O número de estudantes oriundos da rede pública de ensino do Ceará que foram aprovados no ensino superior cresceu 8,3%. Em 2024, 24.403 alunos conseguiram vagas em universidades públicas e privadas. São 1.872 estudantes a mais do que em 2023, quando 22.531 ingressaram na etapa. O anúncio foi feito ontem durante solenidade, no Centro de Eventos, para lançamento do programa “Enem: Chego Junto, Chego Bem”.
Depois de uma queda registrada durante a pandemia, o número voltou a crescer e superou o patamar pré-pandêmico de 21.217 aprovados em 2019. Em evento de abertura do programa Enem: Chego Junto Chego Bem, com estudantes nesta terça-feira, 29, o governador Elmano de Freitas (PT) afirmou que o resultado é o melhor da história da rede pública do Estado.
“Nós sabemos que ainda temos espaço para avançar ainda mais, para garantir que todas as escolas sejam de tempo integral, continuar a valorizar o nosso professor, continuar a qualificação e capacitação, mas é muito evidente que o caminho está correto”, disse.
Entre os 136 estudantes de escolas públicas aprovados em Medicina no ano passado está Ana Júlia Lourenço, 18. Ela ingressou no curso na Universidade Estadual do Ceará (Uece). Aluna egressa do Colégio da Polícia Militar, ela conta que todo o estudo realizado durante o ano valeu a pena.
“Vale a pena sonhar. Nós da escola pública, da periferia, podemos ocupar esse espaço da universidade, que é nosso por direito”, afirmou.
Maria Karine dos Santos Costa, 18, ex-aluna da Escola Indígena Tremembé José Cabral de Sousa, do município de Itarema, também conseguiu ingressar no curso que queria. A estudante agora faz Farmácia em uma universidade particular. “É difícil, mas quando a gente chega no objetivo é um uma sensação muito boa, um sentimento único”, contou.
Ex-aluno da escola Fábio Gomes Granjeiro, de Paraipaba, Carlos Eduardo dos Santos Sousa, 18, deu o primeiro passo para conquistar o sonho de ser professor. Ele foi aprovado em Letras/Português na Uece em 2024. “A gente sabe que é uma construção do que a gente vem fazendo durante os três anos de ensino médio, mas foi um sentimento de muita gratidão e ao mesmo tempo de reconhecimento”, explicou.
Para os estudantes que ainda vão realizar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Carlos destaca a importância do foco. “Eu sei que não é fácil a gente renunciar os dias, mas uma coisa é certa: todo o esforço e dedicação vale a pena no final.”
Ceará lança programa Enem: Chego Junto, Chego Bem 2025
A edição 2025 do programa “Enem: Chego Junto, Chego Bem”, lançado ontem busca aumentar o número de estudantes da rede pública aprovados em instituições de ensino superior através do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
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Promovida pela Secretaria da Educação do Ceará (Seduc), a iniciativa busca preparar os concludentes da rede estadual de ensino para o vestibular que será aplicado em novembro deste ano.
Assim como em anos anteriores, os estudantes do terceiro ano poderão participar de aulões durante as férias, simulados regulares e quizzes, além de receberem material didático específico para o exame nacional. “Estamos muito bem preparados. Estamos tendo bastante aulas, aulões, fazendo muito simulado, revendo fundamentos… está todo mundo sendo muito bem preparado”, pontua Kauane Cícera, 17, aluna do 3° ano da Escola Estadual Doutor César Cals, em Fortaleza.
Quem acompanha os estudantes durante todo esse ano destaca que o processo é árduo também para professores. Precisando conciliar as orientações sobre documentação, calendários, materiais necessários para a prova, apoio psicológico e demais fatores com conteúdo já ministrado em sala, os docentes veem o programa como uma oportunidade de complemento ao que foi passado na escola.
“A escola recebe como uma ajuda. Esse programa vem para somar. Traz uma grande ajuda para os nossos alunos, porque estes às vezes moram em localidades distantes e só têm aquele momento na escola. O programa traz uma grande contribuição para os professores, alunos e toda a instituição em geral”, comenta Evilma Ferreira, professora de Língua Espanhola na Escola Estadual de Educação Profissional Maria Môsa da Silva, no município de Ocara.
Ao todo, o programa é dividido em sete etapas, que vão desde a reunião dos documentos necessários para se inscrever no Enem, até as vésperas da prova, com o incentivo à participação dos alunos nos dois dias de aplicação.
Entre os principais desafios para a garantia da participação dos estudantes no Exame, está a falta de documentação básica por parte dos alunos. De acordo com o secretário executivo de Equidade, Direitos Humanos, Educação Complementar e Protagonismo Estudantil do Ceará, Helder Nogueira, quase um terço dos estudantes chega ao terceiro ano sem possuir Comprovante de Pessoa Física (CPF) ou Registro Geral (RG).
“Muitos ainda precisam. Ficamos em contato permanente com a Pefoce, Casas do Cidadão, pedindo que nossos gestores em cada escola monitorem a situação, mas normalmente de 20% a 30% dos estudantes iniciam a terceira série sem essa documentação”, explica o gestor.
Passada essa etapa de documentação, os estudantes passam pelas fases de orientação sobre a isenção e inscrição no exame, motivação, preparação, incentivo e à presença nos dois dias de prova.
A última parte acontece só após o Enem, quando os alunos recebem apoio para se inscreverem nas universidades através do Sistema integrado de Seleção Unificada (Sisu) e Programa Universidade Para Todos (Prouni).
Conforme a Seduc, de acordo com os dados referentes a 28 de abril de 2025, 99,82% dos estudantes (104.033) já estão com CPF e 93,07% com documento com foto (97.005).
"Há também uma mobilização para que o estudante obtenha seu título de eleitor, pois este é solicitado em caso de matrícula na universidade. Em 2024, 1.459 estudantes foram atendidos durante uma campanha com essa finalidade", acrescenta a secretaria, em nota.
Frente aos recentes resultados positivos na redação, outra competência exigida na prova dá sinais de defasagem no Ceará. Segundo dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), indicam que 54% dos estudantes do 3° ano na rede pública do Ceará têm aprendizado abaixo do ideal em matemática.
A matéria é uma das quatro áreas do conhecimento que compõem a prova, ao lado das Linguagens e Códigos, Ciências Exatas e Humanas. Segundo mostra o Saeb, o nível de aprendizagem dos estudantes em matemática do Ceará em 2024 foi menor que em 2019, o que aponta para um possível impacto da pandemia de Covid-19 no ensino público.
Questionada sobre as ações tomadas para recuperar essa defasagem na ciência exata, a Seduc pontuou que a disciplina é um problema nacional, mas que adota medida dentro de sua própria rede e junto aos municípios para combater o retrocesso do ensino.
“Nós temos a Maratona Cearense da Matemática, onde a lógica é premiar também a participação, para promover o gosto pela matemática. Temos o Elas Pela Matemática, para que meninas possam desenvolver projetos vinculados à aprendizagem de matemática nas escolas”, explica Nogueira, que também destaca os esforços para capacitação dos docentes.
“Com recomposição das aprendizagens, com formação de professores, com protagonismo estudantil e esse horário de preparação para o Enem que nós vamos superar esse desafio que é um desafio nacional”, conclui.
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