Quem esteve na Praia de Iracema, em Fortaleza, no fim de semana, pôde presenciar uma cena rara: dois peixes-bois marinhos nadando livremente no mar. Os animais, batizados de Rutinha e Angelina, fazem parte de um projeto de reintrodução à natureza coordenado pela ONG Aquasis e pelo Projeto de Conservação do Peixe-Boi Marinho (PCCB).
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De acordo com Aquasis, juntas, as duas fêmeas percorreram mais de 300 quilômetros desde os locais de soltura até a Praia de Iracema.
Rutinha foi devolvida ao mar no dia 26 de janeiro de 2025, na Praia de Peroba, em Icapuí, no Ceará, depois de passar por um período de reabilitação no Recinto de Aclimatação da Aquasis. Já Angelina foi solta no dia 28 de agosto de 2024, na localidade de Diogo Lopes, no estado do Rio Grande do Norte.
Desde então, ambas têm sido acompanhadas por especialistas por meio de equipamentos de rastreamento: um transmissor de GPS via satélite e dispositivos de rádio telemetria, que fornecem informações em tempo real sobre o deslocamento e o comportamento das fêmeas.
Esse monitoramento é essencial para garantir que o processo de readaptação dos animais ao ambiente natural ocorra de forma segura e eficaz.
Segundo o médico veterinário Diego Ramires, técnico da ONG Aquasis, os dados transmitidos pelos equipamentos permitem que a equipe se desloque até os locais onde os animais se encontram para observá-los de perto.
“Com essas tecnologias, conseguimos acompanhar os peixes-bois após a soltura. A cada nova localização enviada, podemos avaliar como está sendo o deslocamento deles e intervir, se necessário”, afirmou.
De acordo com Aquasis, os peixes-bois são animais costeiros, o que significa que costumam nadar próximos da praia, em áreas rasas e de fácil visualização. Apesar de viverem em águas salgadas, precisam de água doce para beber, o que os torna dependentes de ambientes costeiros bem preservados, com presença de rios, manguezais e estuários.
Alimentam-se exclusivamente de vegetação aquática, como algas e capins marinhos, e são conhecidos pelo comportamento pacífico e lento. Por isso, são extremamente vulneráveis à ação humana e a acidentes com embarcações.
A presença de Rutinha e Angelina tão próximas da costa, no último sábado, despertou o interesse dos banhistas, mas também exige atenção. A ONG Aquasis reforça algumas recomendações importantes à população:
- Não toque nos animais: interferências humanas podem estressar os peixes-bois e atrapalhar seu processo de adaptação;
- Não forneça água ou alimentos
- Não mexa nos equipamentos presos ao corpo dos animais: esses dispositivos são fundamentais para o monitoramento e conservação da espécie;
- Mantenha distância segura: é importante dar espaço para que os animais sigam seu curso natural.
“Esses peixes-bois estão passando por uma fase crucial, que é a reinserção no habitat natural. Por isso, qualquer interferência humana, por mais bem-intencionada que pareça, pode atrapalhar esse processo”, explicou Diego Ramires.
Com base nos dados de monitoramento mais recentes, a expectativa da equipe técnica é que as duas fêmeas continuem seu deslocamento rumo ao litoral oeste do Ceará, com possível chegada à Praia do Cumbuco ainda neste fim de semana.
O reencontro e a movimentação conjunta das duas peixes-bois também é um fenômeno animador do ponto de vista biológico, indicando que os animais estão encontrando pares da mesma espécie e formando laços sociais, mesmo após longos períodos de reabilitação individual.