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Monsenhor Stephen Rossetti: um exorcista visita Fortaleza
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Monsenhor Stephen Rossetti: um exorcista visita Fortaleza

Em sua primeira visita a Capital, o padre católico e psicólogo licenciado dos EUA participou do evento Misericórdia Brasil e compartilha suas experiências
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Monsenhor Stephen Rossetti é exorcista da Arquidiocese de Washington, nos Estados Unidos (Foto: Laercio Peixoto/Misericórdia Brasil)
Foto: Laercio Peixoto/Misericórdia Brasil Monsenhor Stephen Rossetti é exorcista da Arquidiocese de Washington, nos Estados Unidos

“Eu digo para as pessoas que recebo mensagens de demônios o tempo todo e elas não acreditam”, inicia o monsenhor Stephen Rossetti. Ele tem 72 anos e a revelação não é a única experienciada compartilhada pelo exorcista da Arquidiocese de Washington, nos Estados Unidos.

Sentado no sofá para o início da entrevista, feita durante sua participação no evento católico Misericórdia Brasil, no último sábado, 6 de abril, no Centro de Eventos do Ceará, o monsenhor segura o seu rosário — antes guardara no bolso — para ilustrar uma das experiências que definiu o seu caminho espiritual.

“Eu era um seminarista e tive uma experiência poderosa em que demônios me atacavam. Era noite, eu não estava dormindo, estava deitado na cama, mas ainda não havia dormido, e eu fui simplesmente atacado, e era inacreditavelmente poderoso”, explica.

“Mas pela graça de Deus eu sabia o que era. Deus nos oferece a Graça de saber o que está acontecendo. (...) Eu estava prestes a ficar sobrecarregado quando lembrei que tinha as minhas contas do rosário no pé da cama. Então, eu corri para fora da cama, peguei minhas contas e instantaneamente os demônios saíram.”

“Eu acho que, naquele momento, eu aprendi cerca de 80% do que um exorcista precisa saber”, completa.

Desde a sua interação inicial, o monsenhor Stephen Rossetti publicou diversos livros, nem todos relacionados à prática do exorcismo. O mais recente 2021, recebeu uma edição brasileira pela editora Ecclesiae, intitulada “Diário de um exorcista americano”.

Os volumes, à venda no evento Misericórdia Brasil, esgotaram durante a sessão de autógrafos de Rossetti, que se surpreendeu com a interação dos fiéis brasileiros. “A comunidade é muita viva, a Igreja está viva no Brasil”, comenta.

Os exorcismos não são a única atuação do monsenhor. Rossetti também é psicólogo licenciado, presidente do St. Michael Center for Spiritual Renewal e professor associado de pesquisa na Catholic University of America em Washington, D.C.

No cenário esportivo, serve como o capelão do time de beisebol profissional Washington Nationals, vencedor da Série Mundial (World Series, no original) em 2019.

Monsenhor Stephen Rossetti: entrevista para O POVO

O POVO - Como você está aproveitando sua experiência no Brasil?

Monsenhor Stephen Rossetti - É incrível! E a comunidade é muito viva, a Igreja está viva no Brasil. Honestamente, eu não acho que a Igreja Católica nos Estados Unidos tem algo tão grande assim.

O POVO - Na introdução do seu livro (“Diário de um Exorcista Americano”), você fala sobre como a Virgem Maria o escolheu como exorcista. Poderia nos falar um pouco sobre essa experiência?

Monsenhor Stephen Rossetti - Bem, como eu falei no livro, eu estava no seminário… E por falar nisso, não é incomum que seminaristas e noviças, pessoas que entram na Igreja sejam atacados pelo Diabo. Não é incomum, porque o Diabo odeia freiras, padres e pessoas se tornando católicas. Eu era um seminarista e tive uma experiência poderosa em que demônios me atacavam.

Era noite, eu não estava dormindo, estava deitado na cama, mas ainda não havia dormido, e eu fui simplesmente atacado, e era inacreditavelmente poderoso. Mas pela graça de Deus eu sabia o que era. Deus nos oferece a graça de saber o que está acontecendo. E os demônios eram incrivelmente poderosos e rápidos.

Demônios e anjos se movem na velocidade do pensamento. Eles não têm um corpo, então se movem na velocidade do pensamento. E assim foi, eu estava prestes a ficar sobrecarregado quando lembrei que tinha as minhas contas do rosário no pé da cama.

