Entre os alvos da operação Heresia — deflagrada nessa segunda-feira, 24, com o intuito de cumprir 349 mandados de prisão preventiva — estão pessoas suspeitas de enviar uma espécie de ficha de cadastro necessária para o "batismo" na facção criminosa Guardiões do Estado (GDE).
No “cara-crachá”, como também são conhecidas essas fichas de cadastro, constam dados como a foto do “candidato”, o tempo dele “no crime”, a “quebrada” onde atua, número de Whatsapp e quem são os seus “padrinhos” — ou seja, as pessoas que estão indicando-o para integrar a facção.
Esses arquivos costumam ser enviados por meios de grupos no Whatsapp a pessoas com cargo de liderança dentro da facção, que aprovam ou não o ingresso na organização criminosa.
Outras grandes operações policiais baseadas na descoberta desses cara-crachá já haviam sido realizadas anteriormente no Ceará, a exemplo das operações Aditum I, II e III, realizadas pela Delegacia de Combate às Ações Criminosas Organizadas (Draco) em 2019 e 2020.
Em relação à operação Heresia, O POVO teve acesso a alguns dos cadastros obtidos na investigação da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Ceará (Ficco/CE).
Um deles foi atribuído a Vitoria Pereira da Rocha, de 20 anos. O arquivo a descreve como integrante “do crime” há três anos e tendo como função traficar drogas (“33”, referência ao artigo da Lei de Drogas que caracteriza o crime).
Ela foi presa na manhã de segunda no bairro Pajuçara, em Maracanaú (Região Metropolitana de Fortaleza). Em seu depoimento, Vitória fez uso do direito de permanecer em silêncio.
Já no caso de Daniel Gomes da Rocha, de 21 anos, a solicitação não era para ingressar na facção, mas para mudar o “vulgo” pelo qual ele seria conhecido dentro do bando. Seu antigo apelido seria “Irmão Sagaz” e, depois, teria passado a ser “Novo” ou “Irmão Sonata”.
O cara-crachá dele ainda informava que Daniel era da "quebrada" de Horizonte (Região Metropolitana de Fortaleza), tinha como função traficar drogas e praticar roubos e que ele estava há seis anos no crime. Além do mandado de prisão, Daniel também foi autuado em flagrante por ter sido localizado com uma moto com o chassi raspado.
Ao pesquisarem o veículo no sistema de consulta da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), os policiais que efetuaram a prisão de Daniel identificaram que a moto estava registrada como pertencente à Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública (CGD).
Em depoimento, o suspeito negou ter enviado foto para fazer parte da facção, que ele diz não integrar. Sobre a moto, Daniel disse que havia comprado-a através de uma rede social e que o antigo dono havia adquirido-a em um leilão e não concluiu a transferência para seu nome. Daniel afirmou trabalhar como mecânico.
Os demais alvos da operação não tiveram as identidades divulgadas. O inquérito, atualmente, está em segredo de Justiça. Conforme balanço divulgado no final de segunda-feira, 174 alvos da ofensiva policial haviam sido localizados.
As prisões se deram em 29 municípios do Ceará, assim como nos estados do Piauí, do Rio Grande do Norte e de Santa Catarina. Também foram cumpridos 216 mandados de busca e apreensão.
De acordo com a SSPDS, 74 mandados de prisão foram cumpridos em unidades prisionais no Ceará, enquanto as outras 99 ordens judiciais eram referentes a pessoas que estavam em liberdade.