O tempo começava a ficar nublado quando centenas de fiéis tomaram as ruas no entorno da Catedral Metropolitana de Fortaleza, no Centro da cidade, no fim da tarde desta sexta-feira, 29, para dar início à tradicional Procissão do Senhor Morto, realizada a cada Sexta-Feira da Paixão. Caminhada reuniu católicos de todas as idades, sozinhos ou em família - que mesmo em meio ao calor e a um rápido resquício de chuva se fizeram presentes para relembrar a morte de Jesus Cristo.
O rito marca a devoção popular, realizada logo após a Celebração da Paixão e Morte do Senhor, presidida na catedral pelo arcebispo de Fortaleza, dom Gregório Paixão. Conduzindo o momento pela primeira vez como líder da Igreja Católica local, o sacerdote se mostrou satisfeito com a adesão dos fortalezenses à cerimônia.
"O povo de Fortaleza é profundamente piedoso e (...) adere a tudo aquilo que ele percebe que pode ajudar no seu crescimento pessoal e humanitário. É um povo muito querido e já muito amado", declarou.
"(A procissão) significa a imagem de um povo que crê e que através dessa caminhada mostra um desejo imenso de seguir Jesus Cristo, mas ao mesmo tempo de transformar os lugares por onde caminha. Essa caminhada significa a caminhada do povo de Deus, com suas alegrias e dificuldades, com seu desejo imenso de buscar novos caminhos, nova vida e um novo exercer", afirmou, durante a celebração.
A devoção dos católicos se mostrou visível já durante a missa. Com os assentos do espaço lotados, muitos se acomodaram no chão ou levaram cadeiras e bancos para assegurar um lugar qualquer para prestigiar o momento. Mesmo com o calor, o local permaneceu cheio.
Quando teve início a procissão, o céu começou a ficar nublado e a sensação de "abafado" não se desfez. Devotos partiram na caminhada revezando as mãos com seus terços, garrafas de água, bancos e abanadores, enquanto entoavam cânticos e preces. Eles seguiram a imagem de Jesus por vias do entorno da Catedral, em um gesto para lembrar da morte de Cristo, que depois de morto foi levado à sepultura.
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A procissão chamou a atenção por onde passava, atraindo mulheres, homens e crianças para janelas e portões das casas do percurso. Entre os que caminhavam estava a enfermeira Josane Pereira, 55, que afirmou sempre comparecer no rito religioso.
"(A caminhada) é o amor por Jesus. Tudo que ele faz pela gente, precisamos retribuir um pouco. Isso aqui é um mínimo que a gente pode fazer", disse ela, carregando um abanador para amenizar o calor.
Já para o vendedor Luciano Tomé, 35, a procissão teve um sentido mais pessoal. Ele levou pela primeira vez os três filhos e caminhava com um deles, de três anos, sentado em seu ombro e atento a todos os passos que faziam juntos. "Para mim é uma grande graça. Eu não tive essa experiência com meus pais. É uma grande graça poder testemunhar para eles (filhos) esse mistério da fé", afirmou.
Como se fosse uma resposta do futuro, a poucos passos dali estava o servidor público Francisco José, 54, que começou a participar da procissão desde criança, levado pelos pais. "Eu herdei (o costume de ir para o rito) de tradição dos meus pais e dos meus avós também", relembra. Quando ele e os demais fiéis retornaram à catedral, uma chuva fina começou a cair, bem a tempo do fim da caminhada.