Com o objetivo de combater a desertificação e melhorar a segurança hídrica e alimentar da caatinga, o Programa de Restauração Florestal, do Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan), pretende aproveitar a quadra chuvosa para recuperar terras degradadas do bioma. A iniciativa começou em 2019 e, desde a criação, já restaurou mais de 700 hectares de terra pelo Brasil. O projeto segue até o fim de fevereiro e está aberto para colaborações. Estados, municípios e instituições privadas podem participar.
Neste ano, o programa está dando uma atenção especial para a caatinga, que ocupa 90% do Estado do Ceará. Uma das razões para o movimento é a desertificação. O fenômeno, que causa — entre outros problemas — a perda de fertilidade do solo, tem se tornado cada vez mais comum no bioma.
“Quanto mais a gente planta e conserva, mais a gente diminui a chance desse processo se expandir. É um trabalho de formiguinha”, destaca Pedro Sena, biólogo e coordenador técnico do Cepan.
Outro ponto, é que a caatinga é um sistema sócio-ecológico. É um ambiente em que a natureza e as comunidades são conectadas e influenciam umas às outras. “Ela tem essa característica da interação muito forte entre o sertanejo, o catingueiro e a natureza. A gente também preza que a restauração leve benefícios econômicos e oportunidades”, ressalta Sena.
O programa, de acordo com Joaquim Freitas, coordenador geral do Cepan, movimenta toda a economia da região. O fornecimento de mudas e sementes, por exemplo, são fornecidas por agricultores familiares e coletivos indígenas, o que gera renda e valoriza os saberes tradicionais das comunidades.
"Restaurar uma área, basicamente, significa devolver uma área às capacidades para que ela consiga se desenvolver sozinha", destaca Sena. "Imagina uma área que foi queimada e virou pasto para gado e depois foi abandonada, isso é uma degradação. O que a gente faz é preparar esse solo, depois dessa perturbação. A gente insere as árvores, mudas, sementes e o que for importante para essa região e vamos fazendo a manutenção para que, em dois ou três anos, já esteja bem desenvolvida".
"Ao longo do tempo começam a aparecer os polinizadores e os animais, o solo começa a ficar mais rico. Enfim, a floresta começa a crescer. A restauração é trazer vida de novo", adiciona.
A restauração também traz benefícios culturais. "As pessoas se conectam com as florestas e criam uma relação afetiva. Também as utilizam para vários serviços ambientais — entre eles o uso medicinal —, além do conforto térmico. A própria entrada de água nos lençois freáticos e nos aquíferos dependem dessas florestas em pé", detalha Sena.
"No futuro, daqui a 10, 15 anos, ela vai estar jogando muita água para dentro do solo e recuperando os lençois freáticos que a gente só tende a tirar, não tende a devolver. São uma série de benefícios", adiciona.
"Quando a gente faz qualquer plantio, seja com semente seja com mudas, se for em uma área que esteja muito seca, essa semente não vai germinar e pode se perder no processo", destaca Sofia Zagallo, analista de projetos da Cepan. "A ideia é que os plantios sejam feitos no início do período chuvoso para que essa área venha a se desenvolver da maneira mais ideal", continua.
Um dos pontos de maior foco do programa é a Chapada do Araripe, localizada entre os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí. A meta é que 500 hectares de terra da região sejam recuperados até o fim de 2026. Para esta temporada, a meta é que 115 hectares sejam recuperados.
O projeto, ainda, busca ampliar a presença de mulheres das regiões nos processos de produção. "As mulheres se tornam protagonistas dessa atividade e, consequentemente, vão ganhar um empoderamento, uma renda extra. E, ainda nessa questão de equidade de gênero, a gente tem buscado inserir mulheres não só nessa etapa de coleta de semente, mas também na etapa do plantio e implementação das ações", cita Zagallo.
“No Brasil profundo, de modo geral, é muito comum que as mulheres sejam muito dependentes financeiramente dos homens e não tenham autonomia. Elas até estão sujeitas a certos abusos por conta disso”, contextualiza Senna. “A gente tem tentado abrir cada vez mais oportunidades 100% femininas, mas ainda tem sido difícil em alguns locais. Mas, no futuro, a gente quer fazer equipes 100% de mulheres, além de expandir para outros grupos minoritários”.
Estados, municípios e instituições privadas podem apoiar ou replicar as ações de restauração realizadas pelo programa. Os interessados podem entrar em contato pelo e-mail cepan@cepan.org.br ou preencher o formulário.