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Em média, uma criança foi baleada por semana no Ceará no primeiro semestre
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Em média, uma criança foi baleada por semana no Ceará no primeiro semestre

IJF atendeu 32 casos de menores de 12 anos vítimas de disparos de arma de fogo de janeiro a junho deste ano. No ano passado, foram 58 casos
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MARCAS de tiros nas grades da Areninha do Jardim Violeta, onde uma criança de 10 anos morreu (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal MARCAS de tiros nas grades da Areninha do Jardim Violeta, onde uma criança de 10 anos morreu

No primeiro semestre deste ano, o Instituto Dr. José Frota (IJF), em Fortaleza, atendeu 32 crianças vítimas de disparos de arma de fogo, conforme dados repassadas pelo próprio hospital ao O POVO. Em todo o ano passado, foram baleados 58 menores de 12 anos. Os números representam uma média de uma criança baleada por semana. 

São casos como o ocorrido no último dia 16 de agosto, em que uma criança de seis anos foi baleada no bairro Vila Manoel Sátiro, em Fortaleza. O crime deixou um homem morto e uma mulher ferida. Os três trafegavam em uma moto na rua Rua Amaurilia Dutra quando foram alvo dos disparos. Até a publicação desta matéria, nenhum suspeito havia sido preso. 

Antes disso, no último dia 14 de junho, uma bebê de nove meses de idade foi baleada enquanto estava com a mãe na Praça do Mercado das Flores, localizada no bairro Joaquim Távora. Na ação, que foi flagrada por câmeras de vigilância, um homem foi morto.

Outro caso marcante ocorreu no dia 21 de junho na praça da Areninha do Jardim Violenta, localizada no Barroso. Na ocasião, Daniel Levy Cardoso Gomes, de 10 anos, e Francisca Ivone Vidal do Nascimento, de 48 anos, foram mortos. Outras oito pessoas ficaram feridas, incluindo quatro crianças (de 8, 9, 10 e 11 anos de idade) e quatro adolescentes (13, 15 e dois de 16 anos).

Conforme investigação da Polícia Civil, o crime foi praticado por integrantes da facção criminosa Massa Carcerária, que disputa com o Comando Vermelho (CV) o domínio da região. Os disparos teriam sido efetuados de forma aleatória, visando atingir qualquer pessoa que estivesse na praça no momento do crime. Enquanto Francisca Ivone assistia ao marido jogar futebol na Areninha, Daniel Levy brincava na praça.

Ao todo, duas crianças foram assassinadas neste ano no Estado, conforme dados da SSPDS. Além de Daniel Levy, Ana Karine da Silva Ferreira, de seis anos, foi morta em Caucaia (Região Metropolitana de Fortaleza) em 13 de março.

As investigações apontaram que o primo dela, um adolescente de 14 anos, foi quem a matou, após ter estuprado-a. No último dia 8 de agosto, a tia-avó, que era quem cuidava da menina, e a prima de Ana Karine foram denunciadas pelos crimes de homicídio culposo, fraude processual e ocultação de cadáver.

Um terceiro caso deve somar-se a essa estatística. O caso de Yasmin Bernardino Leitão, de nove anos, ainda não consta como homicídio nas estatísticas da SSPDS. Ela foi encontrada morta em 14 de agosto em uma linha férrea do município de Crateús, a 335 quilômetros de Fortaleza.

Yasmin teria sido raptada em Ipaporanga, município vizinho a Crateús, e, em seguida, estuprada e morta por um homem que foi encontrado morto dois dias depois.

O sociólogo Luiz Fábio Paiva, coordenador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará (UFC), relaciona os casos de crianças baleadas a uma nova dinâmica da violência urbana inaugurada pelas facções. Há ainda, conforme afirma, uma busca maior por controle territorial.

Isso faz com que essas disputas se dêem, por exemplo, com um maior número de pessoas, levando a um aumento dos riscos a pessoas que não sejam os alvos originais dos ataques. Há ainda dentro dessa dinâmica, destaca o professor, a resistência da outra parte e uma disposição maior para produzir duplos, triplos homicídios e chacinas.

“Quando você tem dentro de um território urbano grupos armados com disposição para trocar tiros, obviamente, este fato vai gerar uma letalidade que não vai atingir só aqueles envolvidos, ela vai transbordar”, afirma Paiva.

“Ela vai também acabar, em alguma medida, atingindo a população e esses números de crianças baleadas são muito ilustrativos desse fenômeno, de uma violência que transborda, que atinge a população mesmo”.

 

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