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"Sem demora, a gente vai bater um título de maior expressão", avisa João Ricardo, do Fortaleza
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"Sem demora, a gente vai bater um título de maior expressão", avisa João Ricardo, do Fortaleza

Goleiro de 35 anos diz que vice-campeonato da Sul-Americana em 2023 ficou "engasgado", destaca patamar do Tricolor, exalta Vojvoda e desejar jogar por mais quatro temporadas
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FORTALEZA, CEARÁ,  BRASIL- 28.04.2024: João Ricardo. Fortaleza x Bragantino. Arena Castelão. Campeonato brasileiro série A. (Foto: Aurélio Alves (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL- 28.04.2024: João Ricardo. Fortaleza x Bragantino. Arena Castelão. Campeonato brasileiro série A. (Foto: Aurélio Alves

Em 16 anos de carreira profissional, a história do gaúcho João Ricardo Riedi se cruza com o futebol cearense. Titular absoluto do Icasa na histórica campanha da Série B de 2013, em que o Verdão do Cariri quase chegou à elite nacional, o goleiro retornou ao Estado oito anos depois para vestir a camisa do Ceará. Após duas temporadas em Porangabuçu, hoje defende o Fortaleza e alimenta sonhos antes de pendurar as chuteiras — e as luvas —, o que projeta que só deverá ocorrer dentro de quatro anos.

Prestes a completar 80 jogos pelo Tricolor, o camisa 1 já viveu diversas emoções — boas e ruins — no Pici: foi campeão estadual em 2023, foi peça importante na caminhada até a inédita final da Sul-Americana e brilhou na decisão com duas defesas de pênaltis, mas viu a equipe sair com o vice-campeonato; neste ano, foi um dos feridos no atentado contra a delegação em Pernambuco e, dentro de campo, voltou a brilhar em decisão por penalidades, mas não foi o suficiente para evitar o título do Ceará, seu ex-clube, no Campeonato Cearense.

Feliz no Leão, João Ricardo não poupa elogios ao técnico Juan Pablo Vojvoda, confirma o desejo de conquistar a Sula em 2024, projeta um título de maior expressão do clube em breve e relembra o início e projeta o final da carreira de jogador profissional.

O POVO - O Fortaleza teve oscilações no início de 2024, foi vice-campeão estadual e agora parecer viver um novo momento. Qual foi a virada de chave?

João Ricardo - Futebol é muito fase. Nós tivemos 10, 12 dias de pré-temporada, mudaram muitos jogadores, então leva um tempo de adaptação. E é natural o time oscilar durante a competição. Você vai ganhar cinco jogos jogando muito bem e vai ter uma sequência ruim de três, quatro jogos. Às vezes, nesses três, quatro jogos pode ter uma final de campeonato, uma decisão por pênaltis, pode ter de tudo. Mas o Vojvoda é um cara muito sereno, muito tranquilo. Por mais que, em alguns momentos, as coisas não venham dando certo, ele continua acreditando no trabalho dele, se for preciso ele muda o esquema tático. Às vezes você tem três, quatro derrotas seguidas e está jogando em um 4-4-2, está tomando muitos gols. O que ele faz? Muda para uma linha de cinco (defensores), com três zagueiros defendendo bem, se preocupando primeiro em não tomar gol. E, na maioria das vezes, vem dando certo. Ele é muito inteligente, procura sempre passar muita tranquilidade para o seu elenco, pode ver nas coletivas que ele é um cara sempre muito seguro, muito positivo nas falas. Futebol tem momentos de alta e de baixa, são fases boas e momentos que o time oscila e tem que ter tranquilidade, continuar trabalhando, seguir acreditando no projeto que foi montado no início do ano. Às vezes vem pressão externa? Vem, mas tem que continuar trabalhando, seguindo com o mesmo espírito e o mesmo foco.

OP - O Vojvoda foi o melhor treinador da sua carreira? Você trabalhou com o atual técnico da seleção brasileira (Dorival Júnior), por exemplo...

João - (risos) É uma pergunta... É difícil te responder, porque trabalhei com muitos treinadores bons. O Vojvoda é um cara tranquilo, que passa muita confiança. O Fortaleza é um clube muito familiar, então o jogador que vem para cá se sente muito à vontade. Posso dizer que sim, o Vojvoda é um cara muito bacana, excelente treinador. Tem tudo para crescer muito mais na carreira. É um cara que eu tenho um carinho, um respeito, uma admiração. Eu não podia falar de outro treinador, foi ele que me trouxe para cá, então sou muito grato a ele e a tudo que estou vivendo aqui.

OP - No ano passado, vocês fizeram uma grande campanha na Sul-Americana e ficaram com o vice. É um sonho conquistar esse título?

João - Com certeza. A gente viu no ano passado que ficou muito palpável. Ninguém imaginava que o Fortaleza ia chegar na final da Sul-Americana, e a gente chegou. Então a expectativa esse ano também é muito grande. Ficou um pouquinho engasgado, podia ter acontecido, mas futebol é detalhe e, às vezes, as coisas não acontecem. Com certeza esse ano a gente vai fazer de tudo (pelo título). A gente começou a Sul-Americana muito bem, não conquistamos nada ainda, estamos na liderança (do Grupo D), mas a gente vai trabalhar. A gente sabe que é difícil chegar lá, mas o ano passado já demonstrou que é possível. A gente vai trabalhar muito para esse ano chegar de novo e, quem sabe, conquistá-la.

