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Dia Nacional da Mata Atlântica: o aumento do desflorestamento no Ceará e seus impactos
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Dia Nacional da Mata Atlântica: o aumento do desflorestamento no Ceará e seus impactos

Estado cearense teve aumento de 15% do desmatamento do bioma entre 2022-2023, como mostra balanço divulgado pelo Atlas da Mata Atlântica
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PODER PÚBLICO: virou comum Município e Estado autorizarem desmatamento
Foto: FERNANDA BARROS PODER PÚBLICO: virou comum Município e Estado autorizarem desmatamento "legal" em Fortaleza e no interior do Ceará

Parte dos seis biomas que formam o Brasil e uma das regiões mais biodiversas do mundo. A Mata Atlântica é celebrada nacionalmente nesta segunda-feira, 27, no momento em que o Ceará fomenta debates sobre o assunto e se encontra entre os estados brasileiros com aumento do desmatamento desse ecossistema. 

Alerta é apontado no Atlas da Mata Atlântica, coordenado pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Lançado na última semana, o balanço mostra que o País teve redução de 27% do desflorestamento do bioma, com queda em grande parte das 17 unidades federativas que apresentam o ecossistema entre 2022-2023, comparado ao período de 2021-2022.

No entanto, foram de encontro as estatísticas gerais e registraram aumento os estados do Piauí, Mato Grosso do Sul, Ceará e Pernambuco. Na região cearense o desmatamento de área de mata correspondeu a 7 hectares, quando no intervalo passado índice foi de 6 hectares. 

Biomas que fazem parte do Brasil:

  • Amazônia
  • Caatinga
  • Cerrado
  • Mata Atlântica
  • Pampa
  • Pantanal.

O Estado tem ao todo 67 municípios com Mata Atlântica ou com resquício do bioma, situados nas regiões: Chapada do Araripe, Litoral, Chapada do Ibiapaba, Serra da Aratanha, Serra de Baturité, Serra do Machado, Serra das Matas, Serra de Maranguape, Serra da Meruoca e Serra de Uruburetama.

Municípios cearenses que possuem Mata Atlântica total ou parcialmente

  1. Camocim
  2. Itarema
  3. Granja
  4. Trairi
  5. Jijoca de Jericoacara
  6. Paraipaba
  7. Cruz
  8. Paracuru
  9. Acaraú
  10. São Gonçalo do Amarante
  11. Caucaia
  12. Beberibe
  13. Fortaleza
  14. Fortim
  15. Eusébio
  16. Aracati
  17. Aquiraz
  18. Icapuí
  19. Cascavel
  20. Ipueiras 
  21. Croatá
  22. Graça
  23. Guaraciaba do Norte
  24. Mucambo
  25. Ipú
  26. Ibiapina
  27. Reriutaba
  28. Ubajara 
  29. São Benedito
  30. Tianguá
  31. Flecheirinha 
  32. Santana do Acaraú
  33. Coreaú 
  34. Morrinhos
  35. Alcantaras
  36. Itapajé
  37. Meruoca
  38. Uruburetama
  39. Massapê
  40. Maracanaú 
  41. Maranguape
  42. Guaramiranga
  43. Guaiuba
  44. Mulungu
  45. Palmácia
  46. Aratuba
  47. Pacoti
  48. Redenção
  49. Baturité 
  50. Acarape
  51. Barbalha
  52. Umirim
  53. Crato
  54. Marco
  55. Pindoretama
  56. Pacatuba
  57. Amontada
  58. Viçosa do Ceará
  59. Itapipoca
  60. Mucambo
  61. Tururu
  62. São Benedito
  63. Barroquinha
  64. Chaval
  65. Uruoca
  66. Missão Velha
  67. Bela Cruz

Além da área de mata suprimida, o Ceará perdeu 526 hectares de restinga arbórea em 2022-2023, sendo a unidade da federação que mais degradou essa parte integrante do ecossistema, conforme balanço.

