O Ceará tende a apresentar temperaturas até 4°C mais elevadas durante o início desta semana, conforme previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). De acordo com o órgão, o crescimento tem sido registrado desde domingo passado, 16, e deve se estender até esta terça-feira, 18.
Os dados foram apresentados em aviso meteorológico, emitido pelo Inmet na última sexta-feira, 14. Conforme aviso, o aumento das temperaturas começou já no domingo, 16, mais ao sul do Estado. Nesta segunda, 17, o calor chega a todo o Ceará, com maior incidência na região do Sertão Central e Inhamuns, de onde segue à sudeste para a Paraíba.
Além dos informes oficiais, o calor pôde ser sentido por moradores das cidades cearenses. Luan Victor, 25, relata que tem sentido o aumento da temperatura nos últimos dias, principalmente durante o início das tardes.
“Tenho usado ventilador e muito mais banhos em casa. A gente toma banho, aproveita o ventilador também e tenta balançar na rede para driblar o calor, [porque] quando dá meio-dia dá pra fritar até um ovo na calçada”, conta o gerente.
Naturalmente, as temperaturas tendem a subir durante os momentos de maior incidência solar, como destacado por Luan. Entretanto, nem só nos período da manhã e tarde o calor tem incomodado a população aqui no Estado.
O calor também tem tornado as noites cada vez mais difíceis até em áreas litorâneas, como Fortaleza. Para a moradora da Capital, Luiza Lima, as temperaturas mais altas prejudicam até o sono, já que são necessários alguns banhos durante a madrugada para driblar a sensação térmica elevada.
“É no banho até de madrugada. Pelo menos eu, que sou calorenta, levanto [para tomar banho]. Ontem foi um dos dias em que estava muito quente”, conta a técnica de enfermagem.
O incômodo sentido por Luiza pode ser visto também em números, já que segundo dados da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), os termômetros na Capital tiveram picos de 29.7°C durante a noite, com registros acima dos 27° mesmo durante a madrugada.
Ao contrário do que tem acontecido em outras regiões do País, o crescimento das temperaturas aqui no Ceará não está relacionado com a onda de calor gerada por uma massa de ar quente e seco, atuante em áreas do Sudeste, Sul e Nordeste.
De acordo com o meteorologista da Funceme, Vinícius Oliveira, as altas temperaturas no Ceará não podem ser consideradas anomalias, já que este é o clima comum do Estado.
“Em primeiro momento, se tu for pensar, essas temperaturas em regiões do Centro Sul do Estado e até mesmo do Litoral Norte são comuns. Todos os dias bate a casa dos 37°C, 38°C e até mesmo 39°C”, explica o meteorologista.
Essa alta de temperatura que tem ocorrido no Ceará também não se enquadra nos quesitos para classificação de onda de calor, já que conforme a Organização Mundial de Meteorologia (OMM), o termo se refere a locais que tiveram índices pelo menos 5°C acima da média mensal durante cinco dias seguidos.
Conforme Vinícius, é difícil que ocorra uma onda de calor no Ceará durante o primeiro semestre, já que tamanho aumento das temperaturas costuma ocorrer em períodos sem chuvas, e durante os meses de fevereiro a maio, a Terra da Luz se encontra em quadra chuvosa.
“As temperaturas mais altas tendem a ocorrer no segundo semestre, por vários fatores, o principal deles a ausência de chuvas, que gera mais radiação e temperaturas elevadas. O primeiro semestre é marcado pela nossa quadra chuvosa, ou seja, o aumento da nebulosidade. Consequentemente, menos radiação chega na superfície”, conclui Oliveira.
Momentos como este, de grandes picos de calor, oferecem diversos riscos à saúde, desde a pele até os vasos sanguíneos. Pensando nisso, O POVO separou algumas dicas de especialistas sobre quais os cuidados necessários para evitar problemas durante as altas temperaturas. Confira:
A exposição ao sol pode gerar problemas como manchas e queimaduras, principalmente em pessoas com predisposição clínica a esses quadros. Entre as recomendações principais está o uso do filtro solar de pelo menos 30 FPS, que deve ser reforçado a cada duas horas.
Em muitos lugares do país, a orientação é evitar o sol entre as 10 e as 16 horas, entretanto, devido à maior incidência de raios ultravioleta no Estado, esse horário de risco começa mais cedo, logo às 8h.
“Aqui, a partir de 8h-9h da manhã nós temos uma incidência muito alta, que normalmente não se tem em regiões como o Sudeste. O sol de 8 horas da manhã daqui não é igual ao de lá. Então, esse horário não seria mais de 10 às 16h. Se essa exposição puder ser evitada depois das 8h até às 16h seria o ideal”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia - Regional Ceará (SBD-CE), Guilherme Holanda.
O coração é um dos órgãos mais afetados pelas altas temperaturas. Com a maior sensação de calor, o corpo começa a suar em demasia, o que pode gerar quedas de pressão arterial, resultando em tonturas e falta de disposição.
Em alguns casos, a perda de água do corpo para o ambiente pode acarretar também em uma viscosidade maior do sangue, cenário favorável a infartos. Os exercícios físicos também são um ponto de alerta, já que podem exigir demais do coração e resultar em problemas por desgaste, somados ao calor.
“O ideal é que ok, faz super bem para a saúde fazer exercício físico. O que não dá é para fazer esse exercício em locais muito quentes, porque isso pode predispor arritmias e quedas de pressão com sintomas de tonturas, dor de cabeça, mau estar e até vômitos e desmaios”, pontua a cardiologista Bianca Lopes.
Em caso de emergências cardiovasculares, a profissional recomenda que, ao menor sinal de indisposição repentina ou fraqueza estranha no corpo, a pessoa pare de fazer o exercício e busque identificar o que está sentindo. Logo após, ficar em repouso por alguns minutos pode ajudar a normalizar o corpo, bem como ingerir água, isotônicos e líquidos nutritivos ao corpo.
Por fim, as crianças também tendem a ser afetadas pela alta das temperaturas. Com energia de sobra, os pequenos tendem a estar sempre em movimento, o que em dias muito quentes, pode resultar em suor excessivo e desidratação. Nesses casos, a principal recomendação é reforçar a presença de líquidos e frutas na alimentação, a fim de recompor a água perdida pelo corpo para o ambiente.
No caso das crianças, a atividade física continua sendo recomendada, mesmo em dias mais quentes, devido aos benefícios que os exercícios trazem para o desenvolvimento. Entretanto, estes devem sempre ser monitorados por um responsável e acompanhados de muito consumo de água, para manter níveis satisfatórios de hidratação.
Quem também pode ajudar são os banhos, tanto para aliviar o calor, quanto para hidratar. Neste momento é importante o uso de produtos que auxiliem no cuidado da pele das crianças, já que o sol também resseca a derme.
“Dependendo se a criança ficar suada, a gente pode sim dar mais banhos para a criança ficar mais tranquila e refrescada. Sempre lembrando de usar os produtos adequados para a faixa etária das crianças e hidratar bem a pele após o banho, porque o calor resseca muito a pele”, orienta a pediatra Isa Schmitt.