Devota de Nossa Senhora das Graças, cinco filhos, dez netos e 12 bisnetos, Anália Lima Barroso Ribeiro — carinhosamente chamada de dona Anália — completa 100 anos nesta terça-feira, 29, e é leitora assídua do O POVO desde que se entende por gente. Participando da história quase centenária do jornal e com uma pilha de versões impressas na estante de casa, ela confessa que sua parte favorita é o editorial.
Dona Anália relembra que finalizou seus “ensinos secundários” — como ela mesma diz — , na antiga Escola Normal, em 1941, onde hoje em dia fica o atual Colégio Estadual Justiniano de Serpa. Já formada, a centenária conta que foi professora e ensinava todas as matérias aos pequenos, mas que o marido, a quem lembra com saudades, não queria que ela trabalhasse. “Ele me dava um tostãozinho na mão”, conta entre risos.
Sobre o início da sua história com o jornal, ela relembra: “Acho que desde os meus cinco anos. Meu pai mandava a gente ler a coluna tal, assim a gente aprendia a ler. Toda vida teve jornal lá em casa. Minha mãe era muito letrada”. O pai, senhor Antônio Alvares de Lima, era comerciante, a mãe, Rosa Santos de Lima, era dona de casa. Além do editorial, dona Anália conta que adora ler o cronista do O POVO, Raymundo Netto.
Em tom de saudades, a centenária relata que, quando a idade lhe permitia, fazia de tudo. “Cozinhava, lavava as roupas, engomava, costurava muito bem, tantas roupas de noiva (...) Hoje em dia não faço mais nada, porque não posso, vontade eu tenho”. Apontando para algumas frutas espalhadas pela mesa, ela diz que sente “vontade de arrumar tudo na bandeja”, porém que não pode mais.
Apesar da idade avançada, dona Anália mantém uma boa memória e conta sobre seus filhos em tom de orgulho: “Maria Helena, Thais Helena, Sílvia Helena, Helena Cecília e Itamar Filho”. Entre as quatro ‘Helenas’ da família, Itamar é o único homem, levando o nome do falecido pai e esposo de dona Anália, o senhor Itamar Barroso Ribeiro.
Ainda relembrando a trajetória com o jornal, a idosa conta: “E quando era castigo? Que a gente precisava dizer a ele [seu falecido pai] o que tinha lido como era”. Dona Anália também comenta sobre Paulo Sarasate, que presidiu O POVO entre 1943 - 1968, e foi eleito deputado estadual constituinte: “Não há quem arrebate, das mãos do Sarasate”.
Sobre o jornal atualmente, Anália comenta: “Continua muito bom. Essa parte [do] editorial é muito bem feita. Eu admiro, porque é uma coisa tão pessoal (...).
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Sobre completar 100 anos, dona Anália conta que é um “privilégio de Deus”. “Não é todo mundo que chega em uma idade avançada. Dou graças a Deus que ainda conheço as pessoas. Nunca pensei que ia chegar nessa idade”. “Tem que viver de bem com a vida, sem reclamar. Nunca pensei que O POVO viria na minha casa”, disse.
A engenheira Helena Cecília Nogueira, 75, conta que a história com a leitura, e consequentemente com o jornal, se deu da mesma forma que a da mãe, desde pequena. “O papai era um grande leitor, muito fã de Machado de Assis, nossa casa era cheia de estantes com vários livros”, relembra com um sorriso no rosto.
Ela conta que também é assinante do O POVO e acessa a versão online, mas que com o jornal impresso existe todo um ritual. “De botar o pedaço de papel em cima da mesa, de tomar café junto com ele (...) Também gosto muito de ler a parte do editorial”.
“Eu já faço o café ouvindo O POVO CBN, o Érico Firmo já fala com o Jocélio de manhã, e já dá um resumo da coluna [do dia]”. A irmã confessa que o jornalista favorito dos irmãos é o repórter especial e cronista do O POVO, Demitri Túlio.
A outra filha de dona Anália, a dentista Silvia Helena Barroso de Oliveira, 73, conta que a coisa mais fácil de ler é o jornal. “Todo dia tem uma notícia nova. Para você ler um romance, por exemplo, precisa ter tempo. Eu que tenho péssima memória, começo a ler e passo dez dias para voltar, aí já me esqueci de tudo”. Ela destaca que a matéria que mais impactou sua vida foi a primeira vitória do atual presidente da república.
Já o engenheiro e único filho de dona Anália, Itamar Barroso Ribeiro Filho, 74, conta que ele e as irmãs sempre foram acostumados com a leitura. “Além dessas revistas que o papai comprava, também haviam muitas revistas em quadrinho (...) A minha principal diversão é ler”. Itamar compartilha que seu gênero favorito é suspense e cita a escritora britânica Agatha Christie como uma de suas preferências.
No impresso do O POVO, o idoso conta que lê de tudo, mas que sua parte preferida é a de Esportes. “Eu leio atrasado primeiro — do dia anterior — e depois”, explica. O engenheiro relata que em sua história com o jornal, o que mais lhe marcou foi uma fotografia:
“Foi um ano de seca, onde apareceu um sertanejo bem forte, ele estava desesperado com um bezerro nos braços. Ele estava clamando por ajuda, por água. Não me recordo o ano [em que aconteceu], mas me marcou muito, ficou na memória”, finaliza.