A maior competição de cães de raça raras do mundo aconteceu neste final de semana, no Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza. Pela primeira vez no Brasil, o evento é uma classificatória oficial para a Crufts, maior competição canina do mundo, realizada anualmente na Inglaterra.
Durante toda a programação organizada pela Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC) e do Kennel Clube do Ceará (KCEC), aconteceram quatro exposições, sendo duas internacionais, uma pan-americana e uma latino-americana.
A programação seguiu por dois dias com amostras caninas, desfiles de obediência e shows. Os expositores compartilharam suas experiências e contaram como funciona a preparação e as motivações para participar de um evento como este.
Felipe Brasil, estudante de Medicina Veterinária, conta ser apaixonado por cachorro e desde os 5 anos que frequenta exposições. Ao lado de Magali, sua Dachshund de pelo longo, ele afirma serem necessários muitos cuidados para estar ali no evento, desde a pelagem até o condicionamento e o temperamento do animal.
“A gente sempre tem que ter curso, atualização, ler sobre o padrão. Entender os cuidados, condicionamento, todo dia andar com o cachorro, levar em ambientes que tenham muita gente, muito barulho, para o animal conseguir se adaptar”, relata.
Sobre a rotina, Felipe chega a acordar às 5 horas e trabalha até o início da tarde apenas condicionando e preparando Magali.
Vitória Porto, namorada do expositor, foi acompanhar o evento. Como veterinária, ela avalia que eventos como este são saudáveis devido ao cuidado dos criadores com os animais.
“Não é prejudicial aos animais, eu vejo o amor que os criadores têm pelos animais, o respeito que eles têm também. Acredito que eles são muito bem cuidados e é muito tranquilo para eles estarem aqui”, afirma.
Carolina Furtado e Sara Goes são colegas de profissão em uma aula de cinotecnia — área focada em estudar os cães, especialmente com o propósito de entender o comportamento das raças para treiná-las — e passaram a se interessar pelas exposições. Acompanhadas de Babalu e Carú, dois Border Collies, as veterinárias trouxeram também Álvaro, filho de Carolina que cresceu em exposições e participa como apresentador infantil.
Sara também é expositora, mas, por estar grávida de nove meses, foi apenas acompanhar a amiga neste domingo, 3. Por isso, Carolina se apresentou com o cachorro da veterinária.
“Quando a gente vai apresentar, a conexão com o cachorro é fundamental, porque ele consegue focar e se concentrar. A Carol agora tá com nove meses [de gestação] e apresento por ela. E a gente vê a diferença do cachorro dela apresentando com ela e apresentando comigo. Apesar de ele me conhecer, ele entra na pista, mas fica procurando ela”, explica.
As amigas deixam um recado para quem quer começar a criar cães de raças raras. “Cada raça tem sua particularidade. Quer começar? Estuda isso e pesquisa os melhores criadores. Aqueles que estão trabalhando em pistas, os que têm exames e os que são criadores realmente responsáveis”, orienta Carolina.
Elas reforçam ser necessário prestar atenção desde quando se seleciona o filhote. Após isso, vem os cuidados em alimentação, condicionamento, pelagem, treinos de obediência básica e treinos de socialização para lidar bem em ambientes com muitos estímulos, como são as competições.
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Izanice Monteiro é tutora de uma Rough Collie de padrão europeu chamada Sophie e criou a cadela inicialmente apenas para ser seu animal de estimação. Após saber sobre as premiações dos pais de Sophie, passou a estudar para atuar como expositora.
Com os olhos marejados, ela relembra que decidiu realizar o sonho de criança em ter um cachorro da raça durante a pandemia de Covid-19: “Nunca tive cachorro porque sempre morei em apartamento, mas na pandemia vi todo mundo morrer e pensei: caramba, a gente precisa realizar nossos sonhos! Então, encomendei minha cachorra e passei dois anos esperando em uma fila para ter ela comigo”.
Sophie é atualmente campeã pan-americana e estava no evento deste domingo, 3, sendo o Collie que representa o Brasil na CBKC.
Vindo da cidade do Crato, Caio Siso é criador e trouxe o Philip, um cão da raça Lulu da Pomerânia que é fruto de sua primeira criação. Viajando cerca de 600 km, ele também apresentou o cachorro de seu colega, que tinha dois cães competindo um contra o outro.
“Ele é também lá do Crato e a gente se ajuda. Foram 600 km de distância de lá para cá e a gente preparou os cães para estarem aqui nas pistas, desse jeito que você está vendo, felizes”, conta.
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Ao todo, 62 raças nacionais e internacionais participaram na exposição no Centro de Eventos do Ceará em busca das duas vagas classificatórias da Crufts.
O superintendente do Kennel Ceará, Rafael Moreno, fala sobre a importância da realização do evento classificatório em Fortaleza: "Estamos muito orgulhosos em sediar uma exposição dessa grandeza”.
“A exposição coloca o Brasil novamente no centro da cinofilia mundial. Isso mostra que a valorização da cinofilia no País e mostra a importância dos criadores responsáveis e oficiais”, ponta também Fábio Moreira Amorim, diretor-presidente da CBKC.
Considerada a competição mais prestigiada do mundo, a Crufts reúne, anualmente, mais de 220 raças de todo o planeta. Os animais disputam diferentes categorias, incluindo agilidade, salto, Flyball — busca da bola lançada — e obediência.
A premiação, realizada pela primeira vez em 1891, é mais antiga que as Olimpíadas da Era Moderna, iniciadas em 1896. O evento, nomeado em homenagem ao criador Charles Cruft, é transmitido nacionalmente pela TV no Reino Unido e tem cobertura online pelo YouTube para todo o mundo.