O Ceará tem a oitava maior taxa de homens negros (pretos ou pardos) mortos por arma de fogo no Brasil. É o que aponta a terceira edição do relatório "Violência Armada e Racismo: O papel da arma de fogo na desigualdade racial", divulgado no último dia 19 de novembro, um dia antes do Dia da Consciência Negra. Entre as capitais, Fortaleza também ficou na oitava colocação.
O estudo analisou dados do Ministério da Saúde, referentes ao período entre 2012 e 2023, sobre pessoas mortas e feridas por ferimentos por arma de fogo. A pesquisa foi mais uma a constatar que homens, jovens, negros e moradores das periferias são as principais vítimas da violência armada no País.
Entre 2012 e 2022, 417 mil homens foram mortos por armas de fogo, conforme o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), o que representa 94% do total de homicídios no período. Para cada três homens assassinados no Brasil, dois são mortos à bala, aponta o Sou da Paz.
Números de 2022 mostram que a taxa de homicídios por armas de fogo entre homens negros é de 44,9 por 100 mil homens, enquanto a taxa de homens não-negros é de 14,7 por 100 mil. Essa situação é pior no Nordeste, região que concentrou 48% dos homens mortos por arma de fogo em 2022. Juntos, os nove estados nordestinos têm uma taxa de 57,9 mortes por cem mil homens.
Os estados recorditas em mortes de homens negros por arma de fogo em 2022 foram: Amapá, Bahia, Pernambuco, Sergipe, Amazonas, Rio Grande do Norte e Alagoas. Por outro lado, os estados com menos vítimas negras são: Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Distrito Federal, Santa Catarina e São Paulo.
Para o Sou da Paz, esses dados evidenciam “a inabalável desigualdade racial na vitimização, cuja constância evidencia condições estruturais que conectam a violência letal a contextos de vulnerabilidade social e racial”.
Para superar essa situação, o Instituto recomenda a adoção de medidas de prevenção e repressão, que incluem o fortalecimento da investigação policial (apenas 39% dos homicídios são esclarecidos, aponta o relatório), melhorar o controle de armas de fogo no País e realizar políticas intersetoriais que integrem segurança, educação, saúde e desenvolvimento social.
“A reversão desse quadro depende de um equilíbrio entre ações repressivas legítimas contra o crime organizado e investimentos em medidas sociais de longo prazo, que promovam a inclusão e combatam os fatores que alimentam a violência armada no país, com atenção especial às desigualdades raciais”, afirma a pesquisa.
Além de identificar a raça/cor das vítimas, o Sou da Paz se debruçou sobre as suas idades e locais onde os crimes ocorreram. A pesquisa mostra que a maior parte dos homens mortos por arma de fogo no Brasil estão em idade produtiva: “Jovens adultos de 20 a 29 anos representam 43% das vítimas de homicídios por armas de fogo”, indica. Com relação ao local dos crimes, 47% se dão em vias públicas, enquanto 18% ocorrem em residências.
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Em 2024, de janeiro a outubro, 2.713 assassinatos foram registrados no Ceará, conforme a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Dessas vítimas, 90,56% eram do sexo masculino — ou seja, 2.457 homens. A SSPDS, porém, não identifica a raça/cor da maioria das vítimas, dificultando essa categorização.
Neste ano, 58,60% dos mortos em assassinatos no Ceará constaram nas estatísticas da SSPDS como sem raça informada. De resto, 920 foram identificadas como pardos, 137 como brancos, 61 como pretas, 2 como amarelos e 3 como indígenas. Além disso, os números mostram que 88,31% das vítimas de homicídio no Estado neste ano foram mortas com emprego de armas de fogo.
Conforme a pesquisa do Instituto Sou da Paz, com base em dados do SIM/Dataus de 2022, o Ceará ocupa a 6ª colocação entre os nove estados nordetinos com maior taxa de homens negros assassinados por arma de fogo.
Com taxa de 68,30 homicídios de homens negros/arma de fogo por cada 100 mil mortos, o Ceará fica atrás da Bahia (90,40), do Rio Grande do Norte (83,80), de Pernambuco (75,90), de Sergipe (75,40) e de Alagoas (75,20).
O mórbido ranking nordestino de homicídio de homens negros/arma de fogo se completa com a Paraíba (57,20), Maranhão (44,00) e Piauí (39,80).
O estado do Amapá, na região Norte do Brasil, amarga a liderança no Basil de assassinatos de homens negros por arma de fogo segundo o Instituto Sou da Paz. São 97,10 vítimas para cada 100 mil homicídios.(Lucas Barbosa)