Um estudo em parceria com a Universidade Estadual do Ceará (Uece), publicado pela revista internacional "Journal of Food Composition and Analysis" na última segunda-feira, 5, revelou a presença de compostos químicos sintéticos em camarões pescados no Ceará.
Os PFAs (substâncias perfluoroalquiladas) são substancias com lenta degradação no meio ambiente, e estão relacionados ao aumento do risco de tipos de câncer em pessoas.
LEIA TAMBÉM | Uma porção de biscoito recheado pode tirar até 39 minutos de vida, aponta estudo
O objetivo principal do estudo é entender como os materiais feitos pelo homem podem ser absorvidos no corpo humano e no meio ambiente, e os danos que podem causar.
Segundos os pesquisadores, existem poucos estudos que se propõem a analisar os efeitos dos compostos na saúde humana, unindo a pesquisa do meio ambiente com aspectos da vigilância sanitária.
A pesquisa "Estudo de comparação de PFAs em camarões de fazenda e de oceano no Brasil" busca, além de analisar a qualidade do alimento bastante consumido no Estado, alertar a população para uso e descarte de materiais que contenham o composto químico. Os pesquisadores irão analisar outros alimentos presentes na mesa dos brasileiros.
O pesquisador e professor da Faculdade de Educação de Crateús (Faec/Uece), Luan Fonsêca, afirmou que nessa pesquisa "foi possível identificar a presença de nove desses compostos nas amostras, sendo dois desses derivados de PFAs reportados pela primeira vez no mundo em amostras de camarão”.
De acordo com o pesquisador, a quantidade ainda é pequena. "Não considero que seja um risco real ao consumo moderado, mas é um alerta para o futuro”, completa.
Os PFAs são compostos resistentes à água, gordura, calor e manchas e, por conta de sua estrutura química, não se degradam no meio ambiente. Estão muito presentes no nosso dia a dia, em objetos como: embalagens, utensílios antiaderentes de cozinha, roupas impermeáveis e produtos de limpeza contém a substância, e o descarte errado pode acabar levando os resíduos ao mar.
O uso e descarte inadequado de materiais que contenham PFAs, é um dos grandes problemas analisados pela pesquisa, e preocupa muitos cientistas e autoridades da saúde.
Com intuito de alertar para os danos da substância no organismo humano, os pesquisadores também visam o estímulo à criação de políticas públicas sobre a contaminação de alimentos. De acordo com o professor Luan Fonsêca, hoje não há dados sobre o nível de contaminação por esses compostos na água de consumo ou mesmo nos alimentos.
"Não há também legislação brasileira clara sobre a concentração de PFAs hoje permitidas em alimentos ou em água e, mais do que isso, nós temos poucos laboratórios com infraestrutura capaz de fazer esse tipo de análise”, pontuou.
O estudo foi desenvolvido por pesquisadores da Uece, Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Federal de Pelotas (UFPeL), e teve a colaboração da Universidade de Graz, na Áustria, do Instituto James Hutton, do Reino Unido, e da Universidade de Kwazulu-Natal, da África do Sul.
Na próxima fase, os pesquisadores irão analisar outros elementos, como água de abastecimento e fluidos, buscando rastrear a contaminação e entender a absorção no organismo humano.