O cearense David Cordeiro, de 41 anos, é produtor musical em Nova York que vem ampliando seu portfólio e ganhando renome em estúdios musicais americanos. Hoje sua principal atividade é compor e dirigir trilhas sonoras publicitárias, para comerciais, séries e programas de tevê, filmes, até videogames. Suas criações são por encomenda, oferecidas num catálogo chamado Neurocircuit Music.
Lá de longe, enquanto mergulha nos acordes, David não perde a saudade de dois pratos típicos da terra natal: o sarapatel e a panelada. "Cresci com essa comida tradicional. É o que sempre tinha na casa dos meus avós". Segundo ele, tanto sua mulher Grace como a filha Maya, de três anos, ambas norte-americanas, já experimentaram as duas iguarias quando estiveram no Brasil e aprovaram. "Elas adoraram".
Criado em Fortaleza, David decidiu largar o curso de engenharia civil na Universidade Federal do Ceará (UFC) para buscar a carreira que queria mais. Foi para a Universidade de Brasília (UnB) e iniciou a graduação em música. Meio do caminho, após sugestão de professores e a vontade de estudar jazz "na cidade onde tudo acontece", o novo veio de novo. Em 2007, de violão na bagagem e dois amigos juntos, desembarcou nos Estados Unidos. Os três fizeram a transferência de estudos para o The City College of New York, escola reconhecida mundialmente. Foram estudar performance de jazz e educação musical. Ele tem escolhido essas guinadas para tocar sua vida.
Para fazer renda, trabalhava como performer em guitarra e violão. "Tocava música brasileira, jazz, rock, hip hop, outros estilos. O que vinha eu atacava. Era oportunidade para estar conhecendo gente", recorda-se. Grace, que fazia cinema, a conheceu na época da faculdade. Vivendo juntos, sugeriu à esposa que ele poderia criar as trilhas sonoras para reduzir nos custos das produções dela. E assim foi migrando para o ramo da produção musical.
Na pandemia, o casal se viu desempregado. Tinham se mudado para Los Angeles para trabalhar numa startup de turismo. Produziam vídeos e músicas e peças publicitárias, ele e ela. Poderia ter sido ótimo, um ambiente ideal para trabalharem em família, mas tudo ruiu quando o coronavírus se espalhou. Lockdown, tudo travado, foram os primeiros cortados na empresa.
"A pandemia para mim e minha esposa foi pesada. O caos tomou de conta", descreve. Pouco antes da doença se confirmar no mundo, tinham viajado para o Brasil. Foi onde David apresentou Grace à sua família e à culinária cearense. E ela se adaptou muito. "Minha vó diz que minha mulher é uma americana que nasceu no Ceará".
Completamente adaptado à vida nova-iorquina, ainda tem o sotaque preservado - assim como sua saudade da mesa cearense. E compara as sonoridades de onde está à de onde veio. "Sempre considerei o baião como o blues brasileiro. O blues é simples, não tem os acordes sofisticados da bossa nova ou do jazz, mas é uma música sentida, do povão. E pra mim o baião, que é o mesmo forró, é exatamente isso. Tento trazer esse lado para as composições que faço.
É o meu diferencial".
O destaque mais recente de David foi a produção de uma canção, lançada há dois meses no Youtube, interpretada por artistas de nacionalidades distintas, que homenageia a cantora Celine Dion e incentiva doações para as pesquisas sobre a Síndrome da Pessoa Rígida (SPS, na sigla em inglês).
Em 2022, Celine anunciou publicamente que é acometida da SPS. É uma doença neurológica autoimune. Causa rigidez muscular em todo o corpo, espasmos frequentes, dores intensas e debilidade crônica. É progressiva, degenerativa, sem cura. Dificulta falar, imagine cantar - e Celine cantou este ano, na cerimônia de abertura da Olimpíada de Paris.
A música é um medley com sucessos de Celine. A autoria do projeto é dividida com os arranjos do brasileiro David com a americana Crystal Cimaglia, sua colega de faculdade, hoje residente em Londres. Os outros intérpretes são Alexandra Darby (Reino Unido), Sebastian Costic (França) e Courtney Bassett (Estados Unidos).
O vídeo não monetiza diretamente, chama atenção para a causa. Pelo link da música, quem quiser pode ajudar o trabalho desenvolvido pela Stiff Person Syndrome Research Foundation. Doando qualquer valor, de qualquer parte do mundo. O arrecadado vai diretamente para a fundação, que financia pesquisas e apoia pessoas afetadas pela SPS. A SPSRF tenta achar a cura e melhorar a vida dos que sofrem desta condição debilitante.