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Este ano, 4.111 pessoas com 60 anos ou mais deram entrada no IJF por causa de quedas
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Este ano, 4.111 pessoas com 60 anos ou mais deram entrada no IJF por causa de quedas

Dados do Ministério da Saúde indicam prevalência de 25% de quedas de idosos residentes em áreas urbanas. Acidentes podem ser evitados com cuidados na saúde e prevenções domésticas
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IJF Centro recebeu 4.111 idosos acidentados por queda este ano (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE IJF Centro recebeu 4.111 idosos acidentados por queda este ano

Um total de 4.111 pessoas acima dos 60 anos deu entrada no Instituto Doutor José Frota (IJF), hospital referência no tratamento de traumas em Fortaleza, por terem sofrido quedas nos primeiros nove meses de 2024. Desde acidentes em ambientes domésticos a episódios numa calçada ou decorrentes de um desmaio.

A faixa etária representa 30% de todos os internados nesse tipo de ocorrência na unidade de saúde entre janeiro e setembro deste ano, superando em 310% o grupo entre 50 e 59 anos, que teve 1.324 internados no período.

Os números reforçam os resultados da edição de 2023 do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil), pesquisa financiada pelo Ministério da Saúde (MS), a qual indica que um a cada quatro idosos residentes em áreas urbanas no Brasil já sofreu algum tipo de queda.

Esse tipo de caso voltou a ganhar destaque no noticiário com um episódio doméstico envolvendo o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que completará 79 anos neste domingo, 27. Ele caiu dentro do banheiro, sofreu um corte na nuca e levou cinco pontos no ferimento. 

Entre os tipos de quedas mais recorrentes estão as da própria altura, ou seja, incidentes onde as vítimas estão em contato com o solo, sem estarem suspensas em algum tipo de plataforma, escada ou outro objeto que eleve a altura da ocorrência.

Ocasionados por falhas em pistas e calçadas, desatenção ou eventuais quadros de saúde, como tonturas ou desmaios, registros de idosos acidentados da própria altura em ruas e ambientes domésticos não são incomuns e podem causar prejuízos à saúde, em curto, médio e longo prazo.

Uma destas foi Helena Furtado, 63, que fazia seu trajeto tranquilamente para casa após uma ida ao supermercado, quando caiu de uma calçada. A costureira, que já possui problemas no joelho direito, conta que um breve momento de desatenção resultou em cortes e arranhões ao desabar no chão.

“Eu ia andando em cima de uma calçada, olhei para o rapaz que estava dentro de um comércio e, quando fui descer o pé direito, não apoiei o pé direito e me taquei no chão, de frente”, relata Helena. Ela disse ter sofrido outras duas quedas em situações parecidas.

Helena mora sozinha e já sofreu três quedas da própria altura
Helena mora sozinha e já sofreu três quedas da própria altura Crédito: Reprodução/Acervo pessoal

Os riscos de quedas como esta de Helena, principalmente em idosos, são dos mais diversos, indo desde possíveis fraturas em ossos ou traumatismos até cortes leves e inchaços no local da pancada.

Por serem externas e consequentemente mais aparentes, as lesões mais simples, como cortes e arranhões, tendem a ser as primeiras identificadas pelo acidentado e pelas pessoas em volta do idoso no momento do sinistro. Apesar de menos preocupantes, essas lesões também podem ser um atenuante no momento da queda, já que têm a capacidade de gerar pânico e desencadear problemas de pressão, entre outros.

Maria Félix, 67, sofreu um acidente parecido com o de Helena, inclusive na mesma situação, voltando do supermercado. Entretanto, diferente da costureira, a aposentada teve lesões aparentes mais acentuadas, com cortes significativos e perda de sangue.

“Eu não sentia nada, só via o sangoeiro [sic]. Fiquei assim meio atordoada com tanto sangue. [...] Quando cheguei no hospital, minha pressão estava muito alta porque eu sou hipertensa”, lembra Maria.

Maria Felix também sofreu três quedas e em uma delas, teve cortes pelo corpo e perda de sangue
Maria Felix também sofreu três quedas e em uma delas, teve cortes pelo corpo e perda de sangue Crédito: Reprodução/Acervo pessoal

 

 

 

A médica geriatra Raquel Pessoa ressalta que essas quedas da própria altura geralmente acontecem em situações do cotidiano, ocasionadas por fatores ligados ao próprio paciente, como problemas de visão e quedas de pressão, ou questões alheias, como más condições de calçadas e pisos escorregadios.

“A maioria delas são em ações do cotidiano, por tropeço, visão, não viu aquilo ali, são algumas das principais. Claro que há doenças que podem predispor a quedas. Por exemplo, Parkinson, uma queda de pressão, estar desidratado ou está tomando remédio demais [...] mas muitos casos estão relacionados à fraqueza muscular”, conta a profissional do IJF.

Riscos das quedas da própria altura para idosos

Os riscos de quedas da própria altura são variados para a faixa dos idosos. Desde os mais simples até questões que podem afetar toda a vida do acidentado. Entre os mais preocupantes para os profissionais da saúde estão as fraturas, principalmente as do fêmur (osso da coxa).

