"Mesmo eu tendo água encanada aqui na casa em que eu estou em Acarape, eu ainda lavo a louça daquele mesmo modo que eu aprendi no território", conta Ana Eugênia. O costume reflete a realidade enfrentada pelas comunidades quilombolas, que entre os desafios, precisam lidar com a falta d'água.
Dados do IBGE indicam que o acesso a canalização e saneamento básico em condições de maior precariedade é quase quatro vezes maior entre os quilombolas (9,21% em situação urbana). No caso da população residente em área urbana no País, o percentual é de 2,72%.
Ao considerar apenas os quilombolas que residem fora de territórios em situação urbana, a precariedade de acesso à água é 3,4 vezes superior (9,12%) em comparação ao da população urbana. Ana Eugênia relembra que precisava pagar R$ 200 para você comprar uma pipa d'água de 800 litros.
"A questão do saneamento é um descaso em todos os territórios. Como são as populações quilombolas? Os banheiros têm na casa porque são as próprias famílias que fazem. As fossas são cavadas, são fossas de alvenaria, cavadas no próprio território. Então, não tem [canalização]. Em relação à água, parte das comunidades tem o reservatório, que é a cisterna para o consumo humano, que é aquela que foi uma das melhores políticas", conta a pesquisadora.
No Quilombo Conceição dos Caetanos, Joélho explica que a água encanada chegou por meio de uma parceria entre a associação da comunidade com o Sistema Integrado de Saneamento Rural (Sisar). Apesar da situação ser um pouco melhor que no Sítio Veiga, de Ana Eugênia, ainda há desafios.
"Querendo ou não, ainda não é tão eficiente. A gente tem água para o que precisar, porém, às vezes, por a gente estar no território rural, não tem um atendimento tão forte. Então, às vezes queimou bomba, aí passa alguns dias para poderem vir ajeitar; aí tem algum problema na área quando tem período chuvoso, quando a água fica muito barrenta, aí tem que esperar também para ajustar", pontua.