Mais da metade dos alunos que fizeram o 3º ano do ensino médio em 2023 no Ceará tiveram aprendizado de Matemática abaixo do básico, conforme estudo do Todos Pela Educação lançado nessa segunda-feira, 28, Dia Mundial da Educação. A taxa de 54,7% foi 5,1 pontos percentuais maior do que em 2019. O dado mostra o impacto da pandemia no ensino básico.
Com base nas notas do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2023 e equivalências com o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), o Todos pela Educação elaborou notas de corte que permitem a análise dos estudantes com aprendizado adequado e com aprendizado abaixo do básico.
A nível nacional, o patamar de aprendizagem de matemática também precisa avançar. Em 2023, 32,4% dos estudantes alcançaram aprendizagem adequada em Língua Portuguesa e só 5,2% em Matemática. Em 2019, eram 33,5% e 6,9%, respectivamente.
No Ceará, em todas as etapas da educação analisadas (5º e 9º anos do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio) houve piora nos indicadores de aprendizado abaixo do básico, tanto em Matemática quanto em Língua Portuguesa.
“Isso é uma tendência da maioria dos estados. Infelizmente, quando olhamos para 2023 comparado a 2019, grande parte dos estados teve um aumento nesse percentual dos estudantes abaixo do básico. E o Ceará também seguiu essa tendência com aumento em todas as etapas e nas duas disciplinas”, explica a gerente de Políticas Educacionais do Todos pela Educação, Manoela Miranda.
A análise mostra que embora haja sinais de recuperação, a aprendizagem dos estudantes não voltou aos patamares de 2019. As desigualdades educacionais são persistentes e, de acordo com o estudo, em alguns casos se aprofundaram. As desigualdades raciais na aprendizagem são, em 2023, maiores que em 2013.
Um dos aspectos em que o Ceará se destaca é nas taxas de aprendizado adequado do 9º ano do ensino fundamental. O Estado é o primeiro no ranking de proporção de estudantes que atingiram o aprendizado satisfatório, com 46,6% em Língua Portuguesa e 26% em matemática.
“Ambas as disciplinas tiveram um avanço, por mais que não tão grande, mas tiveram um avanço comparado a 2019, o que é importante destacar, porque poucos estados conseguiram avançar de 2019 a 2023”, destaca Manoela.
A especialista ressalta ainda que o Estado também está entre os cinco com maior percentual de aprendizagem adequada nas duas disciplinas no 5º ano.
“É um trabalho que vem sendo feito desde o início do ensino fundamental, com alfabetização, com jovens chegando com aprendizagem mais adequada também nessa segunda etapa do ensino fundamental. É claro que se olharmos, metade dos estudantes não tem aprendizagem adequada, porém, na realidade do Brasil, é um resultado bastante positivo”, afirma.
Manoela defende um conjunto de políticas estruturantes para melhorar as taxas de aprendizado no pós-pandemia.
“Políticas como recomposição da aprendizagem, formação de professores, revisão curricular, atenção às defasagens e investimento desde a alfabetização e no ensino fundamental são muito importantes, para que a gente evite que os estudantes cheguem ao ensino médio com tantas lacunas de aprendizagem”, diz
Até dificuldades nas quatro operações básicas são identificadas pelo professor Abner Marques, que ensina matemática para o 1º ano do ensino médio na Escola de Ensino Médio de Tempo Integral José Maria Pontes da Rocha, em Caucaia.
“Esses meus alunos vieram de um fundamental muito deficiente em Matemática. Do 6º ao 9º ano, precisa dessa base para ter um médio que a gente possa trabalhar normalmente. Senão a gente tem que ficar retomando assuntos”, explica.
Para não continuar com uma “bola de neve” de defasagens, o professor relata que um programa de recuperação de aprendizagens foi feito na escola em que trabalha. Uma das cinco aulas que dava na semana, em 2024, foram dedicadas ao ensino de conteúdos de séries anteriores.
Kelem Freitas, coordenadora de Acompanhamento e Desenvolvimento Escolar para Resultados de Aprendizagem da Secretaria da Educação do Estado (Seduc), explica que o Ceará adotou o programa Foco na Aprendizagem em 2024.
Com quatro eixos, a política prevê a aplicação de uma avaliação diagnóstica formativa no início do ano letivo, formação de professores de Língua Portuguesa e Matemática, distribuição de material didático estruturado e um programa de tutoria, com a contratação de docentes para apoiar o trabalho do professor de sala.
Um outro programa, chamado Mais Aprendizagem Matemática, foi implementado para dar mais suporte à disciplina com piores indicadores.
“A gente acredita que esse ano de 2025 teremos bons custos a acolher. É um processo. Tudo na educação é a curto, médio e longo prazo. Estamos trabalhando para que os resultados sejam melhores a cada ano. Não chegamos ainda ao patamar de 2019, mas estamos muito próximos a isso”, afirma.
De 17 de março a 6 de abril de 2025, o Ministério da Educação (MEC) promoveu a Escuta Nacional de Professores e Professoras que Ensinam Matemática. O objetivo é colher respostas dos professores sobre perfil profissional, demandas formativas, práticas pedagógicas, desafios para o ensino, visões sobre currículo e estratégias de avaliação. Isso deve basear políticas para melhorar o aprendizado na área.