Pessoas com mais de 60 anos, quem fez ensino superior e os que possuem renda familiar mensal de mais de cinco salários mínimos avaliam melhor os próprios cuidados com a saúde em Fortaleza. Dados são de pesquisa Datafolha encomendada pelo O POVO.
A nota média geral de seis hábitos foi de 7,3. A mais alta foi entre os que estudaram até o ensino superior, com média 8,0. Em seguida, os idosos e os que possuem renda familiar mensal de mais de 5 salários mínimos, que registraram, ambos, nota 7,8.
Levantamento apresentou uma escala de zero a dez, em que zero significa que não tem nenhum cuidado e dez, que tem muito cuidado, em seis categorias: alimentação saudável, consultas médicas de rotina, exames de saúde preventivos, exercícios físicos, não tomar bebidas em excesso e ter atividade ou hobby para evitar o estresse.
Em todas as categorias, pessoas com maior renda e maior nível de instrução avaliam melhor o autocuidado com a saúde do que a parcela da população com menor poder aquisitivo e menor nível de escolaridade.
As mulheres fortalezenses fazem mais consultas médicas preventivas e exames de saúde preventivos do que homens. Estes, por sua vez, praticam mais exercícios físicos ou esportes e realizam mais atividades ou hobby para evitar o stress. Com isso, a média geral da mulheres é de 7,5 e a dos homens, 7.
Marco Túlio Aguiar, geriatra e médico de família e comunidade, professor do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (Famed-UFC), analisa a inequidade relacionada à renda e ao ensino.
"As pessoas com maior renda têm a possibilidade de investir, de ter uma alimentação mais saudável, de comprar alimentos mais saudáveis e fazer atividade física, seja na academia ou atividade esportiva, mas é claro que isso não impede que pessoas que têm menos escolaridade ou que têm uma menor renda também não possam fazer", relaciona.
Segundo ele, pessoas que têm uma menor renda podem ter uma carga horária maior de trabalho, por exemplo, restando menos tempo para cuidar da saúde. Pessoas com menor renda também têm nível de estresse mais elevado. Em muitos casos, residem em áreas menos propícias à realização de atividades físicas, sem uma praça ou algum lugar que eles possam realizar exercícios mais frequentes.
"E a formação educacional implica, na questão das pessoas buscarem informações, de terem acesso a informações adequadas e que acabam interferindo nesse cuidado", completa o médico, que é doutor em saúde coletiva e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade.
O hábito de se alimentar de forma saudável e balanceada teve a nota média de 7,5 entre os fortalezenses. Quatro em cada dez (42%) deram as notas 9 e 10. A média das mulheres (7,6) é um pouco melhor do que os homens (7,4) com relação à alimentação.
A nota média é mais alta entre os que têm 60 anos ou mais — com nota 8,3, ante 7,4 entre os que têm 16 a 24 anos — e entre os que têm renda familiar mensal de mais de 5 salários mínimos — nota 8, ante 7,3 entre os que têm renda familiar mensal de até 2 salários mínimos.
O autocuidado de fazer consultas médicas preventivas de rotina teve a nota média de 7,2. Número é mais alto entre as mulheres (7,8) do que entre os homens (6,6).
Pessoas com 60 anos ou mais (7,9) fazem mais acompanhamento de rotina do que jovens de 16 a 24 anos (6,9). Os que têm renda familiar mensal de mais de 5 salários mínimos (7,7) fazem mais consultas de rotina do que a população com renda familiar mensal de até 2 salários mínimos (7).
O autocuidado de fazer exames de saúde preventivos e regulares teve a nota média de 7,3. Uma parcela de 46% deu as notas 9 e 10.
Assim como nas consultas de rotina, a nota média é mais alta entre as mulheres do que entre os homens, com notas médias 7,8 e 6,6, respectivamente. Número também é maior entre os que têm 60 anos ou mais (7,8) do que entre os que têm 16 a 24 anos (6,8) e entre os mais instruídos (8,0, ante 7,1 entre os menos instruídos).
O hábito de não tomar bebidas alcoólicas em excesso ficou com a nota média de 7,4. Quase 6 em cada 10 (58%) deu as notas 9 e 10. A nota média é mais alta entre as mulheres do que entre os homens: 7,8, ante 6,8.
Um das diferenças mais discrepantes é no nível de instrução: pessoas com ensino fundamental têm média 6,4 e com ensino superior, 8,5. Ou seja, pessoas com mais instrução evitam beber em excesso em Fortaleza.
Conforme Marco Túlio, é sabido que as mulheres se preocupam mais com a saúde que os homens. "De fato, como as mulheres têm maior preocupação, elas vão ter maior número de consultas médicas, vão realizar mais exames, ingerem menos bebida alcoólica que os homens", analisa.
O hábito de fazer exercícios físicos ou atividades esportivas teve a nota média mais baixa entre os hábitos autoavaliados, de 6,9. Nessa categoria, a nota média é mais alta entre os homens (7,2) do que entre as mulheres (6,6).
A população entre 16 e 24 anos tem estilo de vida mais ativo, com nota média de 7,5. Hábito reduz durante a fase adulta mas é retomado com mais frequência e atinge média 7,1 entre a população com mais de 60 anos.