Então, eu corri para fora da cama, peguei minhas contas do rosário, e instantaneamente os demônios saíram. E eu acho que, naquele momento, eu aprendi cerca de 80% do que um exorcista precisa saber: demônios são muito mais fortes que eu, eles são mais rápidos, e sozinho eu não consigo vencer.

Mas a Virgem Maria simplesmente os expulsa. Eles são pó comparados a Jesus e Maria. Então, é isso que nós fazemos como exorcistas. Nós confiamos no Senhor e Sua bela Mãe, e eles cuidam de tudo.

O POVO - Você também fala sobre como pessoas possuídas podem ter problemas ao se conectarem no telefone com conselheiros espirituais. Como acredita que a nossa relação atual com os celulares e as redes sociais pode afetar o jeito que os demônios interferem na tecnologia?

Monsenhor Stephen Rossetti - Bem, o problema é o seguinte: eu digo para as pessoas que recebo mensagens de demônios o tempo todo, e elas não acreditam. Mas nos lembramos que antes de termos celulares e mensagens de texto, os demônios interferiam em telefones e televisões, esse tipo de coisa. Eles só se atualizaram com os celulares.

Eu recebo mensagens ruins deles, e você consegue perceber de onde elas estão chegando. Às vezes, o endereço do remetente é 666, mas eles são terríveis, demônios são simplesmente desagradáveis. Então eles vão usar o que estiver ao redor. Eles parecem crianças de 12 anos, garotos travessos de 12 anos de idade. Eles vão mexer com tecnologia e vão tentar atormentar você.

Mas é importante saber que eles só podem fazer o que Deus permita que eles façam. Então, eles podem lhe atormentar e assustar, e querem que você acredite que eles são todo-poderosos, mas é tudo besteira.

Como aprendi naquela experiência, a Santíssima Virgem simplesmente os atirou para fora. Então, comparados a Jesus e à Maria, os santos e os anjos, eles eram pó.

O POVO - Como um psicólogo licenciado, em suas primeiras sessões você geralmente tenta determinar se a pessoa está possuída ou sofrendo de um problema psicológico. Como você diferencia essas duas coisas?

Monsenhor Stephen Rossetti - Na verdade, alguns aspectos podem ser complicados, outros podem ser simples. Como um psicólogo, eu atuei por 25 anos, então eu sei o que é uma questão psicológica quando eu vejo. Às vezes, as possessões demoníacas podem imitar uma, mas não são a mesma coisa, e quando você se aprofunda e trabalha com elas o tempo suficiente, é possível notar a diferença.

Uma psicose de verdade é, de várias maneiras, muito clara e triste, mas não responde à oração, não é um problema espiritual. Então, se você encontra uma pessoa psicótica e começa o exorcismo na hora, não adianta nada, elas só ficam lá, paradas.

Quando você começa a rezar em uma pessoa realmente possuída, os demônios se manifestam e, quando você observa os olhos do demônio, não dá para fingir aquilo, não dá para olhar, não é possível imitar aquele ódio. Eles matariam você se pudessem.

Eu estava no meio de uma sessão uma vez e eu tinha uma Irmã do meu lado, ela comentou que era a sua primeira sessão, e eu disse: ‘Quero que saiba com o que está lidando’. Eu falei ao demônio: ‘Diga-me a verdade, em nome de Jesus. Se você pudesse enfiar uma faca nas costas de todos nesta sala, torcê-la e rir, você faria isso?’ (E ele respondeu): ‘Sim’.

Então você está observando uma presença desse grande mal, que não é a mesma coisa que uma psicose.

O POVO - Na sua experiência, que opiniões equivocadas as pessoas costumam ter sobre exorcismo e como você trabalha para dissipar esses equívocos por meio das suas publicações e aparições públicas?

Monsenhor Stephen Rossetti - Bem, eu acho que um dos maiores equívocos acontece quando as pessoas participam de uma sessão de exorcismo e falam: ‘Você vai tirar os demônios, e eu vou estar sentado aqui, fazendo nada’.

Na verdade, 70% do trabalho é feito pela pessoa que está possuída. Eu faço cerca de 30%. É realmente um processo de conversão, não é magia, sabe? São apenas orações, não são rituais mágicos… É uma simples oração.

