O pré-Carnaval, ontem, 16, teve um convidado já conhecido pelos foliões, embora ignorado: o Sol. É ele que acompanha o ritmo das canções na Praça da Gentilândia, no bairro Benfica, enquanto as batidas (e a bebida) fazem o público esquecer do calor.
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No meio da festividade, uma “roleta viva” atrai os curiosos. Trajada de saiote vermelho, representando a cor da loja que trabalha, a analista de marca Jessyca Alves, 25, é um destaque que rivaliza o glitter e as fantasias coloridas.
“Essa composição é o que eu já tinha em casa. Sempre eu faço isso”, diz a mulher-roleta. “A referência foi uma fantasia de palhaça, por isso estou com essa gravatinha.”
Com a promessa de brindes (inclusive óculos gratuitos), Jessyca está rodeada por um pequeno grupo de seguidores. Todos esperam, ansiosos, pela chance de testar a sorte na folia carnavalesca.
“A gente é muito presente nesses eventos aqui de Fortaleza”, revela a profissional. “A Gentilandia é próxima de uma loja que temos, então juntamos o útil ao agradável”.
Se o empreendimento parece andar lado a lado com a folia, tem quem decida curtir o dia por um motivo bem mais simples: a festa lembra que o Carnaval está batendo na porta.
A frase, inclusive, se conecta com as apostas das gêmeas Jamile e Janice Menezes para a nova trilha sonora do Carnaval: “O Verão Bateu em minha Porta”, de Ivete Sangalo.
“Pela tendência, eu acho que o que bomba mesmo são as músicas da Ivete. Por ser muito fã, acho que ela vai disparar com a melhor música do Carnaval”, afirma Jamile, enquanto a irmã concorda e balbucia alguns trechos da canção.
Há 30 anos morando no bairro Benfica, a dupla revela que não dispensa um momento para festejar e colocar uma fantasia. “Eu tenho as inspirações e ela copia”, ri Jamile, apontando para o maiô de onça combinado.
Quando é questionada sobre o Carnaval, a foliã é categórica: “Para mim é a melhor época do ano. Você pode inovar, se fantasiar, se colorir… É uma época muito legal”.
No frente do palco, de paetê azul-escuro, quem balança o corpo ao ritmo das atrações é Francy de Sousa, 60. O compromisso da professora é, irredutivelmente, com a dança: não deixa os movimentos de lado sequer para responder às perguntas da repórter, que tenta ser entendida no meio das batidas crescentes.
Não é preciso trocar muitas palavras para chegar à conclusão de que Francy é mais uma brasileira apaixonada pelo Carnaval. “Cada vez que eu venho, é uma roupa diferente. Sempre gostei daqui (da praça da Gentilândia), é o melhor lugar para dançar o pré-Carnaval”, revela.
Aos que não quiseram deixar a folia de lado, valeu até comparecer com o pé machucado, usando uma bota de proteção. “Eu sou brincante de maracatu. Hoje, inclusive, era para tocar com essa banda, mas sábado passado caí e machuquei o pé”, afirma Mariana Sousa, 36.
“Fiquei muito triste, passei a semana em casa e chorei demais. Aí hoje resolvi vim pelo menos assistir”, diz. “O Carnaval é incrível de qualquer jeito, eu amo, sou alucinada. Então, não é a mesma coisa que estar de pé, dançando e se divertindo, mas é bom também, uma experiência diferente”.
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As nuvens começaram a adquirir tons acinzentados, como se tomassem o lugar do Sol na praça da Gentilândia. Se os foliões perceberam, não pareciam preocupados com a promessa incerta de chuva.
A roleta com os prêmios, distribuídos por Jessyca, não era mais vista na multidão. Mas um pequeno “zoológico” tomou o seu lugar: um coelho, um gato, um pavão e um tigre estão no meio do Benfica. Alguns se dispersaram, mas os trajes simulados da bicharada ganharam sintonia após a explicação da publicitária Geice Magalhães, 32: são o “jogo do bicho”.
“Eu vi alguém sugerindo a ideia nas redes sociais, mas ninguém tinha produzido. Aí eu pensei: ‘poxa, podemos tentar reproduzir, porque somos um grupo grande, que topa qualquer parada’”, explica Geice.
A escolha dos animais coube à personalidade de cada integrante do grupo: “Por exemplo, a gente tem o pavão, que é a nossa amiga que adora cores, gosta de se vestir bem, sempre sabe se organizar… Focamos nas personalidades baseadas em cada animal”.
E para Geice? “Deixei escolherem a fantasia, aí o que sobrou eu fui pegando”, ri, enquanto usa uma fantasia de gato preto, incluindo os bigodes no rosto.
“Fomos abordados algumas vezes hoje para elogiar as fantasias”, acrescenta. “Quando a gente falava que era jogo do bicho, aí todo mundo ficava com uma percepção melhor e era sempre engraçada a reação”.
Contagiados pela festividade carnavalesca, até as atrações deixaram uma parte da cantoria para os foliões: “O que eu mais queria era ficar contigo, mas você deixou meu coração partido…”, canta a multidão em coro, e a celebração continua.
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