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Câncer de próstata: precisamos falar sobre isso
Ciência e Saúde

Câncer de próstata: precisamos falar sobre isso

O câncer de próstata matou 17 mil homens no Brasil em 2023, uma média de 47 por dia
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Francisco Odailson era dono de uma loja de consertos. Ele faleceu em 2022 (Foto: Arquivo Pessoal de Ana Monteiro)
Foto: Arquivo Pessoal de Ana Monteiro Francisco Odailson era dono de uma loja de consertos. Ele faleceu em 2022

Francisco Odailson era dono de uma loja de consertos. Focado no trabalho, era um homem bastante ativo em sua vida. Era pai, marido, parceiro, amigo, filho, tio, neto e companheiro. Ele tinha uma vida feliz.


Com apenas 38 anos, Francisco começou a viver o que seria um dos maiores desafios de sua vida: o começo do diagnóstico de câncer de próstata. A doença é fruto de uma herança genética, presente na geração de homens da família, como pai, avô e tios, alguns já falecidos.


Tudo começou com um exame de sangue, a pedido de sua esposa Ana Monteiro, que nos conta esse relato. Ela recorda que de início Francisco não queria fazer nenhum exame e, por insistência dela, que sabia que a doença estava presente na família, acabou procurando um médico para verificar se estava tudo bem.

Foi identificado uma leve alteração no PSA, exame utilizado como check-up para diagnosticar precocemente o câncer de próstata. Não era nada a se preocupar, segundo a fala do médico. Infelizmente, com o tempo essa alteração foi aumentando com uma certa rapidez.


O primeiro sintoma foi a dificuldade de urinar. O tumor estava avançado, em questão de meses ele havia se agravado. A cirurgia foi a única saída para essa situação.


Realizada em 2010, a cirurgia salvou a vida de Francisco. Ana Monteiro, além de esposa, foi uma grande parceira durantes esses períodos. Ela conta que 10 anos após a cirurgia o tumor voltou, mas agora atacando os pulmões.


Francisco, que não foi fumante em vida, fez uma nova cirurgia em 2020, mas acabou falecendo dois anos após o procedimento, aos 55 anos; idade em que muitos homens ainda nem realizaram exames de check-up da doença.


Infelizmente, por negligência ou preconceito, os homens ainda evitam procedimentos para a investigação da doença. Isso faz com que no Brasil o câncer de próstata seja a segunda principal causa de morte por câncer entre os homens.


Segundo dados de 2023 do Instituto Nacional do Câncer (INCA), são estimados 3.120 novos casos anuais no Ceará até 2025. A Sociedade Brasileira de Urologia também informou, com base em números do Ministério da Saúde, que a doença matou 17 mil homens no Brasil ano passado, uma média de 47 por dia.

A campanha do Novembro Azul tem o objetivo de alertar os homens ara a importância de cuidar da saúde, especialmente da prevenção. Em uma sociedade machista, e que ainda torna o assunto um tabu, com até mesmo piadas soltas em rodas de conversas, o tema se torna ainda mais necessário a ser falado.


O câncer de próstata, segundo descreve o médico Gabriel Oliveira, urologista do Instituto do Câncer do Ceará, é um tipo de tumor maligno que se forma na próstata, uma glândula do sistema reprodutor masculino, localizada abaixo da bexiga e à frente do reto.

"Essa doença afeta principalmente homens com mais de 50 anos, sendo mais comum em afrodescendentes. A predisposição genética também é importante. Homens com familiares diagnosticados com câncer de próstata apresentam um risco maior", explica.

Para o especialista, a razão exata para essas disparidades não é totalmente clara, mas acredita-se que haja uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Além disso, obesidade, sedentarismo e dieta rica em gordura animal também influencia.


"Nos estágios iniciais, a doença pode ser assintomática. Com a progressão, sintomas urinários, como dificuldade para urinar, fluxo urinário fraco, e aumento da frequência urinária, podem surgir. Em estágios avançados, pode haver dor óssea, perda de peso e sintomas severos associados à metástase", destaca.


Ana Monteiro cuidou de Francisco e segue como empreendedora. Ela deixa o seu recado: "Os homens precisam acabar com esse preconceito e não deixar a doença ganhar espaço em sua vida."

 

Homens: reposição hormonal

 

As campanhas do Novembro Azul vem mudando suas características. O médico urologista Eudes Pinheiro lembra que antes havia um foco maior nas doenças da próstata, mas atualmente vêm com uma preocupação com a saúde integral. "Os homens precisam procurar o urologista de maneira sistemática todos os anos", ressalta.


Diretor técnico do Instituto Eudes Pinheiro, o médico é especializado em andrologia, nutrologia, reposição hormonal, cálculo renal, infertilidade e disfunções sexuais masculinas. Ele explica que métodos relacionados a hormônios e a vacinação podem ajudar a prevenir a doença.

"A reposição hormonal no homem faz com que ele tenha uma menor chance de desenvolver a doença, ou ter cânceres menos agressivos. Além disso, existem casos que a gente faz um bloqueio da produção hormonal, colocando ele em andropausa", reforça. Sobre as vacinações, ele afirma que embora não haja uma preventiva, existem pesquisas relacionadas ao tema.


"O que urologista costumava observar era só a questão da próstata, então a gente tenta ver esse homem em todos os seus aspectos de vida. A gente tem a vacina do HPV e diversas outras para trabalhar a prevenção de doenças no geral, podendo diagnosticar fases mais precoces e dar oportunidades para um bom tratamento", destaca.

Embora não exista uma prevenção garantida, uma dieta equilibrada, atividade física regular e a realização de exames periódicos são as principais formas de cuidados em relação à doença. O médico Eudes Pinheiro comenta ainda sobre as consequências da procurar tardia e os desafios socieconômicos para o tratamento da doença.


"A grande maioria dos homens não tem acesso ao urologista, e mesmo quem tem acaba deixando de lado ou esquecendo de ir. A solução sempre será colocar a Medicina preventiva como algo essencial na vida dos homens; essa é uma doença que existe um tratamento com até 90% de chance de cura para a maioria dos casos", termina.

Diagnóstico e cuidados

O urologista Gabriel Oliveira destaca que o diagnóstico para o câncer de próstata é feito mediante exames, como o PSA — Antígeno prostático específico — e o toque retal. Se houver suspeita, a confirmação ocorre por biópsia prostática guiada por ultrassom.

"O PSA é uma proteína produzida pela próstata. Níveis elevados podem indicar câncer de próstata, mas também outras condições, como hiperplasia ou prostatite. Já o exame de toque retal é um procedimento rápido e indolor, usado para detectar alterações na próstata", explica.


O especialista afirma que o tabu cultural associado ao toque é um obstáculo à detecção precoce, e em alguns casos, ele é essencial para o diagnóstico. Além disso, o câncer de próstata pode ser dividido em estágios que vão de localizados a metastáticos.


"Para casos de baixo risco, temos a vigilância ativa, que permite monitorar o câncer, postergando tratamentos invasivos. A taxa de sobrevivência depende do tipo e agressividade do tumor, mas é geralmente alta para tumores de baixo risco", afirma.


Os tratamentos variam entre a cirurgia, radioterapia e hormonoterapia. Já as novas abordagens incluem a cirurgia robótica, terapias focais, radioterapia guiada por imagem e imunoterapias. "A escolha do tratamento depende do estágio da doença, idade e saúde do paciente", finaliza.

 

Novas tecnologias diminuem os efeitos colaterais

Para além dos métodos tradicionais, novas abordagens menos invasivas, diminuem os efeitos colaterais do tratamento contra o câncer de próstata e já estão em circulação no mercado. Um exemplo é a cirurgia robótica, que recebe o nome de "cirurgia laparoscópica robô assistida".

"Esse método surge com o intuito de facilitar procedimentos mais complexos, permitindo ao cirurgião um melhor desempenho. Ela é uma cirurgia laparoscópica minimamente invasiva, que leva menos cortes, menos sangramento e menos dor", explica o médico Diego Capibaribe, médico urologista, especialista em cirurgia robótica.


Segundo ele, a cirurgia robótica se destaca das cirurgias convencionais pela maior estabilidade na visualização, além de ser mais segura com diversos benefícios para a recuperação do paciente.


"A cirurgia é realizada com o médico no console, controlando pinças virtuais com uma visualização em 3D. O seu principal benefício é a melhora rápida do paciente", pontua.


Paulo Gois é aposentado e realizou a cirurgia robótica em 2019."Eu tinha costume de fazer exames periódicos, pois o meu pai teve câncer de próstata e procurou se cuidar muito tardiamente. Em 2012 foi detectado uma leve alteração no meu PSA, mas nada a se preocupar. Com o tempo, o quadro foi se agravando e, em 2019, por indicação de um amigo meu, eu conheci o dr Diego e novo método de cirurgia, que acabei realizando em 2019", conta. Paulo conta que não usou nenhum medicamento e até agora não apresentou sequelas. "Meu PSA hoje é bem pequenininho", detalha.


