O Ceará teve chuvas abaixo da média em 57% do território durante os meses de fevereiro, março e abril. O balanço feito pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) mostra ainda que 36,1% do Estado teve precipitações dentro da normalidade do período.
As poucas áreas que registraram chuvas acima da média do trimestre estão concentradas principalmente no Litoral e na região de Orós, no Centro-Sul, de acordo com Eduardo Sávio, presidente da Funceme.
“O que explica os aportes significativos que nós tivemos ao reservatório, que resultou em cheias e vertimento do açude”, disse. O açude Orós, segundo maior do Ceará, voltou a sangrar após 14 anos sem atingir a capacidade máxima.
A média do Estado como um todo para o período é de 518,5 milímetros (mm). Em 2025, o observado foi de 453,6 mm de fevereiro a abril. Isso corresponde a um desvio negativo de 12,5%, o que ainda é considerado dentro da média. No ano passado, o volume de chuvas foi maior, chegando a 32,9% a mais do que o esperado.
O primeiro e o segundo mês do trimestre, fevereiro e março, tiveram chuvas dentro da normalidade, sendo março o mais chuvoso. Já abril ficou 35,5% abaixo da média, com 123,1 mm. Esse foi o abril com menor média de chuvas desde 2017.
Todas as macrorregiões tiveram menos chuvas do que o esperado, mas quatro ainda ficaram dentro da média para o mês: Litoral do Pecém, Litoral de Fortaleza, Litoral Norte e Cariri.
Caucaia, no Litoral de Fortaleza, foi a cidade com maior desvio positivo relacionado à média de chuvas. O volume foi quase o dobro do esperado para o município em abril. A maior cidade da Região Metropolitana teve situação de emergência reconhecida por danos após fortes chuvas ainda em março.
Já a região do Maciço de Baturité, Sertão Central e Inhamuns, Ibiapaba e Jaguaruana ficaram abaixo da média, com esta última atingindo apenas 42,7% das chuvas esperadas para abril.
Croatá, na região da Ibiapaba, foi o município mais abaixo da média no mês, com desvio negativo de 66,4%. Era esperado 353,2 mm em média de chuvas e só foram registrados 118,7 mm.
Em Ibiapina e Viçosa do Ceará, na mesma região, e em Porteiras, no Cariri, foi observada apenas metade da média de milímetros. Ao todo, 115 municípios tiveram desvios negativos no mês.
A expectativa para maio é de ainda menos chuvas. O mês tem normal climatológica de 90,7 mm e historicamente registra menos precipitações do que os primeiros três meses da quadra chuvosa.
Desta sexta-feira, 2, até domingo, 4, a previsão é que uma nova onda de calor atinja o Estado. Os picos de temperatura devem ser maiores principalmente na região de Jaguaribe.
Chuvas do trimestre de fevereiro a abril no Ceará:
Macrorregiões (desvio de fev-abr):
Fonte: Funceme
A quadra chuvosa, que já começou com recorde de açudes sangrando, garantiu 4,33 bilhões de metros cúbicos (m³) de água para os reservatórios do Ceará até o fim de abril. Maio, último mês do período, inicia com 47 açudes em sangria e 55,44% da capacidade de reserva preenchida.
O volume aportado nos três primeiros meses da quadra de 2025, no entanto, ainda é menor do que o registrado apenas em abril de 2024, quando os reservatórios do Estado ganharam 5,27 m³ de água.
Das 12 bacias hidrográficas, oito estão em situação “muito confortável”, conforme o secretário executivo de Recursos Hídricos, Ramon Menezes.
Estão com mais de 70% da capacidade preenchida as bacias Litoral (99,8%), Coreaú (97,1%), Alto Jaguaribe (93%), Acaraú (91,5%), Metropolitana (81,4%) Serra da Ibiapaba (76,4%), Curu (71,8%) e Baixo Jaguaribe (70,7%).
A bacia do Salgado está com armazenamento de 64,1%, um nível considerado “confortável” pelo secretário. Apesar disso, a boa situação de abastecimento não é a mesma em todo o Estado.
“Nós temos duas em alerta, que é entre 30% e 50%. Embora uma delas [Médio Jaguaribe] é onde fica o Castanhão. É a que tem maior volume absoluto armazenado em termos de água”, diz Ramon.
“Temos uma bacia na situação crítica, abaixo de 30%, que é a bacia do Sertão de Crateús. Desde o ano passado vem nos preocupando e vem sendo monitorada de perto”, afirma.
O secretário enfatiza que os principais reservatórios, como o Castanhão, Orós e Araras, tem bons níveis e “dão sustentabilidade ao abastecimento das populações”.
“Especificamente a Região Metropolitana de Fortaleza está numa situação muito confortável. Isso nos permite garantir o abastecimento por dois anos ou mais, sem precisar trazer água de outras regiões”, explica.
Apesar disso, Ramon alerta ainda para o cuidado com o desperdício da água. “A população tem sempre que lembrar que a gente vive e mora em uma região semiárida e a água é um bem escasso e muito precioso”, diz.
Situação das bacias hidrográficas do Ceará (% de armazenamento)