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Fortaleza tem fortes chuvas na madrugada de segunda e registra 71 ocorrências
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Fortaleza tem fortes chuvas na madrugada de segunda e registra 71 ocorrências

Balanço se refere ao período entre as 18h de domingo, 12, até as 18h dessa segunda-feira, 13
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FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL,13.05.2024: Rua Alfeu Aboim ficou alagada. Papicu (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL,13.05.2024: Rua Alfeu Aboim ficou alagada. Papicu

Após fortes chuvas, Fortaleza registrou 71 ocorrências das 18 horas de domingo, 12, até 18 horas de segunda-feira, 13, conforme balanço da Defesa Civil. Foram 44 alagamentos, 16 riscos de desabamento, seis inundações, três solapamentos (afundamento do solo) e dois desabamentos parciais, sem gravidade.

No período entre as 7 horas de domingo, 12, e as 7 horas de segunda, 13, a Capital recebeu uma média de 87,9 milímetros (mm). Durante o período observado, a Capital registrou o maior acumulado do dia no Estado, com 110 milímetros (mm), no Posto Fundação Maria Nilva/Água Fria.

O segundo e o terceiro maior registro do dia também ocorreram na capital cearense, com 101,4 mm no Posto Caça e Pesca e 100 mm no Posto da Defesa Civil de Fortaleza. 

Ainda de acordo com o boletim diário da Funceme, os municípios de Pindoretama e Uruburetama também registraram altos acumulados no dia, com 94 mm e 88 mm, respectivamente. 

De acordo com as análises realizadas pelo órgão, as chuvas observadas em Fortaleza e na RMF foram ocasionadas por um Sistema Convectivo de Mesoescala que se formou em torno das 23h do domingo.

"O ápice ocorreu entre 1 hora e 2 horas da madrugada de segunda sobre a macrorregião do Litoral de Fortaleza, especificamente sobre a Capital, provocando chuvas intensas, com acumulados que superaram os 30 mm/h", detalha a Funceme. 

O sistema perdeu intensidade a partir das 2 horas, quando foi observada a diminuição das chuvas. O Sistema Convectivo de Mesoescala, conforme detalha a Funceme, "é formado por um conjunto de nuvens cumulonimbus, que são nuvens que provocam chuvas intensas (grandes volumes em pouco tempo), com ocorrência de raios, trovões e ventos fortes, inclusive rajadas".

A Capital registrou 12 semáforos apagados, de 1.075 equipamentos. Segundo a AMC, os semáforos voltaram a operar ainda pela manhã. 

As chuvas registradas na madrugada resultaram em ocorrências também na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Na BR-222, em Caucaia, dois trechos foram interditados após o transbordamento de um dos braços do Rio Siqueira. 

Considerando os primeiros 13 dias de maio, o último da quadra chuvosa do Estado, o volume acumulado está na categoria "abaixo da média". Foram observados 25,99 mm. Um desvio negativo de 71,5% diante da normal para os 31 dias, que é de 90,7 mm.

Previsão de chuvas para hoje e amanhã

Conforme a Funceme, o centro-norte e os extremo sul do Ceará deverão concentrar os principais acumulados de chuva até a próxima quarta-feira 15. Para esta terça-feira, 14, a expectativa é de chuvas isoladas entre madrugada e manhã é ao longo da faixa litorânea do estado. Entre a tarde e a noite, a Funceme aponta possibilidade de precipitações fracas e passageiras na Ibiapaba e no Cariri.

À noite, o Cariri deve apresentar chuvas fracas e passageiras devido a áreas de instabilidade que poderão se formar no leste do Nordeste e avançar para a região. Na quarta, a tendência é de céu variando de parcialmente nublado a poucas nuvens em todas as macrorregiões, com chuva isolada no Litoral de Fortaleza, Litoral do Pecém, Litoral Norte e Ibiapaba.

De forma geral, as precipitações esperadas são de fraca intensidade, mas pontualmente podem ser moderadas, principalmente, nas regiões serranas. O órgão explica que a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) não está influenciando as chuvas no estado do Ceará. Portanto, as chuvas são devido a efeitos locais, tais como, efeito de brisa, temperatura e disponibilidade de umidade. 

Colaborou Taynara Lima

BR-222

Dois trechos da BR-222 foram interditados durante a madrugada desta segunda-feira, 13, em Caucaia, município da Região Metropolitana de Fortaleza. Os bloqueios aconteceram entre os quilômetros (km) 3 e 5 da rodovia e foram causados devido ao transbordamento de um dos braços do Rio Siqueira.

FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL,13.05.2024: Alagamento no Conjunto Ceará.
FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL,13.05.2024: Alagamento no Conjunto Ceará.

Alagamentos são registrados em diferentes bairros

Diversos moradores e donos de estabelecimentos comerciais registraram prejuízos devido aos alagamentos causados pelas intensas chuvas que atingiram Fortaleza durante a madrugada desta segunda-feira, 13. De acordo com a Defesa Civil municipal, mais de 20 bairros tiveram ocorrências de inundações que precisaram de atendimentos. Além dos danos materiais, os alagamentos também abalam o psicológico daqueles que enfrentando essas situações com recorrência.

