Pelo menos quatro mil pessoas foram presenciar o sangramento do açude Presidente Juscelino Kubitschek, o Orós, no município do mesmo nome, neste domingo, 27, um dia depois da barragem ter atingido a sua capacidade máxima. O segundo maior reservatório do Ceará é capaz de armazenar 1,94 bilhão de metros cúbicos de água. Cheio, dá vida nova e tempos de esperança ao sertão cearense. Por isso virou atração e gerou grande interesse.
O transbordamento do Orós, que aconteceu pela última vez em 2011, atraiu caravanas de outras cidades, pessoas de estados diversos e moradores locais, que eufóricos buscaram ver com os próprios olhos o despertar do gigante hídrico— há mais de uma década adormecido.
O número de visitações foi repassado pela Secretaria de Turismo do município de Orós. Conforme o titular da pasta, Luís Eduardo, uma operação foi montada para receber visitantes no local, contando com diversos órgãos de segurança.
"A movimentação turística hoje(ontem) aqui na nossa cidade está muito grande. Estamos recebendo visitantes de toda a Região Centro Sul, Região do Cariri, Região Metropolitana de Fortaleza e outros Estados", afirmou o secretário ao O POVO. Para comemorar o sangramento da barragem, a Prefeitura organizou neste domingo um show com atrações locais durante o entardecer, em um ponto com vista para o sangradouro.
A primeira festa, ainda sem palco, havia começado ainda na noite do sábado, 26, quando a barragem verteu. Pouco depois das 22 horas, imagens do açude se derramando já circulavam nas redes sociais, gravadas por moradores emocionados com o momento. Muitos acompanharam de perto a vazão e deram gritos e pulos de felicidade.
Conforme pessoas que foram ao local, nos minutos seguintes à sangria o espaço foi sendo tomado por um número maior de populares. A empolgação exalta a importância da barragem. A água do Orós alimenta a bacia hidrográfica do rio Jaguaribe e abastece cidades e comunidades rurais, sendo crucial para as atividades agrícolas e projetando novos cenários a milhares de cearenses que vivem na região.
Moradores mantinham a expectativa pelo sangramento já há alguns meses e faziam contagens regressivas. Anderson Oliveira, 29, reside em Orós e ao saber da notícia foi para a área da parede da barragem. Ele presenciou o reservatório transbordar em outra oportunidade. Atualmente trabalhando como fotógrafo, sonhava em poder registrar o novo momento histórico.
"É um sentimento de alegria muito grande. Para mim é muito significativo porque eu trabalho com isso e tinha o sonho de captar essas imagens. É uma emoção muito grande. Tanto de ver o açude sangrar (como de conseguir fotografar a vazão). Estava uma expectativa muito grande no Orós e no Brasil", descreve.
Já Arthur Alves, 24, fez da situação uma oportunidade de divulgar a cultura do Estado. O influenciador digital mora na Região do Cariri e viralizou recentemente com um vídeo bem humorado falando sobre a esperança do açude chegar aos 100%. Usou as redes sociais como diário para acompanhar esse momento.
No último sábado viajou até Orós quando soube que a sangria poderia acontecer e diz ter se encantado com o fenômeno, que pela primeira vez pôde presenciar, e também com a relação da população com as águas.
"Se trata de um momento único, encantador. Você vê a esperança no coração de cada pessoa que depende das águas do rio Jaguaribe, que dependem do açude Orós", disse o jovem. Ele segue fazendo registros do reservatório e até reforçou a rima usada como bordão: "É nós e o açude Orós", para viralizar o tema do cenário cearense renovado.
A construção do açude Orós teve início no governo de Epitácio Pessoa (1919–1922), mas foi interrompida e só retomada no mandato de Juscelino Kubitschek (1956–1961). Em 1960, fortes chuvas levaram uma parte da barragem, ainda em obras, a não resistir à força das águas, impactando diretamente cerca de 70 mil pessoas. Várias cidades da região jaguaribana ficaram alagadas.
Segundo resgate documental do O POVO, com dados da Companhia Estadual de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), o reservatório sangrou 12 vezes desde que foi inaugurado, trazendo esperanças para a população.
A capacidade de 1,94 bilhão de m³ da barragem só fica atrás do Castanhão, que comporta 6,7 bilhões de m³. Eles formam, junto aos açudes Araras (em Varjota), Banabuiú (em Banabuiú) e Figueiredo (em Alto Santo) os cinco maiores reservatórios cearenses.
Desses, o Orós é o único a sangrar até o momento. De acordo com a Cogerh, sua recarga máxima "se deu basicamente pelas boas chuvas ocorridas nas bacias hidrográficas do Alto Jaguaribe e Salgado".
"Tivemos a sangria de 11 açudes que estão inseridos nas duas bacias hidrográficas (sete açudes do Alto Jaguaribe e quatro açudes do Salgado). A sangria destes açudes acaba por canalizar água de forma direta e indireta ao Açude Orós", explicou o órgão através de nota, afirmando continuar com a rotina diária de monitoramento.
Até as 20 horas deste domingo, o Ceará contava com cerca de 55,53% da capacidade total de seus reservatórios preenchida. No geral, 49 açudes estão sangrando, 17 apresentam volume acima de 90% e 29 operam com menos de 30% da capacidade. O dado é atualizado pelo portal Hidrológico (hidro.ce.gov.br) a cada sete minutos.
Fonte: Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh)