O Ministério da Saúde (MS) busca implementar a vacina Abrysvo contra o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) para idosos e bebês (ainda no ventre materno). A vacina pode ser disponibilizada através do Sistema Único de Saúde (SUS); mas para isso a população terá que se manifestar. O portal do Governo Brasileiro está solicitando a opinião da sociedade a respeito da incorporação do produto desenvolvido pela Pfizer. As pessoas podem se manifestar até hoje, 9 de dezembro.
ENTENDA MAIS | Reportagem especial: vacinação no Brasil
O imunizante foi aprovado em abril deste ano pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a prevenção das doenças respiratórias provocadas pelo agente causador de infecções respiratórias graves em crianças pequenas, como bronquiolite e pneumonia. Assim, por ser altamente contagioso, todos os bebês precisam da dose de proteção. Conforme a marca, os anticorpos seguem da circulação materna para a fetal, via placenta.
Desta forma, por meio da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), a nova vacina poderá ser incluída no Calendário Nacional de Vacinação da Gestante, pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), com aplicação de dose única entre a 32º semana e 36º da gestação, de modo que os bebês já nasçam imunes. Por sua vez, a vacina é inativada e não contém o vírus vivo e é incapaz de causar a doença.
No seminário sediado em São Paulo pela Pfizer, “Vacinação na gravidez: o que as gestantes brasileiras pensam sobre imunização materna”, foi divulgado que praticamente todas as crianças serão infectadas com VSR até os 2 anos de idade. Como comprovação apresentada, 1 em cada 5 crianças vai precisar de atendimento ambulatorial até essa idade e 1 em cada 50 bebês serão hospitalizados dentro do primeiro ano de vida. Segundo a equipe responsável, 79% são neonatos previamente saudáveis.
A vacina já encontra-se disponível desde setembro deste ano, nos centros e clínicas de vacinação particulares, para mulheres que se enquadram na indicação aprovada no Brasil (das semanas 24 a 36), como também idosos.
A partir do processo de precificação junto à Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed), o preço de fábrica de uma dose foi fixado em R$ 1.201,24, enquanto o preço máximo ao consumidor é de R$ 1.600,42.
De acordo com a Pfizer, o VSR é responsável por até 40% das pneumonias e 75% dos quadros de bronquiolite nos menores de 2 anos de idade – a doença é uma inflamação aguda das ramificações que conduzem o ar para dentro dos pulmões, podendo causar internação em casos graves.
Globalmente, as infecções pelo vírus constituem uma das principais causas de morte em bebês. Está associado a surtos em ambientes hospitalares, sobretudo em unidades neonatais, com elevada morbimortalidade. Estima-se que seja responsável por 66 mil a 199 mil mortes por ano em menores de 5 anos no mundo. As informações são da empresa farmacêutica.
“Nesse cenário difícil, a chegada da Abrysvo representa um grande marco, tanto para o Brasil como para o mundo, reforçando o compromisso de inovar para oferecer soluções eficazes e seguras que respondam aos grandes desafios de saúde do nosso tempo”, diz a diretora médica da Pfizer Brasil e ginecologista Adriana Ribeiro.
Segundo a desenvolvedora, no estudo de fase 3 para a indicação materno-fetal, a vacina se mostrou capaz de prevenir 82% das formas graves em crianças de até 3 meses de idade, porcentagem que se mantém elevada, em 69%, para bebês até os 6 meses.
“O desenvolvimento de vacinas para gestantes é considerado prioritário pela Organização Mundial de Saúde (OMS), podendo reduzir as taxas de mortalidade infantil, aliviar a sobrecarga hospitalar e evitar o forte impacto das doenças para as famílias”, reforça Adriana.
Na América Latina, a Argentina e o Uruguai já dispõem do imunizante em suas redes públicas de saúde. Neste mês, foi anunciada a assinatura de um acordo internacional com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) para que a vacina seja oferecida a Estados membros da entidade por meio de seu Fundo Rotativo para Acesso a Vacinas.
“Estamos orgulhosos de ver um assunto tão importante, como o enfrentamento do VSR, ocupar o centro das discussões de saúde pública no Brasil. Continuaremos a fazer todos os esforços para que a Abrysvo possa chegar ao maior número possível de pessoas”, diz Camila Alves, diretora de Primary Care da Pfizer Brasil.
