Mais da metade (50,5%) das 22 mil pessoas que estão no sistema penitenciário atualmente, no Ceará, é de jovens até 29 anos e 43,2% se dizem evangélicos. Os crimes que mais levaram homens e mulheres a serem presos foram aqueles contra o patrimônio (44,5%), que incluem roubos e furtos. Os delitos que incluem entorpecentes, como tráfico e associação para o tráfico, representam 30%; enquanto os crimes contra pessoa, como homicídios e feminicídios, somam 27% na distribuição dos detentos por crime cometido.
Os números são do Censo Penitenciário, com dados de 2022, elaborado em uma parceria entre a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP). O último Censo com este perfil havia sido feito em 2013, com a abordagem de 12 mil pessoas. Em 2022, os questionários foram aplicados junto a 20.666 internos, de um total de 22.200 dentro do sistema, sendo 9.499 no regime fechado.
O relatório tem a missão de conhecer a população privada de liberdade no Estado, compreender as motivações para o cometimento de crimes e possíveis "problemas sociais que produzem efeitos nas suas trajetórias de vida". A coleta de dados aconteceu de forma individual, entre maio e julho de 2022.
O Brasil possui um dos três maiores sistemas prisionais do mundo, com 661.915 custodiados em celas físicas e 175.528 em prisão domiciliar. No Ceará, 58% dos detentos já estavam em encarceramento pela segunda, terceira ou quarta vez, e 57% não tinham o ensino fundamental completo.
O Censo estratifica os dados em 82 tabelas que destacam questões sobre a tipologia criminal, educação, vida pregressa, infância, saúde, religião, percepção sobre mudanças no sistema, violências sofridas.
"Esses pontos vão dando algumas respostas sobre o perfil desse preso. O jovem é um perfil que há muito tempo é predominante na massa carcerária. E que nos faz refletir sobre questões como falta de oportunidade educacional e de trabalho, que vão afetar diretamente os jovens de classes sociais mais baixas", destacou a pesquisadora do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da UFC, Yara Vitorino, que é socióloga e doutoranda em Sociologia, com enfoque em estudos nas prisões.
Ela pondera que muitas políticas públicas não conseguem alcançar essas pessoas, dentro ou fora do sistema penitenciário. Apesar de ser o tráfico o grande cooptor da juventude para a criminalidade, a recorrência de pessoas presas nos crimes de roubo e furto, conforme Yara, tem como uma das explicações a repressão aos crimes de rua. "Crimes de colarinho branco, fraudes financeiras, não recebem tanta atenção. Mas muitas das operações têm como alvo encarcerar essas pessoas. E soma-se a isso a falta de alternativas penais".
SAP
Em nota, a SAP destacou dados que mostram o aumento da porcentagem de presos que afirmam melhorias estuturais no sistema, além de dados sobre frequência escolar e de trabalho, que cresceram
PERFIL E TIPOS DE CRIMES
> 19.626 homens (96,2%)
> 782 mulheres (3,8%)
> 18 a 29 anos: 10.318 (50,5%)
> 43,2% são evangélicos
> 33,2% são católicos
> 34,9% não têm título de eleitor
> 57% não têm o ensino fundamental completo
Crimes cometidos
> 14,6% homicídios simples
> 10,3% homicídios qualificado
> 0,9% feminicídio
> 44% crimes contra o patrimônio
> 9,1% estupro, estupro de vulnerável e corrupção de menores
> 28% tráfico de entorpecentes