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Alunos de escola de artes restauram esculturas sacras antigas
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Alunos de escola de artes restauram esculturas sacras antigas

A ação integra o módulo prático do curso de Conservação e Restauração de Bens Patrimoniais Móveis - Esculturas. A formação visa ensinar métodos e procedimentos básicos de conservação e restauração de bens escultóricos
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A Escola atua na conservação e restauração de bens patrimoniais (Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO)
Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO A Escola atua na conservação e restauração de bens patrimoniais

Os alunos da Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho (EAOTPS), equipamento da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE) e gerido pelo Instituto Dragão do Mar (IDM), estão atuando no restauro de imagens sacras das igrejas Nossa Senhora dos Remédios e Nossa Senhora dos Navegantes, localizadas nos bairros Benfica e Jacarecanga, respectivamente, em Fortaleza.

Entre as esculturas restauradas estão a de Santa Teresinha, de Santa Catarina Labouré, de São Francisco de Assis, de Jesus no Horto com o anjo e a de São João Batista, esta última tem cerca de um século, enquanto as demais possuem aproximadamente 50 anos.

Despercebida aos olhares apressados da população, a escola fica localizada na avenida Francisco Sá, no bairro Jacarecanga, em Fortaleza, e surgiu em 2002, com o propósito de ser um centro de restauro. Quatro anos depois, passou a ser uma escola de artes e ofícios.

Escola tem papel de trabalhar com cultura do Estado

O curso de Conservação e Restauração de Bens Patrimoniais Móveis - Esculturas, é uma das formações gratuitas oferecidas pelo equipamento. São selecionados jovens entre 16 e 29 anos, para turmas entre dez e 20 participantes.

Para além dos cursos de restauração, são oferecidas formações nos ofícios tradicionais: bordado, cerâmica e gravura.

“A escola tem um papel muito importante, que é o de trabalhar com o conserto e restauração de bens patrimoniais que estão ligados à nossa história e memória. No Nordeste nós não temos outra escola como essa”, explica ao O POVO a gestora executiva do local, Maninha Morais, 71.

A escola também está ligada à área de cultura. “A finalidade é de trabalhar nas áreas de conservação e restauração de bens patrimoniais. Isso faz com que ela tenha um papel mais importante junto aos bens culturais e patrimoniais do Ceará”, complementa.

Além da gratuidade, os alunos também contam com auxílio no deslocamento até o local e ajuda na alimentação.

Os alunos ficam sob a supervisão da restauradora e conservadora, Carolina Alves, 38: “Os alunos passam pela disciplina de educação patrimonial, a mapa de danos, prospecções e teoria do restauro. Só depois disso a gente intervém nesses bens”.

Carolina comenta que as esculturas precisam de um cuidado maior e que o estado de conservação delas já é mais comprometido, visto que algumas não passaram por nenhum outro restauro. “O que é positivo pra gente no sentido de ela não ter ter passado por nenhuma intervenção que não fosse criteriosa, né? Ou seja, por uma repintura que fizesse os elementos importantes dela serem perdidos”, explica.

A coordenadora do curso conta que realizar o trabalho com a turma é restaurador. “Porque além de capacitá-los, a gente executa um restauro de fato. E por mais que elas [as esculturas] não sejam bens protegidos, são bens que carregam memórias daquela comunidade”.

O pároco da igreja Nossa Senhora dos Remédios, Silvio Mitozo, 56, afirma que o trabalho de restauração possui um valor imensurável à igreja e à comunidade. “Imagens de grande relevância pelo período que se encontram na igreja e que de maneira afetuosa as pessoas se aproximam com afeição e piedade”.

“É uma alegria para todos e de modo particular para minha pessoa pela oportunidade de preservar bens tão preciosos”, finaliza.

“Você vê um objeto sem vida e traz um novo olhar a ele”, diz aluna do curso

Para o estudante de História e aluno do curso de restauração, João Manoel, 19, a experiência é maravilhosa. Além dos ensinamentos, ele relata ter feito muitas amizades e networking.

Animado, ele projeta o futuro: “Pretendo seguir na restauração, não como carreira principal, mas pretendo servir à sociedade. Retornar esse investimento e ser um dos meus ofícios. Pretendo ser artista e restaurador”, afirma.

Edwirges Pinheiro, 65, já atuava com restauração de papel e conta que depois da pandemia se afastou da área e gostaria de ter um novo conhecimento, por isso entrou na formação.

“Você vê uma coisa destruída, sem vida e de repente você traz um novo olhar a ele. A experiência tem sido muito proveitosa”, comenta com um sorriso no rosto.

A estudante de cinema e audiovisual, Victoria Girlen, 24, conta que passou a buscar outras áreas de atuação no campo museal: “O meu desejo de fazer esse curso vem desse encanto que aconteceu com a área de de preservação do patrimônio. Eu fiz outros cursos e agora eu estou com esse objetivo de entender os diversos suportes e ir me profissionalizando, porque essa é uma área de atuação que eu quero seguir”.

“Eu acho que falar de preservação de patrimônio em Fortaleza é colocar um dedo na ferida. Porque a gente vive numa cidade que é só olhar pra materialidade da própria cidade que tanto se modifica e já é uma coisa que a gente comumente sempre escuta alguém falando: ‘Ai, Fortaleza, que cidade é essa? Que memória você tem?’ Você olha e não vê muita coisa, não vê um centro histórico preservado aqui, por exemplo, né?”, acrescenta. 

Para ela, o trabalho é realizar um movimento contracorrente e valorizar a identidade e história regionais. “Eu me sinto uma médica da história da arte, porque tal hora você tá ali com esse objeto, como se fosse um paciente, né? Então assim, é um encanto muito grande”, finaliza.

serviço

Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho (EAOTPS)

Av. Francisco Sá, 1801, Jacarecanga - Fortaleza

Instagram:
@escolaarteseoficios.tps

Curso

As aulas iniciaram no dia 3 de fevereiro e o trabalho deverá seguir até o dia 12 de março

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