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12ª Marcha da Periferia cobra reformas nas ações de segurança pública em territórios periféricos
CIDADES

12ª Marcha da Periferia cobra reformas nas ações de segurança pública em territórios periféricos

Participantes demandam a priorização de políticas focadas em Educação, Cultura, Esporte, profissionalização, inserção produtiva e qualificação urbana e ambiental
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Na 12ª edição, participantes se concentraram na Praça Santa Cecília, no Grande Bom Jardim (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Na 12ª edição, participantes se concentraram na Praça Santa Cecília, no Grande Bom Jardim

A 12ª edição da Marcha da Periferia, realizada ontem, 30, reuniu dezenas de movimentos sociais, coletivos e organizações na Praça Santa Cecília, no bairro Bom Jardim, em Fortaleza. Com o tema "Periferia Livre: Políticas Para a Vida e Não Para a Morte", o evento denunciou as práticas repressivas e criminalizadoras presentes nas políticas de segurança pública aplicadas nas periferias do Ceará.

A mobilização cobra uma segurança pública popular, anti-armamentista e não repressiva, com foco no investimento em ações que garantam qualidade de vida e dignidade à população desses territórios. O evento contou com rodas de debate, intervenções artísticas e discursos políticos.

Segundo os organizadores, o dia da Marcha simboliza um momento em que os moradores da periferia se organizam para ampliar o debate sobre as questões que atravessam os territórios.

A escolha do Grande Bom Jardim marcou um retorno da mobilização à periferia. Nesta edição, a movimentação se concentrou na praça, considerando as dificuldades de transitar em áreas dominadas pelo crime organizado.

A coordenadora do Coletivo Vozes, Alessandra Félix, reforça que a região foi escolhida após um consenso entre os diversos organizadores. De acordo com ela, a decisão contempla a resistência e a articulação organizada dos moradores dessa área.

“Quando aconteceu a chacina do Curió, a gente saiu dos territórios para dizer, na Beira Mar, que a polícia estava matando na periferia. Nessa 12ª Marcha, todo mundo quis voltar, mas como é que a gente faz isso? O Grande Bom Jardim, por ter uma rede muito ampla de coletivos que se reúnem, aqui tem muita resistência. Então, a gente falou: vamos!”, explica.

Durante o evento, diversos representantes de coletivos, entidades e frentes discursaram sobre as políticas de controle, vigilância e repressão, especialmente ligadas à segurança pública, que atingem as periferias.

No meio do palco, a educadora social do Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza (CDVHS), Lany Maria, reforçou que a escolha daquele espaço simboliza a articulação das demandas dos moradores dentro do próprio território. Para ela, a atual política de segurança pública adotada pelo Estado atua para promover a morte e o encarceramento do povo negro e empobrecido.

“Eu faço essa fala de ‘chega de política pobre para pobre’, porque a gente sempre vê as nossas políticas chegando no papel; porque a gente denuncia e a gente pensa nessas políticas públicas para que elas sejam executadas, mas elas nunca são implementadas”, relata.

Além das pautas de segurança, a educadora reforça que a Marcha amplia o debate sobre outras questões que afligem os moradores dessas regiões. “A Marcha da Periferia tem algumas demandas, como a saúde mental do povo negro e periférico, que é uma demanda enorme. Não dá mais para a gente ter, por exemplo, os CAPS gerais e infantis superlotados”, denuncia.


Violência Policial no centro dos debates


Edna Carla, representante das Mães do Curió, chamou a atenção para o sofrimento das mães das vítimas afetadas pela política repressiva e vingativa adotada pelos agentes de segurança pública.

A pesquisadora social é mãe de Alef Souza Cavalcante, uma das vítimas da maior chacina do Estado do Ceará, articulada por policiais militares. A chacina do Curió foi tema da 11ª edição da Marcha, realizada no ano passado. Este ano, o impacto da violência policial nas famílias vitimadas pelos crimes também foi pauta do evento.

“São muitas mães morrendo, muitas mães sofrendo, e a gente tem que trazer uma fala e um conhecimento para essas mães. E também para que a gente não deixe mais os nossos jovens serem mortos pela polícia. Isso é uma luta muito grande. Queremos nossa periferia viva. A gente não pode ficar ausente da dor das mães da periferia, são muitas dores”, enfatiza.

O evento também contou com a participação de representantes políticos. Ao falar sobre a temática da segurança pública, o vereador Gabriel Aguiar (Psol) reforçou a importância de tratar do tema por uma perspectiva mais ampla, indo além do caráter ostensivo.

“Se o ambiente da comunidade tiver propício para fomentar a arte, fomentar cultura, a educação, a integração da comunidade; os espaços serem públicos e cheios de gente e atividades, a gente tem, comprovadamente, uma queda vertiginosa da violência”, ressalta.

Principais demandas

A construção de uma agenda afirmativa focada na promoção da qualidade de vida e no bem-viver dos moradores de territórios periféricos é o principal objetivo da iniciativa. Abaixo, veja um resumo das principais denúncias e proposições da 12ª Marcha da Periferia.

  • Aposta em formas alternativas de responsabilização e de acesso aos direitos sociais mínimos de existência garantido por lei
  • Defende um atendimento socioeducativo baseado em uma política pautada no respeito aos direito humanos
  • Defende que o Estado conceda o tratamento prioritário e integral preconizado no Estatuto da Criança e do Adolescente
  • Defende a implantação de serviços e programas que operem a partir da ética da Redução de Danos, relacionado à política das drogas
  • Cobra mecanismos democráticos e seguro para a participação e controle social da atividade estatal
    Defende a desmilitarização da polícia
  • Apela por uma política de controle e redução da circulação de armas
  • Defende a garantia dos direitos humanos e condições de trabalho adequadas para os profissionais de segurança
  • Ampliação e aumento do alcance dos programas de combate à fome e a pobreza
  • Cobra a promoção de políticas que ampliem o combate ao machismo e ao racismo
  • Defende a expansão e a melhoria das políticas públicas vinculadas à saúde mental
  • Cobram a ampliação de políticas ligadas à justiça climática
  • Chama atenção para a necessidade de coletivizar as demandas dos povos indígenas e quilombolas
  • Exige iniciativas que promovam a inclusão da população LGBTQIAP+
  • Reforça a luta pelo fim da jornada de trabalho na escala 6x1
  • Critica as restrições orçamentárias do Arcabouço Fiscal
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