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IJF realiza encontro de famílias doadoras de órgãos para celebrar a vida e a empatia
CIDADES

IJF realiza encontro de famílias doadoras de órgãos para celebrar a vida e a empatia

Evento reuniu entre 30 e 40 famílias para recordar a memória dos doadores e agradecer pelo gesto de generosidade; encontro ocorre anualmente em alusão ao dia nacional da doação de órgãos
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Evento faz alusão ao setembro verde, mês dedicado à doação de órgãos (Foto: Kleber Carvalho/Especial para O POVO)
Foto: Kleber Carvalho/Especial para O POVO Evento faz alusão ao setembro verde, mês dedicado à doação de órgãos

As portas do Centro Cultural Casa do Barão de Camocim, no Centro de Fortaleza, foram abertas para momentos de emoção e generosidade nessa quarta-feira, 25. Das 8 às 11 horas, o local sediou o 12° Encontro de Famílias Doadoras de Órgãos, que reuniu parentes de falecidos que realizaram doação de órgãos e pessoas que estão vivas hoje graças a transplantes.

O evento é realizado anualmente com famílias atendidas pelo Instituto Doutor José Frota (IJF), principal referência no Estado em doações de órgãos. Entre 30 e 40 famílias se reuniram no jardim do Centro Cultural para desfrutar de uma manhã de músicas, atos religiosos e depoimentos dos entes no local.

Uma das famílias que participaram da reunião foi a de Lavínia Oliveira, 23, que perdeu o irmão Walber há um ano e sete meses. À época, os parentes decidiram permitir que os órgãos do falecido fossem doados a um tio dele, muito motivados pela história de um outro familiar, que já havia recebido um órgão transplantado.

Hoje, eles enxergam a escolha como uma forma de ainda sentir o ente por perto. “A gente sente que ele ainda está por aqui. A gente ajudou mais pessoas e conseguimos sentir um pouquinho dele”, conta a estudante de Odontologia.

Esse sentimento de gratidão, que por vezes incentiva novas doações, é algo recorrente entre as famílias de transplantados. Quem compartilha desse desejo de retribuir a generosidade recebida é dona Maria de Jesus, 69, que se despediu precocemente do neto Antônio Wallace após ele sofrer um acidente de moto.

O jovem, à época do acidente com 21 anos, não manifestou em vida o desejo de doar órgãos, entretanto a avó e a mãe, também inspiradas por um caso de transplantado na família, viram a doação como uma forma de agradecer o ato de amor que receberam anos atrás.

“Eu tive um irmão que passou 13 anos com um órgão que uma pessoa doou para ele, um rim. Ele faleceu com quase 70 anos, não por causa do órgão, mas por outras doenças. Então, eu fui muito grata à família da pessoa que doou para o meu irmão e disse assim: ‘Eu vou retribuir doando o órgão do meu neto para outras pessoas viverem mais anos’. Meu filho [como ela chama o neto] não ia mais voltar para cá, mas eu sei que ele está em outras pessoas”, relata a aposentada.

Doação é sinônimo de vida para transplantados

Além das famílias de doadores, pacientes que receberam os órgãos de pessoas falecidas também se fizeram presentes no encontro, como forma de agradecer e demonstrar a importância da escolha feita por cada um naquele jardim.

Um deles era Diógenes Lima, 53, que há oito anos recebeu um coração transplantado. Hoje aposentado, ele relembra os momentos difíceis pelos quais passou durante a descoberta de uma micro cardiopatia dilatada, doença rara no órgão que gerou a necessidade do transplante.

Com perceptíveis gratidão e desejo de viver na voz, Diógenes agradece cada pequena ação que hoje consegue realizar sem nenhum problema, como respirar e abrir uma torneira, até acompanhar o crescimento dos netos, apontado por ele como o maior presente do transplante.

“Você bota uma vida para frente [quando recebe um órgão]. Já vai chegar o quarto neto. Eu não tinha essa possibilidade de ver nem os dois que estavam crescendo, muito menos outros dois chegando”, comemora.

Essa infância que Diógenes pôde acompanhar com os netos quase foi tirada da pequena Amália Fioresi, que às 23 semanas de vida foi diagnosticada com uma hipoplasia no lado esquerdo do coração e uma válvula tricúspide comprometida. Ao longo de dois anos, a criança foi acompanhada no Hospital do Coração de Messejana, onde passou por uma primeira cirurgia para tentar recuperar o órgão.

Sem resultados efetivos, Amália entrou na fila de transplantes e, oito meses depois, conseguiu receber o coração de um doador. Atualmente com quatro anos, Amália esbanja a super energia comum à infância e coleciona sonhos.

“Ela ainda não foi para o colégio, mas ela tem um cofrinho lá em casa onde ela junta moedinhas porque ela quer comprar a roupa dela de farda. Ela tem muita vontade de ir para o colégio, de estudar. Sabe? Aquela rotina de uma criança para ir ao colégio”, confessa Ana Maciel, 36, mãe de Amália.

Hospital é referência na doação de órgãos

Idealizador do encontro, o IJF é referência em todo o Ceará na doação de órgãos. Com uma média de 80% de aceitação das famílias para o procedimento, o hospital se mantém acima do índice nacional, que atualmente fica em torno dos 50%.

Segundo a direção do Instituto, tal resultado é fruto do acompanhamento realizado desde a entrada das famílias na unidade de saúde, que seguem amparadas durante a perda e recebem a proposta para aceitar ou não a doação dos órgãos.

“Nós temos um centro responsável por conversar com as famílias e transformar aquela situação drástica da família em uma situação que possa amenizar a dor do ente perdido, ao fazer parte da vida de outro. Eu acho que o grande êxito do IJF é resultado dessa capacidade técnica e humana desses nossos funcionários”, ressalta o superintendente do hospital, José Maria Sampaio.

Entre janeiro e agosto deste ano, mais de 200 operações do tipo foram realizadas no hospital, sendo 109 doações de córneas, 53 de rins, 46 de fígados, 15 corações, 1 pulmão e 2 pâncreas.

A instituição reforça que este número só é possível graças às famílias dos doadores, únicas que podem autorizar uma doação. Para se tornar um doador, é preciso que o interessado manifeste este desejo à família ainda em vida, para facilitar a escolha dos entes durante o luto.

“Eles [a família] têm dúvidas quanto a dizer sim por não saber o desejo do seu familiar. Quando as pessoas expressam em vida o desejo de ser um doador, a família se sente mais segura de dizer sim, porque o momento em que eles recebem a oportunidade é naquele momento do luto inicial, daquela perda, muitas vezes inesperada”, explica a coordenadora da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (Cihdott) do IJF, Aline Alves.

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