Este tipo de procedimento ainda não é tão acessível. "O cenário caminha para facilitar esse método, alcançado todos que precisam, com preços menores em alguns planos de saúde e com a sua disponibilização no Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, no Ceará, existem quatro robôs em atividade, um deles sendo no Instituto do Câncer (único, até o momento, no Norte e Nordeste que atende pacientes do SUS), finaliza.

 

 Homens negros apresentam maior probabilidade de câncer de próstata

Vários estudos já evidenciaram que homens negros têm maior probabilidade de serem diagnosticados com câncer de próstata. Essas pesquisas indicam, inclusive, que a doença nessa população apresenta uma progressão mais agressiva.


Conforme o urologista Osei Akuamoa, os motivos por trás desse quadro estão ligados a questões de genética e biológicas, como também fatores imunohistoquímicos.


"No Brasil, embora faltem dados específicos por raça, a probabilidade de diagnóstico é 70% maior entre homens negros, e o risco de óbito é mais do que duas vezes superior ao observado em pacientes de origem caucasiana", afirma. O Dr Osei também aponta a falta de acesso a um tratamento adequado como um fator de contribuição.


"Isso resulta na sua progressão para estágios avançados, com metástases, redução significativa da qualidade de vida e aumento da mortalidade. É fundamental ampliar o acesso a serviços de saúde, promover campanhas de conscientização e implementar programas de rastreamento populacional, especialmente em comunidades vulneráveis", reforça.

 

 

Diagnóstico e cuidados

O urologista Gabriel Oliveira destaca que o diagnóstico para o câncer de próstata é feito mediante exames, como o PSA — Antígeno prostático específico — e o toque retal. Se houver suspeita, a confirmação ocorre por biópsia prostática guiada por ultrassom.

"O PSA é uma proteína produzida pela próstata. Níveis elevados podem indicar câncer de próstata, mas também outras condições, como hiperplasia ou prostatite. Já o exame de toque retal é um procedimento rápido e indolor, usado para detectar alterações na próstata", explica.

O especialista afirma que o tabu cultural associado ao toque é um obstáculo à detecção precoce, e em alguns casos, ele é essencial para o diagnóstico. Além disso, o câncer de próstata pode ser dividido em estágios que vão de localizados a metastáticos.

"Para casos de baixo risco, temos a vigilância ativa, que permite monitorar o câncer, postergando tratamentos invasivos. A taxa de sobrevivência depende do tipo e agressividade do tumor, mas é geralmente alta para tumores de baixo risco", afirma.

Os tratamentos variam entre a cirurgia, radioterapia e hormonoterapia. Já as novas abordagens incluem a cirurgia robótica, terapias focais, radioterapia guiada por imagem e imunoterapias. "A escolha do tratamento depende do estágio da doença, idade e saúde do paciente", finaliza.

Homens: reposição hormonal

As campanhas do Novembro Azul vem mudando suas características. O médico urologista Eudes Pinheiro lembra que antes havia um foco maior nas doenças da próstata, mas atualmente vêm com uma preocupação com a saúde integral. "Os homens precisam procurar o urologista de maneira sistemática todos os anos", ressalta.

Diretor técnico do Instituto Eudes Pinheiro, o médico é especializado em andrologia, nutrologia, reposição hormonal, cálculo renal, infertilidade e disfunções sexuais masculinas. Ele explica que métodos relacionados a hormônios e a vacinação podem ajudar a prevenir a doença.

"A reposição hormonal no homem faz com que ele tenha uma menor chance de desenvolver a doença, ou ter cânceres menos agressivos. Além disso, existem casos que a gente faz um bloqueio da produção hormonal, colocando ele em andropausa", reforça. Sobre as vacinações, ele afirma que embora não haja uma preventiva, existem pesquisas relacionadas ao tema.

"O que urologista costumava observar era só a questão da próstata, então a gente tenta ver esse homem em todos os seus aspectos de vida. A gente tem a vacina do HPV e diversas outras para trabalhar a prevenção de doenças no geral, podendo diagnosticar fases mais precoces e dar oportunidades para um bom tratamento", destaca.

Embora não exista uma prevenção garantida, uma dieta equilibrada, atividade física regular e a realização de exames periódicos são as principais formas de cuidados em relação à doença. O médico Eudes Pinheiro comenta ainda sobre as consequências da procurar tardia e os desafios socieconômicos para o tratamento da doença.

"A grande maioria dos homens não tem acesso ao urologista, e mesmo quem tem acaba deixando de lado ou esquecendo de ir. A solução sempre será colocar a Medicina preventiva como algo essencial na vida dos homens; essa é uma doença que existe um tratamento com até 90% de chance de cura para a maioria dos casos", termina. 