Mas então, você pergunta: ‘O posso fazer?’ Você precisa voltar o seu coração completamente ao Senhor e não oferecer aos demônios nada para se apegar. Eles vão se agarrar nas suas feridas, no seu narcisismo, na sua raiva e falta de perdão. Então, tentamos tirar isso das pessoas.

Quando você é um cristão, quando há amor no seu coração, sem raiva, com perdão, todas essas coisas, os demônios não têm nada para se agarrar.

O POVO - Normalmente, quando as pessoas falam de exorcismo, elas lembram de filmes e séries. Como um exorcista, já assistiu a alguma produção que o fez pensar: ‘Isso não está tão ruim’?

Monsenhor Stephen Rossetti - Sabe qual deles é preciso? Assista ao filme “Nefarious”. Todos os exorcistas adoram. Quatro exorcistas me ligaram e disseram: ‘Ah, você precisa ver ‘Nefarious’”. Na maioria dos outros filmes há alguma verdade, mas é Hollywood, sabe? Só que Nefarious realmente acertou em cheio.

O homem não faz realmente um exorcismo, mas a conversa com os demônios é muito típica do demoníaco. Quero dizer, eles realmente capturaram essa presença maligna e como os demônios pensam.

O POVO - Falando sobre o Brasil, nós temos uma história rica em práticas culturais e crenças. Como você antecipa que os seus métodos e percepções vão se conectar com a audiência brasileira?

Monsenhor Stephen Rossetti - Não apenas no Brasil, mas nos Estados Unidos e ao redor do mundo, na Itália é terrível. Há cada vez mais pessoas recorrendo ao ocultismo e às sociedades secretas e à magia e todo esse tipo de coisa. E bruxaria.

Aprendemos muito claramente, no que a igreja sempre ensinou: ‘Fique longe dessas coisas’. Por quê? Não por sermos um bando de pessoas chatas e infelizes. De forma alguma! Essas coisas são perigosas.

É como eu falei à multidão lá fora, não tenho água benta suficiente para exorcizar 13 mil pessoas. Você precisa ficar longe da bruxaria, do ocultismo, das sociedades secretas, de todas essas coisas. Você tem que ficar longe dessas coisas, porque se não o fizer, terá um problema. Eu garanto que você vai.

O POVO - Você tem mais de 24 mil seguidores no TikTok, uma rede social majoritariamente composta por adolescentes e a Geração Z. Quando decidiu recorrer às mídias sociais e compartilhar suas histórias?

Monsenhor Stephen Rossetti - Começamos há cerca de um ano e meio. Eu achava que o Tiktok fosse um jogo de tabuleiro e ainda não uso redes sociais, mas tenho um jovem para fazer isso. O Senhor nos enviou esse jovem e comecei a conversar com ele, que entendeu nosso ministério e disse que nos ajudaria, então eu disse: ‘Ok’.

E a verdadeira razão pela qual entramos nas mídias sociais é que queremos conhecer os jovens. Eu nunca ministrei, de verdade. Nunca fiz nenhuma evangelização real, nem estive realmente ligado aos jovens; esse nunca foi o meu ministério. Mas acontece que os jovens estão interessados nessas coisas e ficam fascinados por elas.

Eu disse: ‘Bem, ok, vamos tentar, ver o que acontece’. E fez sucesso. Cada vez que faço um vídeo, recebemos cerca de 100 mil espectadores. Temos 93 mil pessoas no Instagram. Tivemos 12 milhões de visualizações em um ano e meio. Nunca anunciamos coisa alguma, simplesmente decolou.

De vez em quando alguém fica com raiva de nós, mas tudo bem. Na verdade, está realmente repercutindo entre os jovens.

O POVO - Então é uma comunidade muito positiva no TikTok?

Monsenhor Stephen Rossetti - É, mas isso é importante, porque tem muita coisa no Tiktok que não é boa. Existe uma coisa chamada “WitchTok”. “WitchTok” teve 18 bilhões de visualizações até 20 de outubro de 2022… Meus 12 milhões não são nada comparados a isso. Então teremos um problema.

Como eu disse, não tenho água benta suficiente para exorcizar 18 bilhões de pessoas, então cada vez mais pessoas estão gritando por exorcistas. Claro que elas estão, você mexe com magia por alguns anos.

O POVO - As pessoas sempre se envolveram com magia e o oculto. Qual o diferencial agora?

