A expansão da facção criminosa conhecida como "Nova Okaida" ou "NKD" da Paraíba para o Ceará data de meados de agosto de 2023. No dia 16 daquele mês, foi publicada uma música no site Youtube que anunciava a expansão da organização em municípios cearenses localizados na divisa com a Paraíba, como Ipaumirim e Baixio. "Quebrada de mil grau dentro de Ipaumirim / Se não fechar com a NOVA, tá pedindo pra cair / Dentro do Ceará a facção expandiu, levantando a bandeira" (SIC), dizia a letra do funk.
A música foi o ponto de partida de uma investigação da Polícia Civil do Ceará, batizada de operação "Continere". No último dia 4 de junho deste ano, foram cumpridos 20 mandados de prisão, sendo sete contra pessoas que já estavam presas.
Na última terça-feira, 9, a Justiça aceitou denúncia do Ministério Público Estadual (MPCE) contra 22 pessoas identificadas pela Polícia Civil como integrantes da facção paraibana, que seria a 6ª facção que tentava atuar no Ceará.
O POVO teve acesso à denúncia, realizada pela Delegacia Municipal de Ipaumirim com apoio do Departamento de Polícia Judiciária do Interior Sul (DPJI-Sul). Conforme a investigação, Fabrício Gomes Cândido, conhecido como Fabinho ou FB, era o principal chefe da facção em Ipaumirim e Baixio. Mesmo preso em uma penitenciária paraibana, ele continuava a coordenar o tráfico de drogas na região, afirmou o MPCE.
"Foi possível verificar que FB era administrador dos grupos de Whatsapp relacionados à organização criminosa, por meio dos quais repassava determinações aos membros da facção, através de 'informativos', definindo de quem a droga deveria ser adquirida, comunicando o afastamento de membros, fazendo cobranças, dentre outros assuntos", consta na denúncia.
"Eu só tenho mesmo no Baixio meus três cantinhos lá que vendo droga lá, que é o menino do pó, da maconha e do óleo (...) Minhas quebradas mesmo é pro lado de Ipaumirim, entendeu?", diz Fabrício em um dos áudios obtidos pela investigação, conforme descrito na denúncia do MPCE. Essas gravações datam de agosto de 2023.
A Polícia Civil ainda identificou que entre março e novembro de 2023, uma conta de Fabrício recebeu 604 transferências via Pix, que totalizaram mais de R$ 35 mil. "Além disso, efetuou 1.027 (mil e vinte e sete) transferências, totalizando R$ 35.166,74 (trinta e cinco mil cento e sessenta e seis reais e setenta e quatro centavos), movimentações totalmente incompatíveis para quem se encontra preso", afirmou o MPCE.
Fabrício respondia, em 2023, a uma ação penal como integrante da facção Guardiões do Estado (GDE), mas, ao ser transferido para a Colônia Penal Agrícola de Sousa/PB, teria passado a integrar a NKD. Apesar disso, áudio de janeiro de 2024 aponta que Fabrício teria deixado a facção: "A cidade aí já tem um novo frente já (...) minha facção agora é apenas Deus, entendeu?", afirmou ele.
Outro homem que aparece nas investigações como tendo cargo de liderança na facção e que também teria movimentado uma grande quantia em dinheiro é Geraldo José Leite, conhecido como Dadinha ou DG, de 44 anos. De março a novembro de 2023, ele recebeu 2.698 transferências Pix, que movimentaram R$ 393.024,16, conforme o MPCE. Já a esposa dele, Maria Celimar dos Santos — conhecida como Mazinha, de 42 anos, também denunciada pelo MPCE —, recebeu entre janeiro de 2022 e novembro de 2023, 866 Pix que somaram R$ 138.332,95. Geraldo estava preso e, conforme a investigação, continuava as atividades criminosas por meio da esposa.
Caso a facção criminosa paraibana Nova Okaida (OKD) se estabeleça no Ceará, seria a sexta a atuar no Estado, somando-se a Comando Vermelho (CV), Guardiões do Estado (GDE), Massa Carcerária (ou Tudo Neutro — TDN), Primeiro Comando da Capital (PCC) e Terceiro Comando Puro (TCP).
Em dezembro de 2023, O POVO publicou matéria informando que a Polícia Civil investigava a expansão da Nova Okaida em Ipaumirim e Baixio. A reportagem relatava que a Nova Okaida também é conhecida como “Tropa do Vaqueirinho” e surgiu como uma espécie de “reestruturação” da facção conhecida como Okaida — que é uma corruptela do nome do grupo terrorista Al Qaeda.
Conforme a operação “Arpão de Netuno”, deflagrada em 2019 pela Polícia Federal, a facção é composta por três “eixos”. A “Palavra Final” é como é denominada a cúpula da facção, que, conforme a PF, em 2019, era integrada por Robson Machado da Silva, conhecido como “Ró”, e José Roberto Batista dos Santos, conhecido como “Betinho”. Já o segundo eixo é o “Conselho”, que, conforme a PF “é o grupo deliberativo responsável, em tese, por resolver questões de menor importância relacionadas à organização interna do grupo, conflitos relacionados ao convívio nos estabelecimentos prisionais e questões relacionadas ao descumprimento dos preceitos da Orcrim, composto por 15 integrantes responsáveis pela coordenação do tráfico de drogas nas principais cidades da Paraíba”.
Já o terceiro eixo é “responsável, em tese, pelo controle financeiro, atuando não só no registro da movimentação de recursos e distribuição dos lucros auferidos com o comércio de drogas, como também responsável pelo cadastro de novos integrantes”.
Tal como as demais facções, a NKD também possui um “estatuto”, que estabelece “leis” próprias da organização. Durante a operação Continere, a Polícia Civil cearense encontrou um vídeo em que uma mulher castiga, com golpes de mangueira, uma adolescente, em nome da facção. A punição teria ocorrido porque a adolescente fez uma live em que fazia brigadeiro com maconha e uma criança teria consumido a droga.
Quem foi denunciado
> Fabricio
Gomes Cândido
> Edilson da
Silva Vieira
> Geraldo
José Leite
> Emerson Mendes de Sousa
> Antônio Amâncio da Silva Filho
> Anderson Luiz de Lima
> Carlos da
Silva Luiz
> Taíse Priscila Maciel Nunes
> Maria Celimar dos Santos
> Kerfesson Pereira da Silva
> William de Sousa Moraes
> Jefferson Freire dos Santos
> Anderson Gonçalves Leandro
> Athirson Duarte de Aquino
> José Ednaldo Barbosa de Melo
> Jessilene Freire dos Santos
> Francisco Hércules Almeida Lima Campos
> Cirilo Mateus de Lima Neto
> Maria Adailsa de Sousa Correia
> David dos Santos Nascimento
> Renata Riani Lima dos Santos
> Manuel
Duarte Coelho.