Comunidades de Caucaia, a 16 km de Fortaleza, localizadas nas proximidades dos rios Ceará e Maranguapinho, enfrentam inundações que se repetem a cada período chuvoso. Segundo a Defesa Civil do município, as principais áreas afetadas são a Comunidade dos Tapebas e o bairro São Miguel. Nas localidades, famílias perderam móveis, eletrodomésticos e até alimentos, por causa das enchentes.
Na segunda-feira passada, 10, o prefeito de Caucaia, Naumi Amorim (PSD), decretou situação de emergência por 180 dias devido às chuvas. Segundo o gestor, quase todos os bairros da cidade sofreram danos em decorrência das precipitações.
Entre as 7h de segunda-feira, 10, e as 7h desta terça-feira, 11, Caucaia registrou um acumulado de 27,4 milímetros (mm) de chuva. No entanto, no mês, o total acumulado foi de 304 mm. Apesar das chuvas de menor intensidade desta terça, a precipitação constante desde a madrugada gerou temor nas comunidades. Assim que as primeiras chuvas fortes do ano caem, o rio Ceará sobe e invade as casas na rua das Princesas, localizada na Comunidade dos Tapebas. Conforme os moradores, a região chega a permanecer alagada por até seis meses, caso seja ano de “bom inverno".
No local, muitas casas já têm adaptações, como uma fundação elevada, na tentativa de conter as águas. No entanto, durante esta madrugada, a água subiu quase 1,50m. As marcas nas paredes são provas do desespero enfrentado pelos moradores.
“Isso já acontece desde a primeira chuva forte [do ano]. [Ontem] eu saí da minha casa, que fica mais lá embaixo, que estava toda alagada, e vim para a casa da minha mãe. Ficamos esperando a água baixar”, conta Maria Lima Gomes, 43.
“Umas 5h da manhã, vimos que a estava pior. O pessoal perdeu tudo, até os móveis. Eu perdi o único guarda-roupa que tinha. A água vem de uma vez, e sobe muito rápido”, diz a moradora.
Por volta das 11 horas, a água havia diminuído um pouco, mas várias casas ainda estavam inundadas. A equipe do O POVO utilizou uma espécie de barco, disponibilizado pelos próprios moradores, para adentrar na comunidade.
Uma das casas visitadas foi do casal Lucivaldo da Silva Pereira de Sousa, 27, e Larissa Felicio da Silva, 21. Juntos, eles têm quatro filhos, entre eles um recém-nascido. Segundo o casal, água proveniente do aumento do nível do rio adentrou a residência e danificou móveis e eletrodomésticos. Eles ainda explicam que o bebê agora está apenas com duas fraldas descartáveis restantes.
Apesar de a água ser, em sua maioria, proveniente de um rio, era possível ver muito lixo flutuando na inundação. A água turva se transformou em brincadeira para várias crianças, que estavam nuas ou parcialmente vestidas.
Relatos dos residentes indicam que, nos últimos meses, houve aumento de doenças, como micoses, tanto em crianças quanto em adultos.
A moradora Antônia Lima Bezerra explica que as inundações não costumam escoar com rapidez. “São seis meses assim direto. Todo ano é assim. Minhas filhas não estão indo pra escola por causa da água”, diz.
A comunidade depende principalmente da pesca como fonte de renda. Contudo, muitos não estão conseguindo pescar devido ao alto nível do rio. Assim, o Bolsa Família tem sido a única solução para muitas famílias.
Outro ponto com histórico de graves enchentes em Caucaia é o bairro São Miguel, nas proximidades do rio Maranguapinho, que nasce na Serra de Maranguape e desemboca no rio Ceará. No local, as vias que mais chamam atenção são as ruas Central e Verona, próximas à avenida Mister Hull.
Na última semana, por causa das fortes chuvas, a água invadiu casas do bairro, mesmo que muitas delas sejam elevadas para evitar os alagamentos. Desde então, o nível da água tem diminuído lentamente. As ruas, contudo, ainda apresentam acúmulo de água.
Francisco Eduardo Pimentel, de 76 anos, mora sozinho há 15 anos em uma casa na rua Verona. Na manhã desta terça-feira, 11, após a chuva dar uma trégua e a maior parte da água já ter escorrido, Chico, como prefere ser chamado, tentava selar alguns buracos na porta para impedir, na medida do possível, que a água voltasse a entrar.
Ele mostra a casa adaptada ao longo dos anos para “receber a chuva”: geladeira, cama e demais móveis todos elevados a, pelo menos, um metro do chão.
“Toda noite eu durmo aqui em cima”, diz ele apontando para a cama. “Eu boto uma cadeira, me apoio e subo. Dói um pouco, porque já sou de idade, mas vou indo. Faço o que posso”, diz o idoso.
Moradores relembram que, nos últimos anos, o rio Maranguapinho passou por obras executadas pelo Governo do Estado, sob a promessa de solucionar os problemas recorrentes das enchentes na região.
Em nota, a Prefeitura de Caucaia informa que dispõe de um plano operacional para prevenção de desastres, que envolve a atuação de diversas secretarias municipais com o objetivo de minimizar os impactos do período chuvoso e prestar assistência às famílias em situação de risco. Além disso, a Defesa Civil tem realizado o monitoramento contínuo das áreas de risco, incluindo Conjunto Metropolitano, São Miguel e Comunidade dos Tapebas, entre outras, segundo a gestão municipal.
"Em paralelo, a Secretaria de Patrimônio vem intensificando as ações de limpeza dos recursos hídricos para minimizar os impactos das chuvas, que neste ano têm alcançado marcas acima da média histórica no município. A Prefeitura também mantém um esforço de sensibilização das famílias em locais de maior vulnerabilidade e conta com um plano de ação preparado para oferecer abrigamento emergencial, caso necessário", encerra a nota.
O POVO entrou em contato com a Secretaria das Cidades, responsável pela obra no rio, para esclarecimentos, mas não teve retorno até o fechamento desta página.A matéria será atualizada após o retorno.
Obras
O POVO entrou em contato com a Secretaria das Cidades, responsável pela obra no rio Maranguapinho, mas não obteve retorno até o fechamento desta página