Discussões sobre saúde mental e problemas emocionais vêm ganhando cada vez mais espaço e visibilidade na busca pelo autocuidado. No entanto, ainda há um questionamento em aberto, pouco comentado: a saúde mental e emocional das mães.
A maternidade é uma descoberta diária e única na vida de cada mulher, muitas vezes vivida sozinha, sem apoio e rodeada de críticas. Por esse motivo, discussões coletivas sobre acolhimento psicológico e cuidados com a saúde mental das mães tornam-se necessárias.
"Por muito tempo, a maternidade foi vista como algo instintivo, como se toda mulher estivesse naturalmente apta a ter filhos — sem que fosse necessário considerar a imensidão de mudanças físicas, emocionais, sociais, ocupacionais e relacionais que esse processo envolve", explica a psicóloga obstétrica Milena Bonfim.
Bonfim pontua que a gestação e o nascimento causam inúmeras transformações internas e externas, tanto na vida da mulher quanto na de seu parceiro(a). "Ignorar esses aspectos é negligenciar a saúde e a qualidade de vida de toda a família envolvida na chegada de um novo membro ao sistema familiar", esclarece.
A psicóloga Camilla Alves, do Instituto Matrioska, fala que a sociedade ainda tende a romantizar a maternidade, principalmente com as conhecidas frases de efeito: "nasce um filho, nasce uma mãe" ou "ser mãe é padecer no paraíso".
"O amor materno, enquanto sentimento, é construído como os demais sentimentos humanos; é uma construção nas relações e é atravessado por condições sociais, econômicas e culturais. E aí encontramos um cenário vasto de mulheres que lidam com a maternidade de maneiras muito diversas, e muitas delas com muito sofrimento", comenta.
Por esse motivo, a bandeira da campanha do mês de maio é furta-cor. A Mobilização Nacional pela Saúde Mental Materna acontece no Brasil desde 2021, com o intuito de aumentar a consciência coletiva sobre os cuidados com a saúde mental das mães. O objetivo da campanha é dar visibilidade ao sofrimento psíquico enfrentado por muitas mães, o que ainda é pouco reconhecido — e muitas vezes silenciado.
"Nossos maiores objetivos são levar conscientização e informação à população sobre saúde mental materna e todos os eventos possíveis que podem acometer uma gestante ou uma puérpera durante o ciclo gravídico-puerperal. Nós também temos o objetivo de estimular a construção de políticas públicas em torno da saúde mental de gestantes e puérperas", detalha Camilla.
"Essas mulheres precisam ser mais vistas e mais cuidadas, porque cuidar da saúde mental materna é cuidar da saúde de bebês, é cuidar da saúde da família, do desenvolvimento infantil, e, com isso, é semente para a construção de uma sociedade mais empática, mais saudável, onde as pessoas vivam com mais direitos assegurados", complementa Camilla.