“O que a gente tem mais medo é fratura. Entre as fraturas, a de fêmur, porque deixa o paciente muito acamado. Depois vem coluna, punho, braço. Em termos de queda são mais esses”, explica Raquel Pessoa, que também alerta para os impactos na cabeça dos pacientes.

“Fora fratura, a gente tem muito traumatismo craniano, que é quando ele não tem nenhum reflexo para se proteger, bate a cabeça no chão, e pode dar um sangramento interno, a hemorragia intracraniana. Aí sim, tem a chance de sequela. Todos têm, mas é muito grave o traumatismo craniano”, acrescenta a geriatra.

Os prejuízos podem aparecer logo após o acidente, como ocorrido com Marli Nunes, 81, que após ter sofrido três quedas, lida com problemas no tornozelo e manchas no corpo resultado dos acidentes. A jornalista, residente em Santos, no litoral paulista, relembra os meses após o primeiro acidente, ocorrido em 2019, quando precisou da ajuda de amigos para realizar tarefas domésticas, já que ainda enfrentava as sequelas e dores do acidente.

“Na primeira eu trinquei o joelho e fiquei 60 dias numa cadeira de rodas por causa disso. Tanto que eu moro sozinha e uns amigos de juventude vieram, me trataram e me levaram para a casa deles, porque eu não tinha condições de me virar sozinha”, afirma Marli.

Marli já sofreu três quedas e na primeira, ficou dois meses em uma cadeira de rodas
Marli já sofreu três quedas e na primeira, ficou dois meses em uma cadeira de rodas Crédito: Reprodução/Acervo Pessoal

Como evitar quedas da própria altura

Se os riscos das quedas são muitos, as formas de evitar também se apresentam em abundância para os idosos, seja no que se refere aos problemas de saúde, seja no tocante a obstáculos externos, como objetos domiciliares, por exemplo.

Na saúde, a principal recomendação é a prática de atividade física, com o intuito de fortalecer os músculos do corpo. Pessoas com músculos mais firmes tendem a ter menos falta de equilíbrio e, quando são surpreendidas por quedas, conseguem se restabelecer com maior facilidade, ou sofrem danos menores após o impacto.

Junto aos exercícios é necessário também cuidar dos quadros clínicos, como visão, pressão, problemas de coluna, entre outros. Como explica a médica, um idoso com exames em dia e bem cuidado tende a ter menos chances de desenvolver problemas graves relacionados com quedas da própria altura.

“Sempre revisar listagem de remédios, fazer suas consultas regularmente para controlar pressão, diabetes, tudo tem interferência”, pontua a geriatra.

No caso dos acidentes domésticos, há uma série de medidas que podem ser adotadas por idosos e cuidadores para evitar acidentes e mitigar seus prejuízos. Confira lista de algumas medidas de prevenção:

  • Evitar lavar chão com água e sabão
  • Uso de tapetes fixos ao piso
  • Cuidados com fios e objetos na área de circulação
  • Sinalizar pontas de degraus em escadas
  • Tapetes antiderrapantes e uso de chinelas emborrachadas nos banheiros
  • Caso o idoso tenha idade mais avançada, optar pelo banho sentado em uma cadeira

O que fazer em caso de acidentes?

Diante de um acidente com um idoso ou idosa por queda da própria altura, a primeira orientação é verificar se a pessoa não perdeu a consciência. Caso ela esteja desacordada, o passo imediato é levá-la para avaliação em um hospital.

Caso a vítima esteja acordada, é importante se atentar para reclamações acentuadas de dores, especialmente se a pessoa acidentada reclamar de forma mais acentuada de uma determinada região. Dores muito fortes em uma única parte do corpo podem indicar uma possível fratura. Neste caso, não é recomendado forçar o músculo ou osso informado, ao tentar levantar o paciente, por exemplo.

Nessas ocasiões é recomendado acionar uma ambulância para levar o idoso até um hospital, onde será feita a avaliação do que está gerando aquela dor. Se o acidente tiver gerado impacto na cabeça, é importante que o paciente passe por atendimento médico, mesmo sem apresentar grandes lesões ou sangramentos.

Outro caso que merece importante atenção é o de idosos que moram sozinhos, e podem não conseguir se levantar para pedir ajuda após uma queda. Para evitar este cenário, a tecnologia também pode ser uma aliada, com o uso de relógios smartwatches e assistentes virtuais.

Nesses dispositivos, é possível cadastrar números de pessoas a serem imediatamente acionadas, caso o idoso sofra uma queda, sem necessidade de que ele se levante para buscar ajuda.

Para quem não dispõe desses equipamentos, uma saída é colocar um telefone no chão da residência onde o idoso mora. Assim, caso ele sofra um acidente em que não consegue se levantar, poderá rastejar até o aparelho e chamar ajuda.

“Muitas das quedas são totalmente preveníveis. E a gente sabe que essa é a nossa principal causa de internação aqui no IJF. Ganha de baleado, de [acidente] de moto, de tudo. Qual a nossa principal causa de internação? É queda. Às vezes o pessoal tem a cultura ‘caiu de maduro’, ‘é normal cair’, mas não é pra ser”, conclui a geriatra.

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