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Cearense que estava no avião que ‘atropelou’ picape no aeroporto do Rio conta aflição durante acidente
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Cearense que estava no avião que ‘atropelou’ picape no aeroporto do Rio conta aflição durante acidente

Átilla de Oliveira, procurador do estado do Ceará, era um dos passageiros do voo 1674, da Gol, interrompido pela colisão com um veículo no meio da pista de decolagem. Ele conta a aflição de todos na aeronave, com o piloto tentando frear o avião antes do fim da pista do Galeão - que acaba no mar
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AVIÃO saía do Rio de Janeiro com destino a Fortaleza   (Foto: Reprodução/Instagram/@robson_alenda)
Foto: Reprodução/Instagram/@robson_alenda AVIÃO saía do Rio de Janeiro com destino a Fortaleza

A expectativa de Átilla de Oliveira, de 32 anos, era apenas voltar logo para casa, em Fortaleza, naquele fim de noite, por volta das 22 horas. Mas as coisas não aconteceram como o previsto. Procurador do estado do Ceará, havia passado toda a terça-feira, 11, em reuniões de trabalho, incluindo uma ponte aérea no meio do dia entre São Paulo e Rio de Janeiro. Na pista do aeroporto Internacional Tom Jobim/Galeão, por pouco o voo G3 1674, da companhia aérea Gol, não virou tragédia.

A aeronave já em aceleração alta, prestes a deixar o solo, tendo percorrido quase a metade da pista principal, se chocou com um veículo de manutenção contratado da própria concessionária RioGaleão, administradora do aeroporto, que estava atravessado no trajeto. Era uma picape Chevrolet, que cruzou o caminho de um Boeing 737 Max 8. O veículo foi atropelado por um avião capaz de transportar mais de 180 pessoas.

Entre a manobra do piloto e a sorte, nenhum dos que estavam no avião saíram feridos no episódio.  Os dois funcionários que estavam no veículo teriam se machucado, mas sem gravidade. "Sofreram escoriações leves, receberam atendimento médico no próprio aeroporto e foram liberados", conforme atualização de nota emitida pela RioGaleão.

Segundo Átilla, os passageiros só ouviram um barulho muito alto, "uma pancada seguida de um solavanco", e a decolagem foi interrompida com a reação instintiva do comandante de tentar frear o avião antes que a pista acabasse. Porque haveria um outro risco, se isso não tivesse acontecido. "Ficou aquela apreensão para que a aeronave conseguisse frear a tempo de chegar ao final da pista. Porque ali no aeroporto Galeão, nos entornos, é mar, né? Não teria uma área de escape pro avião ir", descreve.

O Galeão é localizado no bairro Ilha do Governador, na capital fluminense, e suas duas pistas usadas nas operações de pousos e decolagens ficam muito próximas ao mar. Há trechos em que uma delas fica a cerca de 100 metros das águas.

A aeronave parou e todos permaneceram ali, ainda aflitos e sem explicações, por pelo menos "de 10 a 15 minutos". Até o piloto fazer o comunicado e detalhar a causa inusitada do voo abortado. "Até então, a gente não estava sabendo o que tinha acontecido. Se estava tendo um incêndio, se o pneu tinha estourado, se a turbina tinha explodido. Depois de um tempo aguardando informações foi que o comandante falou que tinha sido uma colisão com um veículo", contou o procurador.

Quando esses detalhes chegaram aos passageiros (muitos já de pé no corredor das poltronas, "alguns rezando"), equipes do Corpo de Bombeiros já estavam há alguns minutos disparando jatos de espuma anti-incêndio sobre a aeronave, para conter os eventuais riscos de chamas se espalharem. O produto era visto pelas janelas - assustando uns, tranquilizando outros.

Átilla disse que o voo não havia saído lotado. Ele havia sentado próximo à região da turbina, inclusive ao lado de poltronas vazias. Admite que, na ocorrência, ali seu pensamento transitou desde tentar compreender o momento em si, com a frenagem inesperada, à lembrança dos familiares em casa.

Momento foi postado em rede social: "deu aquele alívio"

"Olhei se tinha algum sinal de fogo, mas não tinha. O coração bate rápido né? A gente pensa na família e tal. O que me veio na cabeça, de imediato foi 'será que vai dar tempo de frear antes do final da pista?'. Quando desligou o motor, deu aquele alívio". Ainda dentro da aeronave, Átilla acionou o celular, mandou vídeo para amigos no Ceará e postou a situação na rede social X. Quis tranquilizar quem buscasse por mais informações.

Pelo protocolo, nem o próprio piloto pôde deixar a cabine até a liberação pelas equipes de segurança do aeroporto. "Ficamos bem mais tempo que isso (15 minutos) dentro da aeronave", acrescentou o procurador. Dentro, choro de criança e adultos agradecendo o salvamento.

No resgate, os passageiros desceram por uma escada móvel, que foi deslocada até onde estava o avião. Uma idosa precisou ser desembarcada com o auxílio de uma maca. O procurador confirmou a situação, mas não conseguiu detalhes. 

Além de lanche e suporte, a companhia aérea ofereceu aos passageiros a opção de embarcar em novo voo, poucas horas adiante, ou ter direito a descansar em um hotel até decolagem na manhã seguinte. Átilla deixou o Galeão por volta das 2h30 e desembarcou no aeroporto Internacional de Fortaleza pouco depois das seis da manhã.