Em entrevista exclusiva ao O POVO, Adriana Ribeiro disse que a poluição pode estar relacionada com o aumento de doenças respiratórias no geral, quando questionada sobre. “A exposição de poluentes do ar aumenta o risco de infecções nas vias respiratórias, tanto nas vias respiratórias superiores, nariz, boca, garganta, quanto nas inferiores”, explica.
Segundo ela, a pneumonia, desencadeada pelo VSR, é a principal causa de morte em mais jovens e entre os idosos. A cada minuto, cerca de 2 crianças com menos de 5 anos morrem por pneumonia, aponta a médica. “Ou seja, durante a nossa entrevista, algumas já morreram por conta disso”, antecipa.
A sentença reflete-se na fala de Melissa Palmieri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações de São Paulo (SBIm Regional SP), de que “nada em bebê é leve”, durante o seminário.
A ginecologista explica que a pneumonia pode ser causada por diferentes agentes classificados em dois tipos principais: viral, que são causados por vírus, e bacteriano, que são causados por bactérias. Os principais produtores da pneumonia bacteriana incluem algumas bactérias, como Streptococcus pneumoniae (Pneumococo), Mycoplasma pneumoniae e o Haemophilus influenzae.
Adriana ilustra o entendimento da bronquiolite como uma árvore: “Se formos pensar que o pulmão é uma árvore, vamos sair dos galhos grandes, que são os brônquios e iremos para os menores, os bronquíolos – onde acontece a infecção”, elucida.
Conforme o painel promovido pela Pfizer, o VSR, geralmente, ocorre durante os meses de outono e de inverno no País. Paralelamente, no Nordeste, costuma acontecer de março a julho. Entretanto, a diretora médica pondera que a circulação do vírus não é restrita a esse período.
“A sazonalidade muda de região para região e os surtos podem suceder em qualquer estação. O Brasil é um país continental. Os cuidados devem permanecer e existir durante todo o ano”, defende.
De acordo com o seminário, nenhum tratamento é efetivo, infelizmente. Inclusive, servindo apenas como suporte, além de ser controverso. As reinfecções são comuns, afirma a Pfizer. Os casos de VSR têm uma carga altamente contagiosa em ambientes ambulatoriais e hospitalares.
Em pergunta feita pelo O POVO, durante o evento em São Paulo, acerca do aumento de internações em época de fim de ano, de forma geral, e o impacto da situação da sobrecarga do serviço de saúde, a resposta foi de que: “O Brasil é um país de desafios. O vírus sincicial respiratório não difere disso”.
VEJA MAIS | Fortaleza amplia locais de vacinação contra Covid-19 para crianças de até 4 anos e grupos prioritários
Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza (SMS) atesta que os dados abaixo de internação pela CID J12 a J18 (pneumonias) e CID J21 (bronquiolite) contemplam os diversos tipos de pneumonia.
Em crianças de 0 a 12 anos:
2023 - 7.352 internações
2024 (jan a set) - 3.672 internações
Em idosos a partir de 60 anos:
2023 - 1.532 internações
2024 (jan a set) - 1.017 internações
Ademais, os números a seguir foram extraídos do sistema DataSus, por meio do filtro: CID J12.1 - pneumonia derivado de VRS e CID J21.0- bronquiolite aguda derivado de VRS.
Em crianças de 0 a 12 anos:
2023 - 930 internações
2024 (jan a set) - 692 internações.
A SMS informa que entre os idosos não constam internações com a classificação. Por outro lado, adverte que pode ter acontecido, mediante cadastros de outras CIDs, possivelmente.
A consulta pública é um mecanismo de participação social e de caráter consultivo que busca promover o diálogo entre a administração pública, o poder público e os cidadãos. A ideia é ampliar a voz da população nos processos de incorporação, ofertas de medicamentos e vacinas no SUS. Logo, qualquer pessoa pode participar.
Para participar, é preciso preencher um formulário na página da Conitec dentro do site do Ministério da Saúde. No caso da Abrysvo, a consulta pública é a de número 95/2024, disponível por meio do seguinte link: Governo Federal - Participa + Brasil - Consulta Pública Conitec/SECTICS nº 95/2024 - Vacina VSR A e B (recombinante) para a prevenção de DTRI e de DTRI grave causada por VSR em bebês por imunização ativa em gestantes.