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Guerra de facções gera homicídios e expulsão de moradores no Vicente Pinzón
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Guerra de facções gera homicídios e expulsão de moradores no Vicente Pinzón

Entre 10 de março e 5 de abril, sete homicídios foram registrados no Vicente Pinzón. Onda de violência está ligada ao rompimento de criminosos com a facção GDE
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POLÍCIA fez diversas incursões no Vicente Pinzón, apreendendo armas e drogas (Foto: Divulgação/SSPDS)
Foto: Divulgação/SSPDS POLÍCIA fez diversas incursões no Vicente Pinzón, apreendendo armas e drogas

O bairro Vicente Pinzón, em Fortaleza, voltou a registrar nas últimas semanas uma sequência de homicídios e tiroteios devido à disputa entre facções criminosas. O POVO apurou que a recente onda de violência está ligada ao rompimento de criminosos da comunidade da Lagoa do Coração com a facção Guardiões do Estado (GDE).

Ao passarem a se identificar como Massa ou Neutros, os faccionados deram início a um conflito que resultou, inclusive, na expulsão de moradores de suas casas, conforme documentos policiais aos quais a reportagem teve acesso.

Levantamento do O POVO aponta que, entre 10 de março e 5 de abril, sete homicídios foram registrados no Vicente Pinzón. Outra comunidade do bairro que registrou confrontos nesse período foi o Morro das Placas.

O conflito motivou diversas incursões policiais nas comunidades do bairro. Em 2 de abril, uma espingarda calibre 12, um revólver calibre .38 e uma pistola 9mm e 3,3 kg de maconha e 400 g de crack foram apreendidos pela PM na Comunidade das Placas.

Já no dia 8, também no Morro das Placas, PMs entraram em confronto com três pessoas. Um dos suspeitos, um adolescente, foi baleado pelos policiais, mas os outros dois conseguiram fugir. Na ação, foram apreendidas uma arma de fogo, munições, uma granada artesanal, além de maconha e cocaína.

Outra ocasião em que os agentes de segurança trocaram tiros com criminosos ocorreu no dia 27 de março. Conforme o depoimento dos PMs envolvidos na ocorrência, por ocasião do conflito entre as facções, eles faziam uma incursão a pé em um beco na rua da Lua quando se depararam com um homem, que começou a correr ao avistar os agentes de segurança.

Ainda de acordo com os PMs, Leonardo Wanderson Sousa Nogueira chegou a atirar três vezes contra a composição. Ele, porém, foi preso em flagrante. Um revólver calibre .38 foi apreendido com o suspeito.

“Vários integrantes das citadas facções (GDE e Massa) estão vindo de outras cidades e outros bairros para ajudar na guerra”, acrescentou um dos PMs no depoimento. Leonardo Wanderson, por sua vez, afirmou que não atirou contra o PM e que o revólver que foi apreendido estava na sua casa a pedido de um criminoso da região.

Ele disse só ter guardado a arma por medo. O suspeito foi autuado por tentativa de homicídio, mas teve a liberdade provisória concedida.

Outra prisão na rua da Lua, após tiroteio com PMs, ocorreu no dia 27 de março. O suspeito do caso foi identificado como Benedito Muniz Lima. Conforme os PMs, ele atirou três vezes contra a composição. A prisão preventiva dele foi decretada.

Conflitos em anos anteriores

“Rachas” na facção GDE que age no bairro Vicente Pinzón têm sido comuns nos últimos anos, também gerando sequência de assassinatos. O POVO registrou, ao menos, dois desses ciclos de violência. A GDE, porém, continuou a ser a facção com maior grau de influência na região.

Em abril de 2023, O POVO noticiou que, em seis dias, cinco homicídios foram registrados na região do Grande Vicente Pinzón após um embate entre dois chefes da GDE. O conflito colocava em lados opostos Daniel Júnior dos Santos Batista, conhecido como Júnior Play, e Felipe Pereira Silva, o “Cabeça”.

Este teria ordenado o assassinato daquele em janeiro de 2023, ocasião em que Júnior Play foi baleado, mas sobreviveu. Em abril, o irmão de Felipe, Vinícius Pereira Luz, foi assassinado. Quando foi preso, em agosto de 2023, em Goiás, a Polícia Civil divulgou que Felipe recebia cerca de R$ 20 mil da facção para se manter no estado.

Em outro racha, este já em 2024, integrantes até então da GDE decidiram fazer parte da facção Terceiro Comando Puro (TCP), originária do Rio de Janeiro. Júnior Play seria um deles, estando, inclusive, refugiado em uma comunidade do RJ dominada pelo TCP — conforme consta no inquérito que prendeu Patrícia de Paula de Sousa Bezerra, de 33 anos, a “Fartare”, apontada como liderança da GDE no Vicente Pinzón e rival de Daniel.

“Episódio recente que ocorreu na Favela do Buraco, localizada no Mucuripe [...]; há informes de que Júnior Play chegou a mandar armas de fogos e granadas para o pessoal do Buraco e quem tinha de repassar as armas [...] entregou as armas para pessoas erradas de dentro da facção, o que gerou um conflito interno e se instalou uma guerra entre integrantes que apoiaram o Júnior Play e outros que apoiaram a Patrícia, v. Fartare”, afirmaram os PMs à época.

Em 1º e 2 de outubro, três pessoas foram assassinadas no Vicente Pinzón por causa desse conflito. Em 30 de outubro, a morte de Maria Carla dos Santos Gonzaga também foi associada ao conflito, já que ela seria ligada a Júnior Play.

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