Integrante da banda Forró 100 Preconceito, um grupo musical formado por pacientes do CAPS Geral do Eusébio, Cícero Albério, de 45 anos, é vocalista e instrumentista.
Desde criança, o diagnóstico de epilepsia acompanha a sua trajetória. Ele conta que foi vítima de muito preconceito e bullying. Na escola, chegou a ouvir de uma colega de sala a seguinte pergunta: "Você vai querer conversar com esse doido? Isso é uma aberração, vive desmaiando na sala".
Esse e diversos outros episódios vividos ao longo da vida lhe causaram muitas consequências, como depressão, isolamento social e dificuldade de interação. Já adulto, ele passou por uma cirurgia na cabeça para corrigir um problema de infância: um coágulo sanguíneo no nariz.
Foi durante o pós-operatório que ele conheceu o CAPS, lugar que se tornaria um dos seus preferidos. "Fui muito acolhido desde o começo, fiz amigos, aprendi a me comunicar, saí do isolamento e não deixei que a doença me definisse", conta.
No CAPS, Cícero desenvolveu diversas habilidades, e uma delas foi a de se tornar músico. A banda Forró 100 Preconceito, cujo nome já transmite uma mensagem clara e direta, surgiu em 2009 e, até hoje, leva alegria e animação aonde quer que vá.
"Antes eu ficava isolado no meu quarto e não queria conversar com ninguém; depois, comecei a viajar e interagir. No começo, tinha muita vergonha e medo de ter uma crise durante a apresentação, mas com o tempo fui me soltando", relembra.
Adriano Santos, de 32 anos, Euclides Marques, de 42, Eudes Rios, de 71, Raimundo Nonato, de 49, e Anthony Levy, de 19, também integram a banda, cada um com suas próprias dificuldades e experiências semelhantes em relação ao preconceito.
O pedagogo e funcionário do CAPS, Sandro Freitas, de 53 anos, é o responsável pela banda. Ensaios e apresentações são rotinas frequentes na vida dos integrantes. "Eles dão um show, vão lá e fazem acontecer", afirma.
Para Imaculada Mendonça, coordenadora do CAPS, a inserção da cultura na vida dos pacientes é parte fundamental do tratamento, fortalecendo o elo de acolhimento e pertencimento.
"A gente devolve o sentimento de possibilidade de superar a doença. Com o Cícero, ele descobriu que gostava de música, de tocar, de cantar; é a inclusão pela música. O forró aqui é o cartão postal do nosso trabalho de reabilitação psicossocial", explica.
Segundo ela, esse trabalho serve como combate direto ao preconceito social, evitando que o paciente seja definido por um diagnóstico. "Temos também dança, poesia, teatro, é um palco para eles mostrarem socialmente o que sabem fazer, mostrando que não são pessoas incapacitadas", finaliza.
Há seis anos, Cícero não sofre com convulsões, e as crises de ausência tiveram sua frequência reduzida, além de ele seguir um tratamento adequado com medicamentos.