OP - Para vocês, jogadores, qual é a sensação de disputar essas grandes partidas, como foi diante do Boca Juniors?

João - O torcedor do Fortaleza está se acostumando a jogar jogos grandes. Teve há dois anos, ano passado, esse ano e todo ano está em uma crescente muito positiva. Quando tem jogos decisivos, o torcedor lota, faz uma festa gigantesca. Isso é bom, faz o Fortaleza ser reconhecido não só nacionalmente, nacionalmente já está muito, mas na América do Sul, internacionalmente, e isso é muito gratificante. E nós, como atletas, pode estar participando de tudo isso, esses jogos decisivos... A gente só tem que agradecer. A cada jogo desses, você estar podendo entrar na história... Talvez, daqui a quatro anos você vai falar: "Ah, teve aquele time que ganhou do Boca, lá no Castelão", aí você vai ver a escalação e está lá, você vai ser lembrado. Você fica para a história do clube, marcado. Não tem o que pague. Para mim, é a realização de um sonho estar podendo jogar... Estava comentando até com outros colegas: é uma sensação única estar podendo jogar o que a gente jogou contra o Boca Juniors.

OP - Vocês almejam conquistar títulos de expressão nacional ou internacional? É possível?

João - O Fortaleza está em uma crescente muito grande, em questão de campeonatos, contratações. Os jogadores que estão vindo para cá são de clubes gigantes pelo Brasil e também pela América. E o Fortaleza vem trabalhando muito para isso. Ano passado, quando eu cheguei aqui, se falava muito: "Nós vamos bater na Sul-Americana (conquistar o título)". No detalhe, a gente não conseguiu. Por todo o trabalho que vem sendo feito há quatro, cinco anos, está próximo. O momento está cada vez mais próximo. A gente vem trabalhando muito para uma Copa do Brasil, uma Sul-Americana. A gente acredita que, sem demora, vai bater um título de maior expressão.

OP - Você teve a oportunidade de trocar de clube, mas permanecer na cidade. Como foi a adaptação a Fortaleza, tanto sua quanto da família?

João - Desde que eu cheguei aqui, jogando pelo Ceará, a gente sempre gostou muito da cidade. Confessar para você que a troca de um rival pelo outro nunca é fácil, é uma escolha difícil, mas são escolhas. A gente tem que procurar o melhor para a nossa família. Minha família está adaptada aqui, em escola, tem amigos na escola, minha esposa tem amigos, eu já tenho amigos fora do meio do futebol. Isso pesa muito no momento das escolhas. Já estou com 35 anos. Para goleiro, ainda mais, quanto mais tempo você passa num clube é melhor. Estou muito feliz aqui, o torcedor já vem me abraçando há muito tempo, desde que eu cheguei. Espero que a gente fique aí por muito tempo.

OP - Hoje a carreira de goleiro tem uma duração maior, mas você já pensa em aposentadoria?

João - Eu pretendo jogar, pelo menos, até... Eu não sou um goleiro pesado, sou um goleiro rápido, leve. Pretendo jogar mais uns quatro anos, acho tranquilo até uns 39 anos, de boa, em alto nível. Mas a gente nunca sabe, né? Futebol, às vezes, podem vir lesões, coisas inesperadas. Mas eu me cuido muito, sou um cara muito tranquilo, prezo muito pelo descanso, não sou de ficar bebendo muito... Lógico, não vou comentar: "Ah, a gente não bebe". Eu bebo uma cervejinha, isso é coisa natural, mas procuro não me embriagar, sempre manter meus repousos, dormir bem, me alimentar bem. Isso ajuda muito o atleta.

OP - Como foi a sua trajetória antes de se tornar jogador e o início da carreira profissional?

João - Eu nasci numa cidadezinha no interior do Rio Grande do Sul, Mariano Moro, uma cidade de 13 mil habitantes. Meu pai é agricultor, tem alambique, então minha infância inteira foi cortando cana com meu pai, moendo cana e trabalhando de alambique. Eu comecei no futebol com 18 anos. Fazia faculdade, fiz um ano e meio de Educação Física. Sempre joguei no gol, aí gerou possibilidade, um sonho que eu tinha, de jogar futebol com 18 anos já. Fazia faculdade e treinava no Concórdia-SC. As coisas foram evoluindo, fui pegando gosto e larguei faculdade, larguei tudo para seguir esse rumo do futebol. Lógico, o início não é fácil, você começa em um clube de menor expressão, mas sempre com o pensamento positivo. Um menino humilde, que veio do interior, querendo vencer na vida. Hoje, graças a Deus, estou colhendo os frutos de tudo isso, de tudo que meu pai e minha mãe sempre acreditaram, tudo que eu acreditei. Estou colhendo os frutos da humildade que eles me ensinaram e eu só tenho que agradecer a eles, porque me incentivaram muito. Por mais que eu tenha vindo de família humilde, no momento que eu mais precisei, eles estavam sempre lá, me dando apoio, suporte e me mantendo com os pés no chão. Sou muito grato a eles e feliz por tudo que vivi. E tenho certeza que tenho ainda muita coisa para viver no meio do futebol.

Pós-vitória

João Ricardo recebeu a reportagem no Pici um dia depois do triunfo histórico sobre o Boca Juniors, pela Sul-Americana

Dono da vaga

Para 2024, o Fortaleza contratou o experiente goleiro Santos, ex-Flamengo e seleção brasileira, mas João se manteve na posição

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