Fortaleza recebeu na tarde deste domingo, 6, a 9ª Caminhada da Conscientização sobre o Autismo. O evento ocorreu na avenida Beira Mar, e reuniu centenas de pessoas, entre crianças, familiares, ativistas e apoiadores da luta mais inclusão, respeito e visibilidade para as pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
A caminhada integra a programação do Abril Azul, mês dedicado à conscientização sobre o autismo. O evento foi promovido pela Associação Pintando SeTEAzul (APSA-CE).
LEIA MAIS | Desinformação sobre autismo no Telegram cresceu 150 vezes em seis anos
“Hoje é o nosso grito. É o momento em que a gente ganha força para seguir durante todo o ano”, declarou a presidente da APSA-CE, Keliane Chaves, que também é mãe atípica. Para ela, a caminhada é um marco simbólico, mas com efeitos duradouros: “Estamos pedindo respeito. É a partir de hoje que lutamos pelos outros 365 dias do ano.”
A presidente da associação apontou a falta de políticas públicas e o descaso no atendimento básico como barreiras enfrentadas diariamente. “Falta medicação, falta inclusão nas escolas, falta respeito na sociedade. Nossos filhos não participam de eventos”, afirmou. A Caminhada acontece desde 2016 e, segundo Keliane, o engajamento tem crescido a cada edição.
A técnica de enfermagem Patrícia Moreira Silva, 34, é mãe do pequeno Bernardo, de quatro anos. Pelo segundo ano, a família participou da caminhada. Para Patrícia, o evento é uma forma importante de dar visibilidade à causa e de reforçar a luta por mais igualdade no acesso ao cuidado.
“A acessibilidade vai além dos medicamentos e das terapias. Ela precisa estar presente em todos os aspectos da vida. É por isso que lutamos. Digo que meu filho é autista, mas toda a família se torna também, no sentido de abraçar a causa e batalhar pelos direitos dele.”
Também presente no evento estava Diana Máximo, 45, mãe da Letícia Silvério, 8. Participando pela primeira vez da caminhada, Diana conta que a luta vai além do diagnóstico. “A gente reivindica acesso às terapias, inclusive que aconteçam até em casa, para dar ainda mais suporte às mães.”
Ela também destacou a importância de olhar para o futuro. “Cada autista é único, tem suas particularidades, suas comorbidades, mas também é uma pessoa que precisa de ajuda e deve ser incluída no mercado de trabalho. Tudo o que a gente faz hoje é pensando no futuro dela. Queremos que ela trabalhe, que desenvolva as capacidades que tem”.
Maurício Joaquim Holanda, 21, morador do município de Baturité, a 98 km de Fortaleza, participou pela primeira vez da caminhada. Entre sorrisos tímidos e poucas palavras, o jovem com TEA expressou um grande sonho: “ser jornalista". Ele assiste à televisão todos os dias e sonha em, um dia, aparecer na tela.
A trajetória de Maurício não foi fácil. O diagnóstico de autismo veio apenas por volta dos 8 anos de idade. Antes disso, a única certeza que os familiares tinham era a de que “algo era diferente”.
“Foi muito difícil conseguir as terapias. Algumas conseguimos pelo SUS, outras não. Mas a maior dificuldade veio mesmo depois dos 18 anos, quando os programas governamentais já não o atendiam mais, por conta da idade”, relata.
A falta de suporte para adultos autistas motivou a fundação da Associação TEAcolhe, instituição que atende atualmente cerca de 70 pessoas entre crianças, adolescentes e adultos no município de Baturité com acompanhamento terapêutico, oficinas educativas, apoio às mães atípicas, além de atividades culturais e esportivas.
“Queremos mostrar que devem ocupar as ruas, os espaços públicos, todos os lugares como qualquer cidadão. Nossos filhos não podem ser invisíveis”, diz Francisca Vieira da Silva, presidente da Associação TEAcolhe.
Desafios
Falta de medicação, de inclusão nas escolas e de respeito na sociedade são algumas das dificuldades apontadas pelas mães atípicas