Perguntado se estava mais tranquilo, ele brincou com o episódio: "Com a graça de Deus, né? Vivo para contar a história". Até o fim da manhã desta quarta-feira, 12, o avião da Gol permanecia na pista do Galeão.

Acidente na pista do Galeão: Gol e RioGaleão destacam caso sem vítimas e Cenipa investiga o caso

Procuradas pelo O POVO, a Gol e a RioGaleão emitiram notas sobre o incidente. A concessionária RioGaleão não explicou por que a picape estava na pista no momento da decolagem. No comunicado, a empresa pontuou ter "compromisso com a segurança operacional" e que segue em colaboração com o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão do Comando da Aeronáutica que está conduzindo as investigações.

A concessionária destacou que "não houve vítimas nem feridos e todos desembarcaram com segurança". Destacou, em atualização de nota emitida mais cedo, que os dois funcionários que estavam na picape sofreram "escoriações leves" e foram liberados após atendimento médico no próprio aeroporto.

A empresa garantiu que "as operações de pouso e decolagens não foram afetadas". Por haver duas pistas disponíveis, o aeroporto teria prosseguido em atividade normal, "sem impactos nas operações".

A Gol não informou quantos passageiros e tripulantes estavam na aeronave, mas todos teriam desembarcado em segurança depois da colisão na pista. Um voo extra foi disponibilizado para quem optou por seguir viagem. Quem permaneceu no Rio recebeu acomodação, transporte e alimentação até novo voo, segundo a empresa.

A nota também disse que a companhia colabora com o Cenipa para a investigação do caso. Não foram ditas quais avarias a aeronave sofreu. A companhia aérea não negou nem quis especificar informações sobre o caso da idosa resgatada numa maca.

Especialista em direito aeronáutico diz que concessionária pode ser responsabilizada

"Do ponto de vista legal, a administradora do aeroporto, a RioGaleão, pode ser responsabilizada, sim. Por não garantir que naquele momento a pista estivesse completamente livre, o que é necessário", aponta o advogado especialista em direito aeronáutico, piloto privado e jornalista César Espíndola.

Ele considera que o incidente no Galeão na noite desta terça-feira, 11, onde um Boeing da companhia Gol bateu num veículo de manutenção durante a decolagem, é um alerta gigante sobre as falhas de segurança no aeroporto. "Graças a Deus esse piloto conseguiu abortar a decolagem evitando uma tragédia. Se tivesse sido um pouco depois, muito provavelmente esse avião teria se acidentado de forma grave".

Espíndola afirma que o episódio pode gerar sanções da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), além das exigências para reforçar os protocolos de segurança. "Além disso, quem operava o veículo lá também pode ser investigado. Para entender o que aconteceu, se foi uma falha humana ou uma falha de comunicação".

O advogado lembra que a Gol pode ter que assumir um "prejuízo enorme", desde os danos da aeronave a uma possível indenização aos passageiros. "Dependendo da apuração, a empresa pode até processar o aeroporto, em último caso, para recuperar os custos desse problema".

Espíndola acredita que as investigações do incidente, a cargo do Cenipa, devem sugerir medidas para evitar que situação semelhante se repita. Segundo ele, dependendo das conclusões, podem até surgir novas regras ou ajustes nos protocolos atuais, para reforço na segurança das operações.

"O que aconteceu mostra o quão crítico é o controle rígido do tráfego terrestre lá do Galeão. Uma falha desse tipo, sem dúvida, não pode acontecer. O resultado poderia ter sido catastrófico", acrescenta.

Veja a íntegra das notas emitidas pela Gol e concessionária RioGaleão sobre o acidente na pista do aeroporto do Rio

Comunicado do RioGaleão

O RioGaleão informa que, na noite de ontem, terça-feira (11/02), por volta das 22h, houve uma colisão entre um veículo de manutenção e uma aeronave em uma das pistas do aeroporto. Não houve vítimas, e todos os passageiros desembarcaram em segurança. Os dois funcionários que estavam no veículo tiveram escoriações leves, receberam atendimento médico no próprio aeroporto e foram liberados.

O aeroporto segue operando normalmente para pousos e decolagens, sem impactos nas operações.

A concessionária reforça seu compromisso com a segurança operacional e segue colaborando com as investigações. O caso está sob análise do Cenipa, órgão responsável pela apuração dos fatos e determinação das causas.

Comunicado da Gol

A Gol informa que, na noite desta terça-feira (11), a aeronave designada para o voo G3 1674 (Rio de Janeiro – Fortaleza) colidiu com uma viatura da administradora do Aeroporto Riogaleão, que se encontrava na pista durante o procedimento de decolagem. A decolagem foi interrompida e todos os passageiros e tripulantes desembarcaram em segurança. Um voo extra para Fortaleza foi disponibilizado para quem optou por seguir viagem. Este voo ocorreu normalmente e pousou na capital cearense às 5h56 desta quarta-feira. Aqueles que decidiram permanecer no Rio de Janeiro receberam toda assistência para acomodação, transporte e alimentação.

Tripulação e equipe seguiram os procedimentos e agiram rapidamente para garantir a segurança dos passageiros. A empresa informa, ainda, que o incidente não afetará outros voos.

A Gol reforça que a Segurança é o seu valor número 1 e está à disposição para colaborar integralmente com o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) nas investigações do ocorrido.

 

 

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