Um projeto da Universidade Federal do Ceará (UFC), na comunidade de Moita Redonda, em Cascavel, está mudando a realidade de artistas que trabalham com o barro. O Laboratório de Design Social da universidade está em fase de produção de um mapeamento completo com a produção de um catálogo para dar visibilidade à comunidade. Em entrevista à Caravana UFC 70 anos, a professora Lya Brasil Calvet, uma das responsáveis pelo projeto, explica que o mapeamento pretende criar um instrumento de comunicação para que Moita Redonda e o trabalho dos artistas sejam reconhecidos.
O POVO: O que é o Projeto Varal?
Lya Brasil Calvet: O Varal é um projeto de extensão de iniciativas em design social, que é um tipo de design que procura atender necessidades de pessoas invisibilizadas, que normalmente não teriam suas demandas atendidas em um contexto comum de mercado. O Varal foi criado em 2012 e atende a várias comunidades, mas no momento o foco é a comunidade de Moita Redonda, em Cascavel, onde já realizamos projetos desde 2017. Lá, trabalhamos com os artesãos de barro.
O POVO: Quais são as principais ações do Varal em Moita Redonda?
Lya Brasil Calvet: Para nós, sempre foi importante não somente mapear o território, mas também as relações pessoais, quem é familiar de quem, quem faz o quê, que tipo de barro e peças essa pessoa usa. Um dos nossos trabalhos foi o mapeamento social e cultural. Atualmente, o projeto é um catálogo de artesãos que reúne todas essas pessoas trabalhadoras do barro, incluindo mestres, auxiliares, colaboradores, especificando suas expertises.
O POVO: Quais são os principais objetivos do projeto?
Lya Brasil Calvet: A visibilidade dessas pessoas, tornar o mapeamento um instrumento de comunicação para que as pessoas conheçam Moita Redonda, seus artesãos e artesã e visitem a comunidade. Que possam entender onde ela está localizada geograficamente.
O POVO: Como a comunidade está sendo impactada?
Lya Brasil Calvet: A gente percebe o impacto positivo quando escutamos as pessoas dizerem que estão sendo visitadas, que estão conseguindo convites para exibir e vender suas peças. O impacto não está só no sentido externo, está no sentido interno do próprio projeto, de a gente ir até eles, trazer exibições do que temos feito, acompanhar o projeto para que eles possam dar feedback, fazer comentários, dizer se está funcionando, ou que melhoria pode ser feita. Então esse impacto é lento, mas duradouro e a gente está começando a vê-lo em uma escala mais externa. Temos já um produto em andamento, que é o catálogo de artesãos. Esperamos entregar esse produto para todos os membros da comunidade, os núcleos produtores de artesanato e servir como um modelo, de sistematizar o que fizemos até agora como um instrumento a ser utilizado por outras pessoas em diferentes comunidades do Brasil. Esperamos reunir a nossa metodologia, cabeça, corpo e coração, no qual paramos para identificar as necessidades, para fazer junto e finalmente implementar. Esperamos que essa metodologia seja passível de aplicação em outros contextos além do nosso.