Seja no Ceará ou no restante do Brasil, a degradação desse bioma, considerado patrimônio nacional pela Constituição Federal de 1988, tem impactos que podem ser irreversíveis. Isso porque a Mata Atlântica é composta por formações florestais nativas, como a Floresta Ombrófila Densa e a Mata de Araucárias, e tem como ecossistemas associados manguezais, vegetações de restingas, entre outros. 

De acordo a bióloga Juliana Borges, essa composição torna o ecossistema "essencial para a manutenção da vida" no geral. Ela explica que o bioma atua como habitat para flora e fauna, abrigando os animais silvestres da zona urbana, e que muitas dessas espécies são encontradas somente nessas áreas.

"Além do que a floresta protege os recursos hídricos urbanos dos processos erosivos e de assoreamentos. A Mata Atlântica é uma das regiões mais biodiversas do mundo e de extrema importância ambiental para a regulação do clima e do abastecimento de água na região e arredores, bem como atua como zona de amortecimento de cheias nas fortes chuvas", destaca ainda a profissional. 

Borges pontua que, diante desse contexto, o desmatamento do bioma pode acarretar em consequências sérias para as espécies e para a vida humana. "(A degradação) Vai reduzir, inicialmente, a vegetação, consequentemente os microhabitats para abrigar as espécies, a oferta de alimentos, entre outros impactos negativos. A biodiversidade reduzirá, podendo impactar a população de espécies importantes para a manutenção da cadeia alimentar e o equilíbrio ecológico", frisa a especialista. 

Rafael Carvalho, coordenador da Pós Graduação em Ecologia e Recursos Naturais da Universidade Federal do Ceará (UFC), reforça que o desmatamento pode fazer com que muitas espécies deixem de existir.

Além disso, ele pontua que o bioma fornece serviços ecossistêmicos importantes. Entre eles está a estabilização dos sedimentos na zona costeira e a prevenção de problemas como avanço do mar, assoreamento dos rios e garante ainda a manuntenção da qualidade do ar e do fornecimento de água.

"As consequências (do desmatamento) a gente pode ver a cada inverno, a cada período de chuvas no País, alagamento das grandes cidades, deslizamentos, comprometimento da qualidade da água dos reservatórios, muito desses problemas é em função da perda desses serviços", completa o biólogo. 

Desafios para combater o desmatamento

Dias antes da divulgação dos dados o desmatamento da mata atlântica passou a fomentar discussões no Ceará, quando organizadores do Fortal 2024 anunciaram a mudança do evento para um terreno no Aeroporto Pinto Martins, enfrentando contestação de órgãos ambientais, biólogos e ativistas.

Espaço teve 1,74 hectare de mata degrado em preparação para o festival. Na última quarta-feira, 22, um relatório do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) comprovou que a vegetação do local faz parte da mata atlântica. A empresa organizadora do evento chegou a ser autuada e após imbróglio voltou atrás na decisão, anunciando que festa retornará à Cidade Fortal já existente, no bairro Manoel Dias Branco.

De acordo com Fernando Bezerra, secretário executivo da Secretaria de Meio Ambiente e Mudança do Clima (SEMA), a pasta, ao lado da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), tem procurado realizar ações efetivas para garantir a preservação do meio ambiente no Ceará.  

Entre ações realizada está, por exemplo, o reflorestamento de regiões que foram degradadas. No entanto, o representante frisa a importância dos municípios cearenses agirem para evitar o desmatamento. 

A Lei nº 11.428/06 da Mata Atlântica, aprovada em 2006, destaca que as cidades devem "assumir sua parte na proteção" das florestas, assumindo mecanismo como o Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica (PMMA). Ferramenta "reúne e normatiza os elementos necessários à proteção, conservação, recuperação e uso sustentável da Mata Atlântica".

Conforme Fernando Bezerra, apenas o município de Capistrano está atualmente com esse instrumento "praticamente concluído".  "A maioria dos municípios ainda nem pensam nisso. É uma obrigação do município que tem Mata Atlântica", destaca o representante. 

 

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