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A costura da eternidade
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A costura da eternidade

|Estilista cearense| Eliana Macêdo, ícone da moda no Estado, morreu nessa terça-feira, 15, aos 101 anos e deixa um legado de elegância, talento e amor pela arte de vestir sonhos
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Estilista Eliana Macêdo morreu aos 101 anos; profissional foi nome importante da moda cearense (Foto: Aurélio Alves)
Foto: Aurélio Alves Estilista Eliana Macêdo morreu aos 101 anos; profissional foi nome importante da moda cearense

No silêncio suave de uma vida que completou um século e um ano, a estilista cearense Eliana Macêdo deixou este mundo. Ela se foi, mas sua essência permanece viva em cada ponto de costura, que, como uma obra de arte, contou histórias de amor e esperança. Ícone da moda no Ceará, ela influenciou o setor no Estado por décadas, vestindo importantes nomes da alta sociedade. Sua trajetória foi uma verdadeira celebração de talento, dedicação e, acima de tudo, respeito ao que fazia.

Nascida em Fortaleza, Eliana aprendeu a costurar com a mãe, e isso se tornou sua brincadeira favorita na infância. Fazer roupas para sua irmã Celeste e para suas primas foi o início de uma paixão que futuramente se tornaria sua profissão.

Eliana não apenas vestiu noivas, mas as envolveu em sonhos, criando trajes que eram mais do que tecidos, mais do que rendas e bordados. Suas peças falavam de sofisticação, mas também de afeto, da história que se constrói a cada passo dado rumo ao altar.

Antes de se inserir no mercado de trabalho com suas costuras, a cearense atuou como funcionária pública na empresa de energia Light. Mesmo assim, continuava com suas criações para familiares. Aos 21 anos, percebeu que seu talento com desenhos, linhas e agulhas poderia se transformar em uma fonte de renda.

Eliana Macêdo teve seis filhos: Caetana, Inês, Celeste, Bernadete, coronel Fernando Alcântara e Elianinha. Entre seus netos estão Leonardo Alcântara, presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, e Luciana Dummar, presidente institucional e publisher do Grupo de Comunicação O POVO.

"Minha avó nunca deixou filhos, netos, bisnetos, noras, genros e agregados esquecerem o valor de se ter e se manter uma família. Entre linhas, dedais e muito trabalho, criou-nos para honrar os que vieram antes de nós e dar exemplo a quem virá depois de nós. Que a união, alegria e fé sejam nossa guiança", pontuou Luciana Dummar.

Íntegra, trabalhadora, eficiente, acolhedora, gentil e forte. Esses adjetivos definem o que a estilista cearense representou para Licínio Nunes de Miranda, historiador e neto de Eliana Macêdo.

"Eliana Porto Sampaio de Alcântara, conhecida profissionalmente como Eliana Macêdo, dedicou sua vida ao estilismo e à moda, criando vestidos de noiva por mais de oitenta anos. Falecida aos 101 anos, estabeleceu uma reputação como uma das melhores, se não a melhor, estilistas do Ceará. Foi o exemplo perfeito da mulher cearense: íntegra, trabalhadora, eficiente, acolhedora, gentil e forte".

Uma de suas características era tratar sempre com muita atenção e dedicação seus clientes, como descreve Beatriz Castro, filha da também estilista Fátima Castro. A cearense foi responsável por criar o vestido de casamento de Fátima, e com isso nasceu uma amizade entre as duas.

"Minha mãe era muito ligada à moda, e mesmo antes de trabalhar com roupas, ela já era muito interessada nesse universo. As duas foram vizinhas na rua da Assunção, no Centro da Cidade. Foi ela quem fez o vestido de casamento da minha mãe, que sempre falava com muito orgulho de ter tido o vestido de casamento feito pela Dona Eliana", destacou a empreendedora de moda Beatriz Castro.

"O vestido era um deslumbre, algo que deveria valer dez vezes mais do que podíamos pagar. E ela deu o vestido para minha irmã", relata a produtora de eventos Valéria Cavalcante, sobre o presente de casamento de Eliana Macedo para sua irmã. A época era 1988, e sua família não possuía muitos recursos para comprar um vestido de casamento, mas sua mãe era fã do trabalho de Dona Eliana e sonhava em ver a filha usando um modelo desenhado pela cearense.

Lêda Maria, colunista do O POVO, destaca a importância de Eliana para a moda cearense e como ela foi uma precursora desse movimento. E como ela era uma profissional entusiasmada pelo que fazia e pelo que brotava das suas mãos. "Falar de Eliana Macêdo Alcântara é fazer uma retrospectiva histórica do que ela fez pela moda do Ceará. Uma das maiores criadoras de moda feminina, ela não só criava, como também confeccionava, e sua paixão era para as noivas", reflete Lêda Maria.

Já a cerimonialista Alodia Guimarães destaca que sua amizade com Eliana vem de gerações. Sua mãe também era estilista, e as duas eram amigas. "Eu chamava a mãe da Dona Eliana de vovó, a Dona Nayde, que era do tempo da minha mãe. Ambas eram excelentes modistas, criativas e perfeccionistas, e realmente ficaram na história da moda no Ceará. Naturalmente, Dona Eliana seguiu os passos de sua mãe e se tornou uma renomada estilista e modista no Ceará".

"Suas criações eram impecáveis, muito lindas. Eu me sentia muito bem no ateliê dela, porque vivenciei muito o ateliê da minha mãe. Sempre que eu estava lá com a Dona Eliana, sentia-me em casa", relembra.

Após a partida de sua mãe, Carmelita Moreira Guedis, Alodia Guimarães conta que passou a usar com muito mais frequência as peças feitas por Eliana. "Ela fez história na moda do Ceará e deixou um legado para sua filha, Eliana Alcântara, que assumiu o ateliê Eliana Macêdo".

Missa de Eliana Macêdo

Quando: quarta-feira, 16, às 13h30min

Onde: Funerária Ternura (rua Padre Valdevino, 2255 - Aldeota)

Sepultamento

Quando: quarta-feira,

16, às 15 horas

Onde: Cemitério Parque da Paz (Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 4454 - Passaré)

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