Cenário que se repete em cada bom inverno cearense, o canal do bairro Conjunto Ceará voltou a transbordar após as chuvas que superaram os 100 milímetros. O POVO percorreu a Avenida C e suas vias vizinhas e percebeu uma população ainda avaliando os estragos e tentando superar as perdas.

Nas proximidades do Canal ainda com águas furiosas, encontramos o senhor Francisco de Assis, conhecido como Camelo. Ele observava os buracos causados na estrutura da ponte após as fortes chuvas. "Foi uma coisa horrível. [A água] subiu muito rápido e, graças a Deus, desceu rápido também, senão o estrago era maior", ele conta se lembrando da chuva.

O idoso relata que mora, junto da filha e do genro, em uma casa térrea na Avenida C, que fica paralela ao Canal. "Acordei de madrugada, era quase 3 horas. Eu escutei um barulho e senti uma movimentação em casa. Estranhei e, quando botei o pé no chão, senti a água. Levantei e vi que já tava batendo na cintura", relata.

Segundo Seu Francisco, que também é conhecido como Camelo, além do provável dano em móveis feitos de um material mais frágil, a geladeira da casa também foi danificada.

Ainda na Avenida C, encontramos a dupla Pedro Ângelo, 38, e Elissandro Fernandes, 32. A dupla, que trabalha em uma galeteria, conta que, apesar de mais elevado, o estabelecimento comercial também ficou inundado. "Entrou água demais. Desde cedo que a gente tenta limpar tudo. Infelizmente, perdemos dois friezers", diz Pedro.

Mas são nas ruas adjacentes ao Canal onde é possível avistar, com mais ênfase, o cenário de tristeza após a repentina perda de muito do que se tem. Pelas calçada, famílias colocam sofás, camas para secar; bem como eletrônicos e eletrodomésticos, na esperança que voltem a funcionar após secos.

Adna de Oliveira, 43, nos convida para adentrar em sua casa e nos mostra os danos que ficaram após uma madrugada conturbada. Ela conta que acordou com o chamado do filho. "Ele disse: 'Mãe, a casa tá cheia d'água'. Nesse momento, a água já estava na nossa cintura. Minha filha, que é pequena, tava quase toda coberta de água".

Tutora de dois cachorrinhos, a moradora ainda diz que sentiu angústia ao abrir a porta do pátio de casa, onde os bichinhos passam a noite, e ver eles nadando na água. "A gente se desesperou ao ver eles nadando e colocamos eles pra dentro", relata.

 

Apontando para as paredes, ela diz que a água atingiu uma altura de cerca de 50 centímetros. "Molhou tudo: as camas, guarda roupas. Eu não sei se a geladeira vai escapar, vamos colocar no sol e ver no que dá. Na confusão, meu celular também caiu na água e foi perda total. Eu e meu marido nem fomos trabalhar limpando tudo", diz a moradora.

No outro extremo da cidade, pontos de alagamento também foram registrados no bairro Papicu. Durante a madrugada desta segunda-feira, 13, vias nas proximidades da Avenida Engenheiro Alberto Sá registraram acúmulo de água, que assustou moradores e também causou prejuízos.

Por volta do meio-dia, mesmo após o escoamento da maior parte da água acumulada, a rua Alfeu Aboim ainda estava parcialmente coberta. A maioria dos condutores evitava passar pela via e, quando se arriscavam, reduziam a velocidade receosos pelos danos aos veículos ou de possíveis buracos escondidos na água turva. Quem olhava atentamente para o acumulado ainda podia avistar, inclusive, peixinhos nadando.

A casa de Magda Guimarães Ferreira, de 72 anos, foi uma das atingidas pelo alagamento da madrugada. Morando com o marido, também idoso, ela conta que notou o nível alarmante da água por volta das 2h30min. "Meu marido acordou primeiro e disse: 'Não desça da cama que a água já está no nosso quarto'. Apesar de apavorada, ficamos apenas esperando e, quando foi por volta de 5h, vimos que ela começou a abaixar", descreve.

Pela manhã, a moradora notou pelas marcas nas paredes que a água elevou-se cerca de 40 centímetros. Ao avaliar os estragos, além da umidade nos móveis, Magda Guimarães percebeu que uma geladeira, comprada há cerca de três meses, agora está sem funcionar.

Ela conta que, não somente na própria rua, mas que alagamentos severos são comuns na região. "A última vez foi em fevereiro deste ano mesmo. Choveu muito e a casa também amanheceu cheia de água. Isso é muito complicado para mim e para meu marido, que somos já de idade. A gente se desgasta fisicamente e emocionalmente".

Ao longo dos anos, Magda relata que já tomou algumas medidas para conter a água proveniente dos alagamentos. "Tudo que você possa imaginar eu já fiz. Instalei uma válvula que fecha quando a água sobe. Coloquei duas bicas jogando a água para fora. Coloquei também comportas nas portas de casa para barrar. Nada funciona totalmente e a gente ainda tem prejuízo", conta Magda.

Mesmo com os danos, a moradora diz que não pretende se mudar da residência, principalmente para "não passar o problemas para outros".

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