Os mais instruídos (7,5) se exercitam mais que os menos instruídos (6,3). Os que têm renda familiar mensal de mais de 5 salários mínimos (7,5) também praticam mais atividade física que os que têm renda familiar mensal de até 2 salários mínimos (6,5).
O hábito de ter uma atividade ou um hobby para evitar o estresse teve a maior nota média: 7,6. A metade (50%) deu as notas 9 e 10, 23% deram as notas 7 e 8, 14% as notas 4 a 6 e 12% as notas 0 a 3. Hábito também é mais presente na rotina dos homens (7,8) do que na das mulheres (7,4).
Nota média também é maior entre os mais jovens entre 16 e 24 anos: 8,1. Nota cai até atingir média 7,1 na faixa entre 35 e 44 anos e volta a subir, atingindo 7,7 no população com mais de 60 anos.
A nota média é mais alta entre os mais instruídos (8,2, ante 7,0 entre os menos instruídos) e entre os que têm renda familiar mensal de mais de 5 salários mínimos (8,2, ante 7,2 entre os que têm renda familiar mensal de até 2 salários mínimos).
Conforme o geriatra e médico de família e comunidade Marco Túlio Aguiar, o hábito de realizar atividades físicas e hobbies mais frenquente entre os homens pode estar ligado à dupla jornada de trabalho das mulheres.
"Pode estar ligada à questão de hábito, né? A gente sabe que os homens têm mais atividades físicas, como fazer uma caminhada ou jogar futebol. Mas também tá relacionado, sim, à dupla ou tripla jornada de trabalho. Já que a mulher tem que trabalhar e, quando chega em casa, ainda tem que cuidar das coisas de casa, cuidar de filhos e acaba tendo um tempo menor para a realização de atividades esportivas", acrescenta.
O empresário de self storage, Rodrigo Morais, 65, conta que realiza exercícios físicos pela orla da Beira Mar de Fortaleza. “Faço caminhada por aqui. Costumava beber, mas parei há três anos”, relata. Além da caminhada, Rodrigo revela que como hobby, costuma ler e estudar muito.
Quando se trata da alimentação, o empresário revela que faz acompanhamento com uma nutricionista. “Está sendo totalmente dirigida. Com segmentos [também] de um cardiologista e exames preventivos todo ano. Eu quem marco todas as consultas. Também é feito [exame] na parte do aparelho digestivo e ergometria”, finaliza.
Com um bom humor, a professora aposentada, Maria de Jesus Gondim, 75, revela que além da caminhada pela praia, também pratica pilates. Entre risadas, comenta que o filho, Gentil Gondim, 47, briga com ela por comer doces demais.
“Minhas consultas médicas estão todas em dia. Eu mesma quem marco”. Maria conta que é “muito difícil” ingerir bebidas alcoólicas, mas que ainda tem o hábito do tabagismo, mas que está tentando diminuir.
“Estou parando, devagarinho. No máximo, dois ou três cigarros por dia. Para quem fumava uma carteira por dia, né? Vou parar de vez, se Deus quiser”. A idosa aconselha outras pessoas a praticarem exercícios físicos. “Sabe como é a idade, né? A gente vai decaindo e se não cuidar, fica díficil”.
A aposentada compartilha que já escreveu dois livros, e que o terceiro está em andamento. “O primeiro, chama-se ‘Renascer’, e fala sobre uma fase muito difícil que passei na minha vida. O segundo é uma biografia”. O terceiro chama-se “Vida que Segue” e segundo Maria de Jesus, conta relatos que passaram durante sua vida.
O engenheiro civil, Marciano Moreira, de 68 anos, conta que sempre fez exercícios físicos. “Corria até pouco tempo atrás, aqui na Beira Mar. Mas parei na pandemia, engordei bastante e estou tentando voltar a correr”.
Marciano revela que também fazia musculação, mas acabou parando na época pandêmica. “Na época, parei tudo. Para voltar, tem aquela inércia, né?” Em relação à alimentação, o engenheiro revela que é “mais ou menos saudável”. “Faço todas as refeições, como verduras. Mas também como muitas coisas pesadas, como uma buchada, panelada ou feijoada”.
A esposa do engenheiro, Rita Fernandes, 61, é quem realiza os agendamentos médicos. “Faço verificações de cardiologia anualmente. Gosto de tomar um chopp de vez em quando”.
Marciano compartilha que gosta muito de cinema, e no tempo livre assiste a filmes. “Também gosto de criar textos, de ler e caminhar na praia, mesmo que não seja na beira da praia. Serve para relaxar”.
A aposentada Anna Maria Philomeno, 79, revela que foi educadora física no Estádio Jornalista Mário Firmo — também conhecido como Maracanã, e que além da caminhada, pratica musculação. “Pratico [exercícios] todos os dias”. “Eu tento fazer uma dietazinha, mas gosto muito de comer uma panelada”.
A aposentada revela que em relação aos exames de saúde e consultas, é muito organizada. “Por isso estou nessa idade, caminhando aqui”. Com o consumo de bebidas alcoólicas, Anna Maria revela que gosta de beber uma vez ou outra. “Em casamentos e ocasiões especiais, eu tomo uma caipiroska”. Como hobbies, a aposentada revela que gosta de “nadar, stand-up e ginástica”.
(Colaborou Bárbara Mirele/Especial para O POVO)