Monsenhor Stephen Rossetti - Não como agora. Quando eu tinha 22 anos, ninguém sequer… Quero dizer, a noção de que alguém estivesse envolvido em bruxaria? Era absurda, ninguém iria fazer isso. Mas com todas as coisas de hoje…

Na minha escola, a pior coisa que você poderia fazer era fumar no banheiro. Esse era o pecado mortal.

O POVO - E por que você acha que esse interesse acontece?

Monsenhor Stephen Rossetti - Eu acho que o motivo, como o padre (Gabriele) Amorth, o famoso exorcista disse, é que quando você para de acreditar no cristianismo, você vai acreditar em qualquer coisa. Eu tenho pessoas que me dizem todo tipo de coisas estúpidas. Você sabe: ‘Satanás é seu amigo’; ‘Baphomet é seu amigo’; ‘Ele vai te dar o que você quer, não se preocupe com ele’.

Uma jovem me disse uma vez que podia controlar os demônios. Eu quero que você imagine isso. Ela tem cerca de 24 anos. Ela disse que não há problema: ‘Eu invoco os demônios, mas posso controlá-los’. Que loucura! Você acha que controla demônios? Eu posso expulsá-los porque a Igreja me deu autoridade, mas não posso controlá-los. Posso simplesmente expulsá-los. Você acha que controla demônios? Os demônios estão controlando você.

O POVO - Como você aborda as suas discussões sobre exorcismo com pessoas que se consideram céticas sobre o assunto?

Monsenhor Stephen Rossetti - Eu não abordo. Eu só posto meus vídeos, eles podem fazer o que quiser com eles (sorri). E as pessoas gostam, na verdade. Se você olhar os comentários, eles são normalmente positivos, é até surpreendente.

Eu só falo a verdade, não invento nada disso, sabe? Então, eu só falo a verdade, e as pessoas parecem gostar.

Vamos receber comentários negativos, mas eu vou fazer 73 anos neste ano. Se alguém não gosta de mim, bem… Eu estou fazendo o melhor que posso, e é assim que as coisas são. Não estou preocupado com isso.

O POVO - Qual conselho você daria para aspirantes a exorcistas ou indivíduos interessados em explorar essa interseção entre espiritualidade e saúde mental com base em sua própria jornada?

Monsenhor Stephen Rossetti - Eu diria para não ficar muito envolvido nisso. Algumas pessoas lêem todos os livros que podem, assistem a todos os filmes, se autoproclamam especialistas… Não se incomodem em fazer isso.

Deveríamos acreditar que existe, saber um pouco sobre isso. Só não fique muito fascinado pelo mal, porque é horrível, mas não o subestime. É real, leia a Bíblia. Jesus acreditou em exorcismos e os fez. Nós também.

Eu conheci um homem que foi possuído. Ele estava vivendo uma vida um pouco pecaminosa e então começou a ir para todas essas casas mal-assombradas e lugares demoníacos, até que foi possuído, porque estava vivendo uma vida pecaminosa e ficou pecaminosamente interessado em todas essas coisas, curioso demais. Então sim, estamos cientes disso. Mas não exagere.

Muitas vezes as pessoas dizem que temos fantasmas… Mas temos demônios. Poderia haver fantasmas? Bem, a igreja nunca disse sim ou não. Eu pessoalmente acredito que possam existir. Mas na maioria das vezes, quando você pensa que existem fantasmas, você tem demônios, e eles estão brincando, então é preciso ter cuidado com isso.

Não faça amizade com ‘Gasparzinho, o fantasma amigável’, porque você provavelmente está indo na direção de um demônio, e ele está brincando com você.

O POVO - Além de exorcismos, você também é capelão do time de beisebol Washington Nationals. Como é a sua experiência no esporte?

Monsenhor Stephen Rossetti - Eu estava lá em 2019, quando vencemos a World Series. Acho que é um equivalente da Copa do Mundo para os brasileiros. Não quero exagerar, mas realmente foi, para mim, uma experiência espiritual… Muito emocionante. Então, o Senhor me abençoou com isso.

Eu sou o capelão. Sou um cara velho, tenho a idade do avô deles. Então eles, mesmo os jogadores que não são católicos, me pedem: ‘Padre, venha abençoar minhas costas, abençoe meus joelhos, está doendo’.

Eu converso com eles, principalmente quando não estão muito bem, se sentindo mal. Eu apenas digo: ‘Bem, Deus ainda te ama, mesmo que você não esteja jogando tão bem’.

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