A questão da raça

Vários estudos já evidenciaram que homens negros têm maior probabilidade de serem diagnosticados com câncer de próstata. Essas pesquisas indicam, inclusive, que a doença nessa população apresenta uma progressão mais agressiva.

Conforme o urologista Dr. Osei Akuamoa, os motivos por trás desse quadro está ligado a questões de genética e biológicas, ligados especialmente a fatores imunohistoquímicos.

“No Brasil, embora faltem dados específicos por raça, a probabilidade de diagnóstico é 70% maior entre homens negros, e o risco de óbito é mais do que duas vezes superior ao observado em pacientes de origem caucasiana”, afirma. O Dr Osei também aponta a falta de acesso a um tratamento adequado como um fator de contribuição.

“Isso resulta na sua progressão para estágios avançados, com metástases, redução significativa da qualidade de vida e aumento da mortalidade. É fundamental ampliar o acesso a serviços de saúde, promover campanhas de conscientização e implementar programas de rastreamento populacional, especialmente em comunidades vulneráveis”, aclara.

 

Novas tecnologias

Para além dos métodos tradicionais de tratamento, novas abordagens menos invasivas, diminuindo os efeitos colaterais do tratamento contra o câncer de próstata, já estão em circulação no mercado. É como exemplo a cirurgia robótica, que recebe o nome de “cirurgia laparoscópica robô assistida”.

“Esse método surge com o intuito de facilitar procedimentos mais complexos e assim permiti que o cirurgião tenha uma melhor desempenho. Ela é uma cirurgia laparoscópica minimamente invasiva, que leva menos cortes, menos sangramento e menos dor”, explica Dr. Diego Capibaribe, médico urologista, especialista em cirurgia robótica.

Segundo ele, a cirurgia robótica se destaca das cirurgias convencionais pela maior estabilidade na visualização, além de ser mais segura com diversos benefícios para a recuperação do paciente.

“A cirurgia é realizada com o cirurgião no console, controlando pinças virtuais com uma visualização em 3D. O seu principal benefício é a melhora rápida do paciente”, pontua.

Paulo Gois é aposentado e realizou a cirurgia robótica com o Dr Diego em 2019. Pai de duas filhas e avô de dois netos, o homem de 65 anos, que exala gratidão pela vida, relembra um pouco soube a sua trajetória.

“Eu já tinha costume de fazer exames periodicamente, pois o meu pai teve câncer de próstata e procurou se cuidar muito tarde. Em 2012 foi detectado uma leve alteração no meu PSA, mas nada a se preocupar. Com o tempo o quadro foi se agravando e em 2019, por indicação de um amigo meu, eu conheci o dr Diego e novo método de cirurgia, que acabei realizando em 2019”, conta.

Ele recorda que por não conhecer a nova tecnologia, ele acabou ficando muito nervoso no dia da cirurgia, mas que, além de estar acompanhado pela família e amigos, a equipe médica tornou o ambiente totalmente agradável, passando um ar de confiança e positividade para a realização do procedimento.

“Eu não usei nenhum medicamento e até hoje não tive nenhuma sequela, incontinência, impotência, dor, não tive nada. Meu PSA hoje é bem pequenininho”, detalha. Hoje, com 65 anos, Paulo Gois segue fazendo acompanhamento e reconhece como o apoio das pessoas ao seu redor foi importante para superar essa fase.

“Tenho um grupo com alguns amigos que passaram pelo mesmo processo. A gente troca informações e acompanha um ao outro, é sobre dar forças. Busquem sempre o apoio do médico, até para evitar que seja tarde demais. Eu dei sorte, e eu quase demorei para buscar ajuda. É importante prevenir e não ter esse preconceito acerca do assunto. É sobre não esquecer da vida e da saúde”, conclui.

Dr. Diego comenta que apesar do acesso a esse procedimento ainda ter um valor não tão acessível, o cenário hoje está se caminhando para facilitar que esse método seja alcançado por todos que precisam, com preços menores em alguns planos de saúde e sua disponibilização no Sistema Único de Saúde (SUS).

“No Ceará temos quatro robôs em atividade do momento, um deles sendo no Instituto do Câncer, único do Norte e Nordeste que atende pacientes do SUS no momento. Muito em breve outras tecnólogas vão chegar, e a depender da legislação sobre o assunto, o cirurgião pode estar em São Paulo realizando um procedimento em um paciente em Fortaleza, e vice-versa”, finaliza.

 

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