Ruthe Leide da Silva Alencar Lima, de 49 anos, ajudava a lavar o dinheiro obtido criminosamente pelo filho, Carlos Mateus da Silva Alencar, o Fiel ou Skidum, chefe da facção Comando Vermelho (CV) na região do Grande Pirambu, em Fortaleza. É o que aponta a Polícia Civil do Ceará (PC-CE), que colheu indícios de que ela “se beneficia diretamente do dinheiro obtido com a prática das condutas ilícitas da organização criminosa”.
Ruthe Leide foi presa nesse domingo, 9, enquanto visitava um outro filho seu na Unidade Prisional Elias Alves da Silva (UP-Itaitinga4), localizada na Região Metropolitana de Fortaleza. Contra ela, havia um mandado de prisão preventiva pelo crime de integrar organização criminosa.
Ruthe Leide havia sido presa temporariamente em dezembro passado no âmbito da operação Cashback. Após o término do prazo estipulado pela prisão temporária, ela foi solta.
Entre as provas levantadas contra Ruthe Leide pela Delegacia de Combate aos Crimes de Lavagem de Dinheiro (DCLD) está um diálogo dela com Carlos Mateus em que os dois falam sobre a compra de um terreno por R$ 40 mil.
O objetivo seria construir uma casa com piscina, onde ainda seriam criados “uns animais”. Em outro trecho do diálogo, Carlos Mateus pergunta se Ruthe Leide já havia gastado R$ 5 mil reais que ele havia enviado a ela. Em seguida, ele diz que enviaria mais R$ 1.500.
Em um outro diálogo ao qual a DCLD teve acesso, Carlos Mateus encaminha à mãe dele o comprovante de uma transferência feita da conta de Alexandre Xavier de Sousa para uma pessoa jurídica, cujo valor é de R$ 50.000.
“Em complemento, a quebra de sigilo bancário dos principais operadores financeiros da organização criminosa [...] também demonstrou diversas movimentações bancárias entre a investigada Ruth Leide da Silva e aqueles, destacando-se o envio de R$10.000,00 (dez mil reais) para o operador financeiro ALEXANDRE XAVIER DE SOUSA em 07/03/2024, o recebimento de R$35.600,00 (trinta e cinco mil e seiscentos) deste, além do recebimento de R$1.265,00 da investigada KAMILY DA FROTA DO NASCIMENTO, o recebimento de R$28.625,00 do investigado RENAN HERBERT, indicando ser a investigada provável beneficiária de recursos oriundos das atividades da organização criminosa”, consta em trecho do inquérito instaurado pela DCLD.
Em pedido de habeas corpus, a defesa de Ruthe Leide argumentou que não havia indícios de que a liberdade dela representasse risco à instrução criminal, à ordem pública ou à ordem econômica.
Além disso, foi citado que ela apresenta enfrenta diversos problemas de saúde e que, portanto, a prisão dela poderia agravar o seu quadro clínico, já que o sistema prisional não disporia de meios para garantir um tratamento adequado.
Como O POVO mostrou em reportagem nesta segunda-feira, 10, Carlos Mateus está refugiado no Complexo da Penha, de onde continua a emanar ordens para os integrantes do CV do Grande Pirambu. A ficha criminal dele mostra que Skidum já foi indiciado por, pelo menos, 48 homicídios.
Carlos Mateus, Alexandre Xavier de Sousa e outras três pessoas movimentaram, conforme a DCLD, R$ 106.098.283,55 em um período de cerca de dois anos.
“[...] os investigados se utilizam de diversas pessoas físicas e jurídicas nos interesses da organização criminosa, dentre as quais 69 (sessenta e nove) foram identificadas por terem transacionado valor total superior a R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) com os investigados iniciais”, consta em trecho do inquérito.
Somente Alexandre movimentou entre 1º de janeiro de 2022 e 20 de agosto de 2024, mais de R$ 68 milhões, apontou a Polícia Civil, que destacou que ele tem apenas 20 anos e não possui atividade laboral registrada.
Ao todo, 24 pessoas tiveram a prisão decretada no contexto da operação Cashback. Outros parentes de Carlos Mateus estão entre esses alvos, incluindo Renan Herbert Alencar da SIlva, irmão de Skidum.