semanas depois, furando uma fila composta por mulheres que aguardavam para tirar foto com
Maria da Penha.
Mais absurdo ainda foi ver um candidato denunciando outro candidato que dizia, em um vídeo, que "a cada dez minutos, no Brasil, um homem é assassinado e, nem por isso, a gente pensa em criar o 'masculinicídio'".
Tais atitudes só reforçam a necessidade de termos cada vez mais mulheres progressistas e comprometidas pautando necessidades reais, respeitando conquistas e modificando o futuro. n